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Trump tem pouca tolerância e negociação com Brasil será longa, diz ex-diretor da Casa Branca

Benjamim Gedan, professor da universidade Johns Hopkins e ex-diretor na Casa Branca, avalia que crise era prevista, mas situação piorou muito rapidamente

Montagem com imagens dos presidentes Lula e Donald Trump (AFP)

Montagem com imagens dos presidentes Lula e Donald Trump (AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 11 de julho de 2025 às 11h09.

Última atualização em 11 de julho de 2025 às 11h10.

A negociação de tarifas comerciais entre os Estados Unidos e o Brasil será difícil por vários fatores. Um deles é que o presidente Donald Trump tende a ser incisivo em casos que envolvem processos na Justiça que ele considera injustos e motivados por questões políticas.

"A questão de Bolsonaro será particularmente difícil de resolver. Trump tem pouca tolerância com o que considera processos politicamente motivados contra aliados conservadores, como a investigação sobre a francesa Marine Le Pen", diz Benjamim Gedan, professor e fellow da Escola de Estudos Internacionais Avançados da universidade Johns Hopkins, nos EUA, em conversa com a EXAME.

"Ao mesmo tempo, muitos dos apoiadores de Trump são grandes fãs de Bolsonaro e profundamente céticos em relação ao Supremo Tribunal Federal (STF)", afirma Gedan, que foi diretor de América do Sul no Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca no governo do presidente Barack Obama.

Por outro lado, avalia Gedan, "Lula e os ministros da Suprema Corte do Brasil não serão facilmente influenciados em uma questão que consideram crucial para a defesa da democracia brasileira".

Assim, a situação deverá demorar a se resolver.

"É difícil imaginar uma resolução rápida, especialmente considerando o número e a complexidade das questões levantadas por Trump em sua carta", afirma.

No documento, publicado na quarta-feira, 9, Trump diz ainda que o Brasil deveria retirar processos envolvendo empresas de tecnologia dos Estados Unidos e remover barreiras ao comércio com os americanos.

O líder americano diz na carta que os EUA possuem déficit comercial com o Brasil, mas isso não é verdade. De janeiro deste ano até agora, o Brasil vendeu US$ 20 bilhões em produtos aos EUA, e comprou US$ 21,6 bilhões em itens americanos. Assim, os EUA tiveram superávit de US$ 1,6 bilhão na balança comercial.

Após deixar a Presidência, Trump foi alvo de quatro grandes processos na Justiça americana, por razões como a invasão do Capitólio por seus apoiadores, em 6 de janeiro de 2021. Ele foi condenado por fraude fiscal envolvendo pagamento de suborno, em 2024, mas a sentença foi anunciada apenas depois de ele vencer a reeleição. Assim, o juiz do caso não aplicou pena de prisão nem multa. Após sua vitória nas urnas, os outros processos foram retirados ou arquivados.

Benjamim Gedan, professor e fellow da Universidade Johns Hopkins (Divulgação)

Crise 'inevitável'

Para Gedan, uma crise na relação entre Lula e Trump era, de certa forma, inevitável.

"Trump é um crítico dos Brics, admira Bolsonaro, discorda de Lula em uma série de questões, incluindo a guerra de Israel contra o Hamas, e acredita que a Suprema Corte do Brasil está silenciando vozes conservadoras", diz.

"Os repetidos confrontos entre os Estados Unidos e a Colômbia nos últimos meses prenunciaram essa disputa. No entanto, a escala e a rapidez da escalada foram surpreendentes", prossegue.

"Lula evitou provocar Trump, apesar de visitar Pequim, sediar uma cúpula do Brics e criticar indiretamente a política comercial dos EUA", afirma.

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