O presidente dos EUA, Donald Trump (Andrew Harnik/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 31 de março de 2025 às 15h43.
Última atualização em 31 de março de 2025 às 15h45.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, promete anunciar nesta quarta-feira, 2 de abril, um grande pacote de tarifas de importação, em um evento apelidado de "Liberation Day", ou Dia da Libertação.
A expectativa tem afetado os mercados neste começo de semana, pelo temor de que possa gerar inflação e aumentar o risco de uma recessão no país.
As medidas poderão afetar todos os países e produtos importados pelo país, mas como elas vão funcionar de fato ainda é um mistério. Trump promete agir de forma firme, mas em outras ocasiões suspendeu ou adiou tarifas recém-implantadas após negociações com outros países.
Veja a seguir uma série de respostas sobre o tema:
Trump anunciou, em 13 de fevereiro, que iria taxar, de forma recíproca, outros países que impõem tarifas de importação aos produtos americanos. De maneira simples: se o Brasil impõe tarifa de, digamos 10%, sobre um motor que vem dos EUA para o Brasil, os americanos também vão cobrar 10% de motores enviados do Brasil aos EUA.
Ele encomendou estudos sobre o tema aos seus subordinados e disse que anunciaria as novas taxas no dia 2 de abril.
Ainda não se sabe. Trump disse que elas serão anunciadas em 2 de abril. A Casa Branca deverá fazer um grande evento, que está sendo chamado de Liberation Day (dia da libertação). Em outros anúncios, as tarifas passaram a valer em intervalos variados, entre alguns dias e um mês.
A lista ainda não foi divulgada. No domingo, Trump disse que todos os países que exportam aos EUA serão atingidos, mas antes já sinalizou que os países com maiores superávits comerciais com os americanos seriam taxados de forma mais dura.
A ação deverá afetar o comércio com o Brasil. Com a medida, os EUA passarão a impor taxas sobre países que cobram impostos de importação sobre produtos americanos.
Em 2024, o Brasil exportou US$ 40 bilhões em produtos aos Estados Unidos. Os principais itens exportados pelo Brasil para os EUA no ano passado foram óleos brutos de petróleo, produtos semi-acabados de ferro ou aço, aeronaves e suas partes e café não-torrado.
Em um texto divulgado para justificar o plano, em fevereiro, a Casa Branca citou o etanol do Brasil. "A tarifa dos EUA sobre o etanol é de apenas 2,5%. No entanto, o Brasil cobra uma tarifa de 18% sobre as exportações de etanol dos EUA. Como resultado, em 2024, os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, enquanto exportaram apenas US$ 52 milhões em etanol para o Brasil".
O Brasil cobra impostos e taxas variadas, a depender do produto e da origem. Como regra geral, o país impõe um imposto de importação (II), baseado na TEC (Tarifa Externa Comum do Mercosul), cuja alíquota varia de 0 a 20%.
A TEC não é aplicada a produtos tratados por outros acordos e resoluções, como veículos automotivos, autopeças, brinquedos e de informática. Além disso, os produtos podem ser sujeitos a IPI, PIS, Cofins e medidas compensatórias.
Sim. Trump tem usado as tarifas para forçar os países a fazerem concessões. Ele adiou a aplicação de taxas ao Canadá e ao México depois que os governos locais tomaram medidas para endurecer a fiscalização nas fronteiras, por exemplo.
Trump tem dito que outros países têm se aproveitado do cenário atual para tirar vantagem dos Estados Unidos. Ele diz que as tarifas vão mudar isso e reduzir o déficit comercial que o país tem com o exterior.
Ele também defende que as tarifas farão mais empresas e indústrias passarem a produzir nos EUA, o que aumentaria o volume de empregos no país. Além disso, o republicano espera que as novas taxas ajudem a aumentar a arrecadação do governo.
Há uma série de dificuldades. Primeiro, é comum que cada tipo de produto tenha uma taxa diferente, o que gera listas de milhares de itens a serem taxados de forma individual.
Além disso, há diversos tratados internacionais, acordos setoriais e outras políticas que dão isenções de tarifas e também precisam ser consideradas nas contas.
Trump ainda quer que sejam levados em conta outros pontos além de tarifas de importação, como impostos locais (como o ICMS brasileiro), que encarecem itens americanos, além de eventuais estratégias de desvalorização cambial e de desrespeito a direitos trabalhistas que podem fazer itens importados para os EUA ficarem mais baratos.
Por outro lado, empresas americanas dependem de peças e suprimentos do exterior. Tarifas implantadas de modo súbito devem encarecer itens essenciais e gerar alta de preços, o que afetaria produtores e consumidores americanos.
Países que exportam para os Estados Unidos terão de pagar taxas extras, o que poderá reduzir as transações para os EUA. Como opções, eles poderão tentar direcionar os produtos a outros países, absorver o valor das tarifas ou repassá-los aos consumidores americanos, o que aumentará a inflação.
Como as tarifas recíprocas ainda não foram detalhadas, não é possível estimar os impactos com precisão. As estimativas do Laboratório Orçamentário da Universidade de Yale projetam um aumento de 5% para o Canadá, 16% para o México, 17% para a Índia, quase 19% para França e Alemanha, e 13% para a China, que, no entanto, já foi particularmente penalizada.
Em relação a outras tarifas já anunciadas, como as impostas contra China, Canadá e México, a Tax Foundation estima que as medidas deverão reduzir o PIB americano em 0,4%.
Já o banco Goldman Sachs avaliou, em relatório, que as tarifas de Trump aumentarão o risco de que os EUA tenham uma recessão.
Ainda não se sabe qual será a abordagem de Trump. Há dúvidas se ele buscará limitar as tarifas a um grupo de países com maior déficit ou se elas serão aplicadas a todos. Outra questão é qual será o tamanho da cobrança e se haverá taxas diferenciadas por categoria de produto ou uma taxa geral por país.
Os gastos extras com as taxas serão provavelmente repassados aos consumidores. Com isso, deve haver impacto na inflação, apontam analistas. Há, ainda, o risco de ruptura em cadeias de suprimentos, como a falta de peças e de produtos, o que encareceria ainda mais as mercadorias.
Um terceiro possível efeito é que, sem concorrência do exterior, fabricantes americanos poderão cobrar mais caro por seus produtos no mercado americano.