Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, em evento sobre a Copa do Mundo (Anna Moneymaker/Getty Images)
Repórter
Publicado em 14 de novembro de 2025 às 15h22.
Uma série de novos desafios se apresentou pessoalmente para Donald Trump, que já vê suas taxas de aprovação no país beirarem os 40%.
De Nova York a Nova Jersey e Virgínia, importantes vitórias democratas, alimentadas ainda mais por pressões no shutdown, podem ditar o rumo das eleições intermediárias no ano que vem.
Além disso, pesquisa da Ipsos mostra que apenas 29% dos americanos apoiam as operações de Trump no mar do Caribe, mirando a Venezuela, e novas revelações trazem aos holofotes suas conexões com Jeff Epstein.
Donald Trump (à direita) com Jeffrey Epstein (esquerda) na suaresidência em Mar-a-Lago Palm Beach, Flórida, em 1997. (Foto por Davidoff Studios/Getty Images) (Davidoff Studios/Getty Images)
Legisladores democratas dos Estados Unidos divulgaram e-mails nos quais Jeffrey Epstein, condenado por crimes sexuais e tráfico humano em sua ilha particular, sugere que Trump sabia "sobre as garotas" do financista e que "passou horas" com uma de suas vítimas em sua casa.
O caso Epstein é uma das maiores controvérsias relacionadas a Trump, e o Partido Republicano chegou a negar a existência de arquivos relacionados ao caso.
Trump, que nega qualquer envolvimento ou conhecimento das atividades de tráfico sexual de Epstein, acusou os congressistas de tentarem "desviar a atenção" de seus próprios erros.
Mas o escândalo provou ser difícil para Trump superar e os democratas da Comissão de Supervisão da Câmara de Representantes afirmaram que três novos e-mails "levantam sérias questões sobre Trump e seu conhecimento dos crimes horríveis de Epstein", que se suicidou na prisão em 2019 enquanto aguardava julgamento.
A pressão sobre Trump aumentou ainda mais na quarta-feira, 12, quando o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Mike Johnson, anunciou uma votação na próxima semana sobre uma proposta para obrigar o Departamento de Justiça a publicar os arquivos restantes do caso Epstein.
Em um e-mail de abril de 2011 destinado à sua antiga colaboradora Ghislaine Maxwell, que também foi condenada por tráfico sexual após a morte de Epstein, afirma que Trump passou muito tempo com uma mulher, que a Casa Branca identificou posteriormente como a principal acusadora de Epstein, Virginia Giuffre.
"Quero que você saiba que o cão que ainda não ladrou é Trump", escreveu Epstein, que acrescentou que a vítima "passou horas com ele na minha casa, e ele nunca foi mencionado".
Os vínculos de Trump com Epstein são extensos. Ambos foram fotografados festejando uma amizade de 15 anos, antes de supostamente se desentenderem em 2004 por causa de um negócio imobiliário.
Todavia, Trump não foi acusado de nenhum crime em conexão com Epstein ou Maxwell.
Zohran Mamdani, novo prefeito de Nova York, após vencer as primárias democratas (Angela Weiss/AFP)
No campo político, Trump começou o mês com uma derrota eleitoral. O Partido Democrata, de oposição, foi capaz de retomar ímpeto político após importantes vitórias em Nova York, Nova Jersey e Virgínia, e por ter sido capaz de trazer à tona pautas como os repasses para custear tratamentos médicos por programas como o Medicare, em negociações durante o shutdown do governo americano, que durou 43 dias.
A eleição do democrata Zohran Mamdani para o posto de prefeito de Nova York, juntamente com as suas colegas de partido Mikie Sherrill e Abigail Spanberger, ao cargo de governadoras de Nova Jersey e Virgínia respectivamente, sob a administração republicana de Donald Trump representa importantes vitórias para a oposição.
Centrando suas campanhas em questões de acessibilidade financeira, foram capazes também de se apresentar como resistência a Trump e aos republicanos, alimentando suas campanhas com base no sentimento de insatisfação que muitos americanos vêm tendo com a administração atual do país.
Suas vitórias reverberaram inclusive com a esquerda na Europa, que retomou a intensidade de suas campanhas do outro lado do Atlântico.
A vitória anima os democratas para as eleições de meio de mandato, em 2026, quando haverá renovação do Congresso.
Uma nova pesquisa da Ipsos revela que 44% dos eleitores democratas dizem estar "muito entusiasmados" para votar nas eleições de meio de mandato, que normalmente vê consideravelmente menor participação, em comparação a apenas 26% dos republicanos que disseram o mesmo.
