São Paulo – Em meados do século, é possível que seus filhos ou netos consigam menos nutrientes essenciais de um prato de arroz com batata do que você obtém hoje com os mesmos alimentos. Essa é a conclusão preocupante de uma pesquisa publicada na revista Nature nesta semana.
	O estudo associa o aumento da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera estimado para 2050 à redução de nutrientes essenciais, como ferro, zinco e proteínas, de alimentos básicos, especialmente trigo, soja, milho e arroz.
	Em experimentos, quando cultivados em condições de campo com a concentração elevada de CO2  prevista para o ano de 2050 (de 545 a 585 partes por milhão), esses alimentos apresentaram redução de nutrientes.
	Uma consequência direta dessa relação, que preocupa os pesquisadores, é o agravamento de problemas de saúde ligados à má nutrição.
	As deficiências nutricionais de zinco e ferro são, atualmente, um dos maiores problemas de saúde pública.
	http://cf.datawrapper.de/5yaPz/2/ 
	Em todo o mundo, estima-se que 2 bilhões de pessoas possuem alimentação pobre em nutrientes, que culmina no óbito de cerca de 2,3 milhões por ano.
	A maioria dessas pessoas são de regiões pobres e dependem de grãos e leguminosas como arroz, soja e trigo, para obter zinco e ferro, apesar desses alimentos não serem tão ricos assim nesses nutrientes.
	Mas em lugares onde a carne raramente aparece à mesa, eles são uma importante fonte de nutrientes.
	Em entrevista ao The Guardian, Samuel Myers, especialista em saúde ambiental na Universidade de Harvard, e principal autor do estudo, afirmou: "Fundamentalmente, a preocupação é que há um enorme problema de saúde pública e o crescente nível de CO2 na atmosfera vai agravar esse problema ainda mais".
	Os mecanismos biológicos envolvidos nessa relação, contudo, ainda não são completamente entendidos pelos cientistas.
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                    1. Desafio do tamanho da fome
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                    1/16  (Getty Images) 	São Paulo – Mudanças à vista, ou melhor, à mesa. Um  estudo feito pelo Grupo Internacional de Consulta em Pesquisa Agrícola(CGIAR, na sigla em inglês) para as Nações Unidas sugere que o aquecimento globalpode comprometer, até 2050, cerca de 20% da produção trigo, arroz e milho – as três  commodities agrícolas mais importantes e que estão na base de metade das calorias consumidas por um ser humano.	É uma perda preocupante, contra a qual será preciso lutar, sob a dura pena de mergulhar bilhões de pessoas na fome – um mal que  atinge um em cada sete habitantes do planeta. Veja a seguir como a elevação das temperaturas e as  mudanças climáticas poderão afetar a produção das principais commodities agrícolas no mundo 
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                    2. Banana
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                    2/16  (Wikimedia Commons) 	A maior ameaça das mudanças climáticas para a produção de bananas é o aumento de surtos de pragas e doenças, principalmente nas terras altas da Uganda, Tanzânia, Burundi, Ruanda e Congo Oriental, países onde a fruta é sinônimo de segurança alimentar.	Não só isso, a banana é altamente sensível à água disponível no solo. E essas regiões, que juntas abrigam comunidades pobres de mais de 30 milhões pessoas, são vulneráveis à falta de água, hoje um dos maiores desafios enfrentados pelos governos locais. 
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                    3. Mandioca
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                    3/16  (Wikimedia Commons) 	A mandioca é a segunda cultura alimentar mais importante nos países pobres e a quarta mais importante nos países em desenvolvimento, com produção total de 218 milhões de toneladas. Além de contribuir para a segurança alimentar, é fonte de renda para pequenos proprietários.	Em geral, a espécie é tolerante à seca e adaptável a algumas das mais altas temperaturas encontradas na agricultura. Por outro lado, a mandioca não se dá bem com excesso de água, é altamente vulnerável à podridão da raiz quando exposta a inundações por longos períodos. 
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                    4. Cevada
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                    4/16  (Wilson Dias/AGÊNCIA BRASIL) 	Nem todos os alimentos serão prejudicados com um meio ambiente mais hostil. Exemplo disso é a cevada, cereal rico em zinco e ferro que poderia ajudar a melhorar a nutrição no mundo, especialmente em regiões afetadas pela seca.	Grão valorizado pela produção de bebidas alcoólicas, a cevada pode tornar-se ainda mais atraente por outros motivos: a resistência ao calor, seca e à salinidade do solo, uma ameaça real diante do avanço do nível dos mares. 
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                    5. Feijão
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                    5/16  (ARQUIVO/WIKIMEDIA COMMONS) 	As altas temperaturas aparecem como o problema mais grave, seguido pela seca, entre as ameaças da mudança climática para a produção de feijão. Há motivos para preocupação, uma vez que a leguminosa representa, em média, 20% da dieta dos países em desenvolvimento.	Em alguns, a dependência é ainda maior, caso de Burundi (55%) e Ruanda (38%). No Brazil e Tanzânia, o feijão responde por 14% das proteínas vegetais consumidas por uma pessoa. 
