Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA, anunciou o banimento do embaixador sul-africano nas redes sociais, chamando-o de "político racista" que "odeia a América". (AFP)
Publicado em 15 de março de 2025 às 10h33.
Última atualização em 15 de março de 2025 às 10h37.
Os Estados Unidos anunciaram na sexta-feira (14) a expulsão do embaixador sul-africano em Washington, Ebrahim Rasool. O secretário de Estado Marco Rubio fez o anúncio através de sua conta na rede social X, acusando o diplomata de "odiar o país e o presidente" Donald Trump.
"O embaixador da África do Sul nos Estados Unidos não é mais bem-vindo em nosso grande país", escreveu Rubio. "Não temos nada a discutir com ele, por isso o consideramos 'persona non grata'", acrescentou, chamando Rasool de "político racista".
Diplomacia em chamas
A expulsão representa um novo capítulo na escalada de tensões entre Washington e Pretória, capital administrativa da África do Sul. Há uma semana , o presidente americano anunciou o corte total de financiamento federal ao país africano, concretizando uma medida que já havia sido sinalizada em fevereiro, com uma ordem executiva que congelava a assistência dos EUA para a África do Sul.
A justificativa apresentada para o corte de fundos, que totalizavam $323,4 milhões em 2024, foi a política agrária sul-africana e a posição do país no caso de genocídio contra Israel na Corte Internacional de Justiça. Na ocasião, a África do Sul respondeu que não participaria de uma "diplomacia de megafone" com Trump.
Contudo, a gota d´água para o banimento do embaixador parece ter sido sua participação em um webinar promovido por um think tank sul-africano na sexta-feira. De acordo com uma reportagem do site Breitbart, compartilhada por Rubio em suas redes sociais, Rasool analisou políticas da administração Trump como resposta a mudanças demográficas nos EUA, onde a população branca caminha para deixar de ser maioria.
O diplomata também teria caracterizado as conexões de Elon Musk, bilionário sul-africano próximo a Trump, com lideranças conservadoras europeias como um "apito de cachorro" para movimentos supremacistas.
A expulsão de um embaixador é considerada uma medida extrema nas relações diplomáticas internacionais. Tradicionalmente, quando países desejam demonstrar descontentamento, optam por chamar seus próprios embaixadores para consultas ou expulsam diplomatas de escalão inferior.
Brasil e outros consulados na mira?
Marco Rubio, atual secretário de Estado americano, é um político republicano de origem cubana-americana que assumiu o cargo após a vitória de Donald Trump nas eleições de 2024. Anteriormente, foi senador pela Flórida e candidato presidencial nas primárias republicanas de 2016, quando enfrentou o próprio Trump.
Como secretário de Estado, Rubio tem seguido à risca a política externa "America First" defendida por presidente, promovendo iniciativas de significativos cortes de gastos no Departamento de Estado e redução da presença diplomática americana no exterior.
A decisão americana de agora pode comprometer as relações bilaterais em múltiplas áreas, do comércio à cooperação em segurança. Além disso, a África do Sul é um parceiro estratégico importante dos EUA no continente africano e membro do BRICS, bloco que inclui Brasil, Rússia, Índia e China.
Em resposta à expulsão, a presidência sul-africana emitiu um comunicado na rede social X classificando como "lamentável a expulsão do embaixador" e pedindo a todos que mantivessem o "decoro diplomático estabelecido" sobre o assunto.
Importante destacar que o episódio ocorre em meio a uma estratégia mais ampla da administração Trump para reduzir drasticamente também a presença diplomática americana no exterior. Conforme reportado recentemente, o Departamento de Estado está se preparando para fechar diversos consulados e representações diplomáticas, inclusive no Brasil, conforme noticiou o The New York Times.
Atualmente, os EUA mantêm consulados em Recife, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, além de um escritório da embaixada em Belo Horizonte. O plano de redução visa diminuir em até 20% o orçamento do Departamento de Estado, como parte da agenda "America First".