Além disso, pesquisas da Ipsos, uma empresa que conduz pesquisas de mercado, políticas e sociais, demonstram que a maior parcela dos americanos – cerca de 38% - culpam os republicanos pelo shutdown que paralisou serviços federais nos Estados Unidos por 43 dias. Uma parcela ainda maior, de 43%, culpa Donald Trump diretamente pela mais longa paralisação da história do país.
A longa paralisação se deu devido a inabilidade dos republicanos e dos democratas de atingirem um consenso sobre um projeto de lei orçamentária para custear os gastos federais do governo. Especificamente, não foram capazes de concordar nas pautas que deveriam ser incluídas no projeto. Enquanto democratas advocavam por extensões nos subsídios do Obamacare, republicanos os negavam citando questões da dívida nacional.
Por mais que, a fim de terminar com a paralisação, parte dos democratas tenham votado a favor do projeto republicano, o partido de oposição foi capaz de adicionar certas pautas, dentre as quais estão a proteção e reintegração de trabalhadores federais demitidos por Trump, a garantia de financiamento do programa de benefício alimentício SNAP, que garante acesso à produtos alimentares a milhões de americanos de baixa renda, e uma promessa de negociação para a extensão dos subsídios ao Obamacare.
Apoiador de Maduro usa camisa com a estampa "Yankee go home" (Ianque vá para casa), em Caracas, Venezuela (Frederico Parra/AFP)
O governo dos Estados Unidos enviou, em setembro, navios de guerra, caças e milhares de soldados ao Caribe para operações contra o narcotráfico supostamente procedente da Venezuela e da Colômbia.
As forças dos Estados Unidos destruíram esta semana outra suposta embarcação com drogas no Caribe, matando as quatro pessoas que estavam a bordo, segundo a imprensa americana, que cita uma fonte do Departamento da Defesa. Até então, o país não forneceu nenhuma evidência concreta de que as embarcações estariam, de fato, conectadas ao narcotráfico.
Até agora, ao menos 21 embarcações foram bombardeadas, com um balanço de pelo menos 80 mortos.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, entende os ataques como uma tentativa de instigar uma mudança de governo, e como um pretexto de invasão. Com isso, recentemente mobilizou suas tropas e preparou-se para a defesa do país.
A campanha militar foi denunciada pela ONU e por diversos países. O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, disse que há "fortes indícios" de execuções "extrajudiciais". Além disso, agências de inteligência do Reino Unido e da Colômbia anunciaram que não compartilharão mais informações com os EUA sobre as embarcações para não se tornarem cúmplices.
"Todos os níveis de inteligência da força pública receberam ordens para suspender o envio de comunicações e outras interações com agências de segurança americanas", anunciou o presidente da Colômbia Gustavo Francisco Petro na rede social X., ex-Twitter . O presidente também classifica os ataques como "execuções extrajudiciais".
Além disso, organizações pelos direitos humanos como a Amnesty International também condenaram os ataques:
“Nos últimos dois meses, o Comando Sul das Forças Armadas [o que inclui operações nos mares do Caribe e muito da América Latina] dos EUA iniciou uma série de assassinatos, seguindo as ordens ilegais do governo Trump”, afirmou Daphne Eviatar, diretora de Direitos Humanos e Segurança da Amnesty International dos EUA. “O governo nem mesmo divulgou os nomes das vítimas, nem apresentou provas dos supostos crimes. Mas, mesmo que tivesse feito isso, matar intencionalmente pessoas acusadas de cometer crimes que não representam ameaça iminente à vida é assassinato, ponto final.”
“Já passou da hora do Congresso exercer seu papel de fiscalização sobre o comportamento ilegal do governo, pôr fim a esses ataques aéreos ilegais e responsabilizar os culpados por esses assassinatos.”
O governo dos Estados Unidos, no entanto, pretende prosseguir com as operações.
O maior porta-aviões do mundo, chamado USS Gerald Ford, chegou à região na terça-feira, juntamente com seu grupo de ataque com ainda maios navios de guerra e dezenas de aviões, o que representa um aumento considerável dos recursos militares mobilizados por Washington.
Uma nova pesquisa da Ipsos aponta que apenas 29% dos americanos aprovam executar suspeitos de tráfico de drogas no exterior sem ação judicial prévia, enquanto 51% se opuseram, e 20% dos correspondentes não tinha certeza de suas opiniões no tópico. Dentro do próprio partido republicano, 27% se opuseram às operações e 58% as aprovam, com 15% se abstendo, o que demonstra uma divisão interna sobre o assunto, de acordo com apuração da Reuters.
Com informações da AFP