Agência de notícias
Publicado em 5 de setembro de 2025 às 07h23.
Responsável pela operação do Elevador da Glória, que descarrilou e tombou anteontem, matando 16 pessoas, em Portugal, a Companhia Carris de Ferro de Lisboa prestou assessoria técnica à Secretaria estadual de Transportes do Rio no projeto de reestruturação do sistema de bondes de Santa Teresa. A contratação aconteceu após um acidente em 27 de agosto de 2011, quando, no bairro carioca, uma composição sem freio saiu dos trilhos e bateu num poste — seis pessoas morreram e outras 54 ficaram feridas.
Em 2012, o governo estadual anunciou que o projeto de recuperação do sistema tinha sido orçado em R$ 110 milhões, sem especificar quanto foi pago à empresa portuguesa pela assessoria técnica. O sistema de transporte sobre trilhos que liga Santa Teresa ao centro do Rio completou 129 anos na última segunda-feira. Usuários e moradores do bairro dizem que ainda não há o que comemorar, apesar da volta do ramal Paula Mattos este ano, após ficar fechado mais de uma década. Uma das preocupações dos passageiros é com o tráfego intenso nas ladeiras do bairro.
"Eu uso o bondinho diariamente e acredito que o sistema funciona muitíssimo bem. O atendimento do motorneiro, dos fiscais, também é muito bom, não tenho nada do que reclamar. O único ponto de melhoria é o das placas de sinalização. É necessário que coloquem placas para proibir que estacionem sobre os trilhos, porque os bondinhos sempre têm que parar por ter um carro no caminho", disse o consultor imobiliário Marcos Aguiar, morador de Santa Teresa.
Mas foi mesmo o vaivém de carros, motos, ônibus e caminhões bem pertinho do bonde que chamou a atenção da turista espanhola Teresa Beneitez, que fez um passeio ontem por Santa Teresa.
"Para mim é muito estranho estar no bondinho e ver um caminhão ou um carro invadir a rua. Isso não acontece na Europa, e acredito que possa ser difícil para quem precisa usar o bondinho como transporte todos os dias", afirmou.
Para a Associação de Engenheiros Ferroviários (Aenfer), o transporte está hoje mais seguro.
"É seguro porque o bonde circula a uma velocidade baixa. O comando das composições tem as restrições de velocidade atualizadas porque funciona no meio da rua e, às vezes, em mão inglesa, como no ramal de Paula Matos. O trem circula no sentido contrário dos veículos rodoviários e é preciso ter um certo cuidado. O projeto do novo bonde contemplou um sistema de freio com maior segurança", explicou Hélio Suêvo, vice-presidente da entidade.
O turista paulista Diego Cernohovsky também achou a viagem muito tranquila, mas acha que o sistema deveria aceitar Pix — bilhetes podem ser comprados em dinheiro e cartões — e que os bondes estão muito cheios.
"É praticamente impossível descer no meio do caminho quando estamos fazendo essa subida, porque os bondes chegam lotados na volta. Então, se aumentasse a quantidade, isso seria evitado", disse o visitante. "Além disso, são poucos os folhetos disponibilizados com o mapa do local, para que o turista entenda por onde vai passar, quais são as melhores estações para tais atividades etc".
Das três linhas de bondes, a ligação entre o Largo da Carioca e o Silvestre está desativada há cerca de 20 anos. Segundo a Secretaria de Transportes, obras de revitalização da via permanente e da rede aérea estão sendo concluídas e, em breve, o trecho voltará a operar, a exemplo do que já acontece com as outras duas linhas — Dois Irmãos e Paula Matos. Quando esse trajeto ficar pronto, turistas e cariocas terão mais um acesso a outro ponto turístico da cidade: o Trem do Corcovado. A recuperação das duas linhas custou R$ 70 milhões.
O preço da tarifa para turistas e para quem não mora em Santa Teresa é R$ 20 e a venda de passagens se encerra às 16h no Largo da Carioca. Moradores do bairro têm gratuidade.
Procurada, a Secretaria estadual de Transportes informou que “o sistema passou por uma profunda modernização, preservando a característica histórica dos bondes, mas com reforços técnicos e estruturais”. Um dos avanços foi a inclusão da frenagem automática em caso de inatividade do motorneiro. Também foi instalado um mecanismo para aumentar a aderência das rodas do bonde em situações de frenagem em trechos de subida íngreme ou escorregadios.