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'Temos vagas': por que há tantos cartazes nas ruas de Buenos Aires?

Área turística da cidade busca vendedores, garçons e auxiliares, entre outras posições

Anúncio de vagas em comércio de Buenos Aires (Rafael Balago/Exame)

Anúncio de vagas em comércio de Buenos Aires (Rafael Balago/Exame)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 31 de outubro de 2025 às 06h01.

Buenos Aires - Turistas mais atentos que passeiam pela rua Florida, no centro de Buenos Aires, notam um pequeno aviso afixado nos vidros de várias lojas: "procuram-se empregados".

O anúncio está em vários tipos de comércio, como lojas de roupas, de suvenires e na rede Open 25 hrs, que vende doces, bebidas e muitos itens. Em um restaurante próximo, na avenida Corrientes, há uma lista de vagas para ajudante de cozinha, atendente no bar e garçonete.

"A questão é que estas vagas não pagam salários altos e exigem horários de trabalho difíceis", conta Marcos, que trabalha em uma loja de acessórios para celulares, ao lado de um hotel.

As vagas de vendedores na rua pagam em torno de 900 mil pesos mensais (R$ 3.380 na cotação atual), quase 3 salários mínimos argentinos.

Dados do Indec, órgão de estatísticas do governo argentino, apontam que, em setembro, era preciso ter ao menos 936.000 pesos por mês para manter uma casa com três pessoas e atender às suas necessidades básicas de alimentação, saúde e transporte.

"Com este salário é muito difícil pagar as contas e morar por aqui. Assim, é preciso gastar muito tempo no transporte", diz Marcos.

Assim, conta ele, é comum que estas vagas acabem ocupadas por estrangeiros recém-chegados, em busca de experiência, que ficam por pouco tempo e logo saem para buscar outras opções melhores.

Marcos conta que ele também veio de fora: é venezuelano e chegou ao país em 2019. Naquele ano, a cotação chegou a 62 pesos por dólar. Hoje está no patamar de 1.500.

Para ele, os argentinos reclamam muito da economia, mas seguem consumindo. "Ouço muita gente falando que a economia está ruim, mas estão com um iPhone novo no bolso", comenta.

"Aqui, aconteça o que acontecer, está sempre cheio de turistas, embora algumas lojas tenham fechado no ano passado", diz. "Já em outras regiões, a coisa está mais complicada", diz.

Anúncio de vagas em comércio de Buenos Aires (Rafael Balago/Exame)

Como está o desemprego na Argentina

Segundo o Indec, órgão de estatísticas do governo argentino, o desemprego no país estava em 7,6% no segundo trimestre de 2025, o que representa 1,1 milhão de argentinos em busca de trabalho.

O país viveu uma das suas piores crises econômicas nos últimos anos, com disparada da inflação e forte desvalorização do peso.

Neste cenário, o presidente Javier Milei foi eleito em 2023 e adotou uma série de medidas duras para estabilizar a economia, como cortes de gastos públicos e contenção de salários. Como resultado, a inflação na Argentina caiu de 211% ao ano, em 2024, para 30% ao ano.

No último domingo, 26, o partido de Milei venceu as eleições legislativas, e agora ele terá mais força para avançar com outras reformas. Ele prometeu na campanha avançar com uma reforma trabalhista, para cortar custos de contratação e reduzir burocracias.

Anúncio de vagas em comércio de Buenos Aires (Rafael Balago/Exame)

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