Donald Trump: anúncio vem logo após crise das tarifas (Mandel Ngan/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 7 de abril de 2025 às 16h54.
Última atualização em 7 de abril de 2025 às 17h57.
O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira que seu governo iniciou "negociações diretas" com o Irã, possivelmente envolvendo o programa nuclear do país, e revelou que um encontro "quase ao mais alto nível" acontecerá no sábado entre os dois lados. O líder americano, que em 2018 rasgou um acordo internacional sobre o programa nuclear e instituiu uma política de sanções conhecida como "pressão máxima", tem pressionado por um diálogo direto com Teerã, que até agora exige conversas indiretas com Washington.
Ao lado do premier de Israel, Benjamin Netanyahu, Trump confirmou que foi aberto um canal de diálogo direto entre os dois países, sem detalhar quando foram iniciadas as conversas, tampouco em qual formato elas estão sendo realizadas. Contudo, o presidente disse que haverá uma reunião no sábado, "quase ao mais alto nível", sem dizer como seria o encontro, em qual país ele ocorreria e se algum governo atuaria como mediador.
— Temos uma reunião muito importante no sábado e negociaremos com eles diretamente — declarou o republicano aos jornalistas no Salão Oval. — Talvez cheguemos a um acordo, isso seria fantástico. Nos reuniremos no sábado em um encontro muito importante, quase ao mais alto nível.
Teerã não se pronunciou.
Desde 2015, quando foi firmado o acordo internacional sobre o programa nuclear (rasgado por Trump em 2018), representantes dos governos dos EUA e do Irã não se sentam na mesma sala — durante o governo de Joe Biden, uma fracassada tentativa de reavivar o acordo, que estipulava limites às atividades nucleares iranianas em troca do alívio de sanções, foi realizada de maneira indireta.
Desde sua adoção, naquele ano, inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) puderam ter acesso a instalações como a central de Natanz, monitorando o cumprimento de determinações como o limite ao enriquecimento de urânio a 3,67%, o veto a centrífugas mais avançadas e o limite de material enriquecido armazenado no país.
Mas para Trump, o acordo era benéfico demais aos iranianos, e dois anos após sua eleição ele cumpriu uma promessa de campanha e retirou os EUA do plano de forma unilateral, impondo novas medidas punitivas. O resultado, na visão de analistas, não poderia ser pior: o Irã deixou de cumprir suas obrigações, elevando o grau de enriquecimento — hoje perto de 60% —, desenvolvendo novas centrífugas e reduzindo o acesso aos inspetores internacionais. Para ser usado militarmente, o urânio precisa ser enriquecido acima de 90%.
A decisão americana também está ligada ao empoderamento de setores mais radicais do Estado iraniano e da Guarda Revolucionária, e ainda ao fortalecimento do programa de desenvolvimento de mísseis balísticos. Estimativas apontam que se Teerã decidisse ter um arsenal nuclear, se tornando o segundo país do Oriente Médio a ter essas armas — Israel hoje é a única nação na região com ogivas operacionais —, seriam necessárias poucas semanas até que os alertas soassem pelo mundo.
"Um programa acelerado iraniano não teria como objetivo produzir ogivas para mísseis balísticos, uma tarefa que poderia levar significativamente mais de seis meses", afirma um relatório do Instituto para Ciência e Segurança Internacional, de 2024. "No entanto, uma arma nuclear 'bruta' sinalizaria a entrada do Irã no clube de armas nucleares como o décimo membro, seja dramaticamente por meio de um teste nuclear subterrâneo ou furtivamente por meio de vazamentos sobre sua realização."
No mês passado, Trump enviou uma carta ao líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, sugerindo as negociações diretas para um novo acordo nuclear, que tem como objetivo principal evitar a militarização do programa nuclear de Teerã — os iranianos negam ter intenções de construir uma bomba atômica, apesar do tema circular abertamente dentro e fora do governo.
Na missiva, ele estipulava um prazo de dois meses para que um acordo fosse firmado. Na semana passada, Trump elevou o tom, dizendo que se não houver um novo texto poderia bombardear o Irã, e nesta segunda-feira ele renovou as ameaças.
— Acho que se as negociações não forem bem-sucedidas com o Irã, acho que o Irã estará em grande perigo — afirmou o presidente. — O Irã não pode ter uma arma nuclear e se as negociações não forem bem-sucedidas, acho que será um dia muito ruim para o Irã.
Questionado nesta segunda-feira por jornalistas sobre como deveria ser, em sua concepção, um novo acordo, respondeu que seria "mais duro" do que o firmado em 2015 por Irã, EUA, Rússia, China, Alemanha, Reino Unido e França, além da União Europeia. Ao seu lado Netanyahu não comentou a proposta — na década passada, ele foi uma das principais vozes contrárias ao plano, e já cogitou atacar instalações nucleares iranianas, além de defender uma mudança de regime em Teerã.
Ao menos publicamente, a pressão trumpista teve o efeito contrário. No sábado, o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, disse que "se [Trump] quer negociar, de que serve ameaçar?", e o chanceler, Abbas Araghchi, no domingo rejeitou publicamente as conversas diretas neste momento — a proposta dos iranianos é realizar negociações iniciais tendo como intermediário o governo de Omã.
— As negociações diretas não fariam sentido com uma parte que constantemente ameaça usar a força, e cujos diferentes representantes expressam posições contraditórias — afirmou o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, acrescentando que, ainda assim, o país não está fechado ao diálogo. — Mas continuamos comprometidos com a diplomacia e estamos prontos para tentar o caminho das negociações indiretas.