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                    6. Grão-de-bico
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                    6/16  (Dercílio / Saúde) 	Outra fonte tradicional de proteína vegetal, o grão-de-bico pode ser vulnerável às mudanças climáticas, em parte, porque geralmente é cultivado em terras com quantidades mínimas de fertilizantes e irrigação, ficando exposto a ataques de pragas e estresses ambientais.	Uma pesquisa na Índia, feita ao longo de 10 anos, mostrou que o aumento da temperatura acima de 35 ° C torna a planta mais suscetível a desenvolver uma podridão na raiz causada por doenças. Hoje, as principais regiões produtoras são Índia, Turquia, Paquistão, Bangladesh, Nepal, Irã e México. 
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                    7. Milho
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                    7/16  (Getty Images) 	Juntamente com arroz e trigo, o milho responde por 30% das calorias de alimentos consumidos por 4,5 bilhões de pessoas em 94 países em desenvolvimento.	Seu ponto fraco: detesta calor. Testes de campo e dados históricos mostram que as temperaturas superiores a 30 ° C associadas à seca reduzem o rendimento das culturas. Só na África, 20% da produção está em risco com as alterações climáticas. 
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                    8. Amendoim
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                    8/16  (Stock.XCHNG) 	O amendoim também está na mira do aquecimento global. Segundo o estudo, secas constantes podem tornar as sementes vulneráveis à contaminação por aflatoxina, uma toxina cancerígena produzida principalmente pelo fungo Aspergillus flavus. Além disso, as altas temperaturas e as chuvas irregulares dificultam a secagem do grão e seu armazenamento. 
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                    9. Lentilha
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                    9/16  (Wikimedia Commons) 	Alimento altamente nutritivo, a lentilha consegue resistir bem ao ambiente hostil. Sua resiliência a torna um coringa no sentido de aumentar a segurança alimentar em países necessitados.	Mas as lentilhas não são a prova de tudo, e sob certos estresses climáticos, podem ter o rendimento afetado. A intensidade e principalmente a frequência das mudanças no tempo e das tensões térmicas poderiam afetar severamente a produção. 
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                    10. Trigo
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                    10/16  (Menahem Kahana/AFP) 	As alterações climáticas terão impactos significativos na produção de trigo, cuja cultura é extremamente vulnerável ao calor e seca. A irrigação pode ajudar o trigo a sobreviver a condições de estresse, mas exigiria uma quantidade insustentável desse recurso.	Segundo o estudo, o "estresse hídrico" associado ao aumento de 1°C na temperatura resultaria na perda de 20% da produção. 
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                    11. Batatas
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                    11/16  (Jon Pallbo/Wikimedia Commons) 	Dona da quarta maior safra de alimentos do mundo, as batatas também estão na mira do aquecimento do planeta, e se tem um palavra que não combina com esse cultivo é aquecimento. O medo é que as temperaturas crescentes reduzam a produtividade da batata em locais onde pessoas já lutam para suprir suas necessidades nutricionais básicas, como a Índia. 
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                    12. Soja
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                    12/16  (Juan Mabromata/AFP) 	A soja é uma das culturas que mais sofrem sob altas temperaturas. De acordo com o estudo, áreas nos EUA e no Brasil que cultivam a proteína vegetal para exportação terão de enfrentar quedas acentuadas quando a temperatura ultrapassar os 30 ° C com frequência.	Em 2070, a área adequada para plantio de soja poderá cair 60% em relação à área de produção atual, devido à falta de água e a verões mais intensos. 
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                    13. Arroz
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                    13/16  (Wikimedia Commons) 	A mudança climática pode levar a um declínio de 15% na produção de arroz. O motivo? Cientistas suspeitam que as plantas estão gastando mais energia para respirar em noites quentes, o que afeta a capacidade de realizar fotossíntese. Não para aí.	As inundações são um problema significativo para o cultivo de arroz, especialmente nas planícies do sul e sudeste da Ásia. A ameaça crescente de salinidade é outro problema, que resulta do aumento do nível do mar em grandes áreas de zonas húmidas costeiras. 
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                    14. Inhame
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                    14/16  (Wikimedia Commons) 	Cultivo importante e meio de subsistência no oeste africano, o inhame é vulnerável a pragas e doenças que poderiam intensificar-se devido aos efeitos do clima. Desde 2000, indica o relatório, a taxa de crescimento anual da produção de inhame tem sido irrisória (menos de 1%) em uma das principais regiões produtoras, a Nigéria. 
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                    15. Fava
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                    15/16  (Wikimedia Commons) 	Fava é a principal fonte de proteínas vegetais na dieta dos países onde é cultivada, como Etiópia, Sudão, Marrocos, Egito e Síria. Cultura importante na rotação de cereais, pois ajuda a fixar nitrogênio no solo, a Fava pode ter de lidar com novos tipos de pragas com o aumento das temperaturas. Para piorar, o cultivo tem fama de ser sensível à seca, que pode causar quebra de safra drástica. 
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                    16. Sorgo
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                    16/16  (Wikimedia Commons) 	O estudo revela que um aumento de 1 ° C na temperatura média da atmosfera poderia reduzir o rendimento do quinto cereal mais importante (depois do arroz, trigo, milho e cevada) entre 4 e 8% em estações chuvosas na Índia. Os grãos do sorgo são úteis na produção de farinha para panificação, amido industrial, álcool e como forragem ou cobertura de solo em regiões tropicais e subtropicais do mundo.