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Trump ameaça enviar tropas federais para Chicago diante da violência crescente

Governador JB Pritzker ainda não se manifestou sobre o possível envio de tropas federais

Guarda Nacional: Trump critica o governador de Chicago e propõe uma ação federal para combater o crime na cidade. (MEHMET ESER/Middle East Images/AFP)

Guarda Nacional: Trump critica o governador de Chicago e propõe uma ação federal para combater o crime na cidade. (MEHMET ESER/Middle East Images/AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 2 de setembro de 2025 às 12h54.

Última atualização em 2 de setembro de 2025 às 13h06.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a criticar publicamente a cidade de Chicago nesta terça-feira, classificando-a como “a pior e mais perigosa cidade do mundo” e prometendo resolver rapidamente o que chamou de “problema do crime”, com o possível envio de tropas federais. As declarações foram feitas horas antes de um anúncio previsto sobre o Departamento de Defesa — e após o republicano indicar que considera expandir a mobilização da Guarda Nacional em Washington, DC, para outras grandes cidades do país.

“Pelo menos 54 pessoas foram baleadas em Chicago no fim de semana, e oito foram mortas. Os dois últimos fins de semana foram semelhantes. Chicago é, de longe, a pior e mais perigosa cidade do mundo. [O governador JB] Pritzker precisa urgentemente de ajuda, mas ele ainda não sabe. Resolverei o problema da criminalidade rapidamente, assim como fiz em Washington, DC. Chicago estará segura novamente, e em breve”, escreveu Trump.

Trump tem ameaçado enviar milhares de militares a redutos democratas como Chicago e Baltimore, cidades que frequentemente critica como zonas dominadas por violência e por imigrantes indocumentados. Segundo fontes familiarizadas com o planejamento do governo e ouvidas pela CNN americana, a operação federal em preparação para Chicago pode começar ainda esta semana e deve envolver agentes do Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas (ICE), a Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP) e apoio da Guarda Nacional.

"O presidente fará um anúncio empolgante relacionado ao Departamento de Defesa", disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, indicando que o pronunciamento ocorrerá a partir das 14h no horário local (15h em Brasília).

A secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, confirmou a intensificação das ações no domingo. À CBS News, ela disse que já há operações do ICE em andamento em Chicago, Illinois e em outros estados para “garantir que nossas leis estejam sendo cumpridas”. Questionada sobre uma possível expansão para outras cidades, Noem afirmou que “nada foi descartado” e mencionou São Francisco e Boston, além de Chicago. Ela disse ainda que cidades com governos republicanos também estão sendo avaliadas.

A medida reacende o embate entre a Casa Branca e cidades lideradas por prefeitos democratas, que criticam o uso de forças federais em operações de segurança interna. Em Chicago, o prefeito Brandon Johnson assinou no sábado um decreto instruindo as agências municipais a não cooperarem com os agentes federais. O texto proíbe a colaboração da polícia local com operações federais conjuntas, patrulhas ou ações relacionadas à imigração civil. Também recomenda que agentes usem câmeras corporais e não cubram o rosto com máscaras.

"Podemos ver uma repressão militarizada da imigração. Podemos também ver tropas da Guarda Nacional. Podemos até ver militares da ativa e veículos armados nas nossas ruas. Não pedimos por isso. Nosso povo não pediu por isso, mas, ainda assim, nos vemos obrigados a responder", disse o prefeito ao assinar a ordem.

Troca de farpas

O governador JB Pritzker afirmou no domingo que o envio de tropas à cidade, sem qualquer aviso prévio ou coordenação com o estado, representa uma “invasão”. Pritzker disse que ninguém na administração — “nem o presidente, nem qualquer subordinado a ele” — ligou para ele ou alguém de sua equipe, de modo que “está claro que estão planejando [o envio de tropas] em segredo”. Ele definiu a situação como “uma invasão com tropas dos EUA”.

Em resposta, Trump intensificou o tom. Na segunda-feira, o republicano escreveu nas redes sociais que seis pessoas haviam sido mortas e 24 baleadas em Chicago no fim de semana, e que Pritzker, “o fraco e patético governador de Illinois, disse que não precisa de ajuda para combater o crime”. O presidente também chamou o governador de “louco” e disse que era melhor o político resolver a situação rapidamente, ameaçando a intervenção federal.

"Pritzker pode dizer quanto está fazendo um ótimo trabalho como governador, mas está falhando com essas famílias", disse Noem. "Isso parece mais uma questão de ego do governador Pritzker agora do que de proteger seu povo de verdade."

Enquanto a administração Trump pressiona por ações federais, a prefeitura de Chicago divulgou dados apontando uma redução de 21,6% nos crimes violentos e uma queda de 32,3% nos homicídios em 2025 até o momento.

Lei federal violada

Também nesta terça-feira, um juiz federal dos Estados Unidos decidiu que o governo Trump violou a lei federal ao enviar tropas da Guarda Nacional a Los Angeles durante os protestos de junho contra as políticas antimigratórias de sua administração. A decisão, emitida pelo juiz Charles Breyer, do Tribunal Distrital dos EUA, proíbe o uso de tropas militares na Califórnia — ou de qualquer outra força armada no estado — para “executar as leis”.

A medida representa uma vitória significativa para a Califórnia e para o governador Gavin Newsom, que travaram uma batalha judicial contra a decisão de Trump de federalizar a Guarda Nacional do estado, mobilizando milhares de militares para a segunda maior cidade do país, apesar da oposição do governo local. A decisão também ocorre semanas após Trump ter ordenado a mobilização de tropas da Guarda Nacional em Washington para reprimir o que chamou de “crime fora de controle”.

Em sua decisão, o juiz Breyer afirmou que a ação do presidente violou o Posse Comitatus Act, uma legislação federal que proíbe o uso das Forças Armadas para a aplicação de leis civis dentro do território dos EUA. Durante os protestos, deflagrados após operações de agentes de imigração (ICE) em comunidades locais, Trump enviou cerca de 4 mil soldados da Guarda Nacional e 700 fuzileiros navais da ativa para Los Angeles. A Califórnia tentou impedir o envio por via judicial, mas não conseguiu uma liminar que bloqueasse a mobilização. A maioria das tropas foi retirada até o fim de julho, após a diminuição dos protestos.

Segundo Breyer, as evidências apresentadas durante o julgamento — que durou três dias — mostraram que o governo Trump utilizou de forma sistemática veículos militares e soldados armados, muitos deles com a identidade escondida sob equipamentos de proteção, para montar bloqueios viários e atuar no controle de multidões.

*Com informações da Bloomberg e AFP

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