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Trump se reúne com Macron na Casa Branca para discutir futuro da guerra na Ucrânia

Encontro, que ocorre no dia em que o conflito completa três anos, é feito enquanto crescem as incertezas sobre os laços dos EUA com a Europa e Kiev

Macron e Trump discutem futuro da Guerra na Ucrânia (AFP)

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Agência o Globo
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Publicado em 24 de fevereiro de 2025 às 16h45.

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Menos de uma semana após lideranças europeias serem excluídas das negociações entre os Estados Unidos e a Rússia sobre o fim da guerra na Ucrânia, o presidente francês, Emmanuel Macron, foi recebido pelo presidente americano, Donald Trump, para conversas na Casa Branca nesta segunda-feira, 24. Os líderes iniciaram o dia participando de uma reunião virtual com outros representantes do Grupo dos Sete (G7) para discutir o conflito – dando início a uma nova rodada de diálogos que, desta vez, ainda incluirá a visita do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, a Washington na quinta-feira.

No encontro com os líderes do G7, grupo que reúne algumas das economias mais desenvolvidas do mundo, Trump teria repetido suas exigências territoriais – incluindo Groenlândia, Canadá, Gaza e o Canal do Panamá – e reivindicado o acordo de terras raras da Ucrânia. Com pouco mais de um mês em seu segundo mandato, o presidente já lançou dúvidas sobre o que diplomatas veteranos consideravam a presença estabilizadora dos Estados Unidos no cenário global.

O líder americano provocou a aliança transatlântica na semana passada ao favorecer o presidente russo, Vladimir Putin, em detrimento do ucraniano Volodymyr Zelensky. Nos últimos dias, Trump chamou o presidente da Ucrânia de “ditador” e afirmou falsamente que Kiev iniciou a guerra contra Moscou. Além disso, a Europa viu com incredulidade a tentativa de Trump de impor à Ucrânia um acordo para exportar minerais raros como compensação pela ajuda militar.

Diante desse cenário, França e Reino Unido passaram a elaborar planos para uma “força de segurança” europeia, que poderia incluir até 30 mil soldados enviados para a Ucrânia em caso de um acordo de paz, publicou a rede americana CNN. A ideia, no entanto, enfrenta obstáculos, principalmente porque um acordo que Zelensky e Putin aceitem assinar parece altamente improvável – e Starmer já alertou que a força não poderia funcionar sem o apoio dos EUA.

Disputas na ONU e acordo sobre minerais

Os encontros de Trump com os dois líderes nesta semana deverão dar sinais sobre o interesse do republicano na proposta, já que a Rússia se opõe à presença de tropas da Otan na Ucrânia. Outro embate deve ocorrer nesta segunda-feira na ONU, onde os EUA propuseram uma resolução concorrente que não inclui as mesmas exigências da proposta da Ucrânia e da União Europeia (UE), que pede a retirada imediata das forças russas do território ucraniano.

Quanto ao acordo sobre minerais, Zelensky inicialmente se mostrou resistente, alegando que a proposta não incluía garantias de segurança suficientes para a Ucrânia. No domingo, porém, ele afirmou que “grandes progressos” foram feitos, embora também tenha dito que a Ucrânia quer “um bom acordo econômico, que faça parte de um verdadeiro sistema de garantias de segurança” para o país. Funcionários do governo Trump esperam fechar um acordo ainda esta semana.

Além das tensões em torno da Ucrânia, comentários polêmicos feitos pelo vice-presidente americano, JD Vance, em Munique, geraram atritos com a Europa. Vance criticou governos e valores europeus, o que foi interpretado como uma tentativa de fortalecer populistas de extrema direita no continente.

O provável futuro chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, expressou preocupação com o enfraquecimento da aliança transatlântica:

“Minha prioridade absoluta [no governo] será fortalecer a Europa o mais rápido possível para que, passo a passo, possamos realmente alcançar a independência dos EUA”, afirmou o alemão no domingo. “Pelo menos desde as declarações de Donald Trump na semana passada, está claro que os americanos, ou pelo menos parte dos americanos, neste governo, são amplamente indiferentes ao destino da Europa.”

Negociações de alto risco entre Macron e Trump

Macron, que visita os EUA no dia em que a guerra na Ucrânia completa três anos, afirmou que pretende dizer a Trump que é do interesse conjunto de americanos e europeus não demonstrar fraqueza diante de Putin durante as negociações lideradas por Washington. Ele também sugeriu que explicará como a postura de Trump em relação à Rússia pode ter enormes implicações nas relações dos EUA com a China, principal concorrente econômico e militar americano.

“Você não pode ser fraco diante do presidente Putin. Isso não é você, não é a sua marca, não é do seu interesse”, escreveu Macron. “Como você pode ser credível diante da China se for fraco diante de Putin?”.

Nesta segunda-feira, pouco antes do encontro com Trump, Macron elogiou nas redes sociais a “coragem” da Ucrânia diante do “agressor” russo. Ele reforçou que o apoio da França ao país “permanecerá inabalável” e que ele está em Washington para “reafirmá-lo e avançar com o presidente” americano.

Apesar da postura firme do francês, Trump continua demonstrando grande respeito por Putin. Recentemente, o americano afirmou que gostaria de ver a Rússia retornar ao G7, mais de dez anos após a suspensão do então G8 devido à anexação da Crimeia. O republicano também desconsiderou as queixas de Zelensky sobre a exclusão da Ucrânia e da Europa das negociações com Moscou, sugerindo que o líder ucraniano tem negociado “sem cartas na mão”.

“A administração [de Trump] deveria considerar seguir um caminho diferente, porque isso não vai funcionar”, afirmou Robert Wood, diplomata aposentado, à Associated Press. “Não nos enganemos: a Rússia começou esta guerra, e tentar reescrever essa narrativa não servirá aos melhores interesses dos Estados Unidos ou de nossos aliados.”

Muitos especialistas alertam que a postura de Trump pode comprometer o papel dos EUA no cenário global. Ian Kelly, ex-embaixador dos EUA na Geórgia, ressaltou:

“A única conclusão possível é que 80 anos de política de enfrentamento a agressores foram destruídos sem qualquer tipo de discussão ou reflexão. Isso não é ‘paz por meio da força’. Isso é paz por meio da rendição.”

Apesar das tensões, Keir Starmer concordou com Trump em um ponto: a Europa precisa aumentar os gastos com defesa. No entanto, sua ministra, Bridget Phillipson, evitou dizer se o Reino Unido aceitaria a exigência de Trump de elevar os gastos militares para 5% do PIB. Nos encontros desta semana, tanto britânicos quanto franceses devem reforçar a importância da presença contínua dos EUA na Europa e suas garantias de segurança como essenciais para a paz no Ocidente.

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