Terras raras: pacto sobre o acesso aos recursos minerais ucranianos parece cada vez mais distante (AFP)
Agência de notícias
Publicado em 2 de março de 2025 às 10h35.
O grande interesse do presidente americano, Donald Trump, nas reservas minerais da Ucrânia pode ter parecido surgir do nada, depois que ele enviou o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, a Kiev este mês para negociar com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky. Mas os minerais críticos estão na mente de Trump desde pelo menos 2017, quando ele assinou um decreto sobre o assunto no primeiro mandato.
"Eu quero a segurança das terras raras (grupo de metais usados em setores de alta tecnologia)", disse Trump recentemente.
Não foi a primeira vez, no atual mandato, que o presidente americano mencionou a possibilidade de assumir os recursos minerais de um país — ele já falou sobre a aquisição de minerais da Groenlândia e do Canadá. De fato, a apropriação das riquezas de outros países tornou-se a meta central da política externa de Trump.
Na terça-feira, após quase duas semanas de negociações, autoridades ucranianas e americanas indicaram que haviam alcançado um acordo preliminar de partilha das receitas com os minerais críticos da Ucrânia. Mas, após um bate-boca entre Trump e Zelensky na Casa Branca na sexta-feira, 28, o pacto sobre o acesso aos recursos minerais ucranianos parece cada vez mais distante.
As substâncias são fundamentais para as tecnologias limpas e estão em alto risco de interrupção na cadeia de suprimentos, segundo o Departamento de Energia dos EUA. Encontrados no mundo todo, elas são essenciais para tecnologias comuns (baterias de carros elétricos) e especializadas (sistemas de mísseis). Devido à competição com a China, a busca por esses recursos tem sido fundamental aos EUA há quase uma década. Em sua última viagem internacional do mandato, seu antecessor, Joe Biden, visitou uma ferrovia apoiada pelos EUA em Angola, que ajudaria a transportar minerais críticos da África Central até a costa para serem exportados.
Funcionários do Departamento de Estado de então formaram um grupo de nações aliadas para discutir a criação ou o fortalecimento de cadeias de suprimento de minerais críticos fora da China. Eles criaram um fórum para que países ricos em minerais pudessem conversar com potenciais clientes, entre nações e empresas estrangeiras.
Ucrânia, Groenlândia e Canadá estavam incluídos no grupo. Na verdade, Ucrânia e Estados Unidos estiveram perto de assinar um acordo no fim do ano passado, no qual o país europeu se comprometia a avisar os EUA sobre potenciais projetos, permitindo que empresas americanas ou de países aliados pudessem ter tempo suficiente para licitar contratos. Não tem sido esse o enfoque de Trump.
"Trump e seus assessores estão falando de um jeito que não é necessário", disse José Fernandez, que trabalhou no Departamento de Estado durante o governo Biden. "São países que querem investimento. Mas querem parcerias. Eles não estão buscando um relacionamento colonial."
Fernandez acrescentou que esses países são atraídos por parceiros americanos, pois eles não gostam das opções mais coercitivas, incluindo as propostas da China.
Em setembro, Zelensky começou a apresentar um "plano de vitória" sobre a Rússia a governos aliados, bem como a Trump, que então concorria à Presidência. O plano oferecia, entre outras coisas, parcerias em negócios com minerais críticos.
Fernandez deveria assinar um memorando de entendimento em outubro com a vice-primeira-ministra da Ucrânia, Yulia Svyrydenko. Mas ela não apareceu em Washington. A assinatura aconteceria, então, em uma conferência sobre a reconstrução da Ucrânia em Varsóvia, na Polônia, em novembro, mas novamente ela não apareceu.
Naquele momento, Trump já havia vencido a eleição, e funcionários do governo ucraniano disseram a diplomatas dos EUA que preferiam esperar para assinar um acordo com a administração que estava por vir. Os funcionários já haviam conversado com alguns empresários estrangeiros, incluindo Ronald Lauder, herdeiro de uma fortuna de cosméticos e amigo de Trump, sobre oportunidades de investimento no setor mineral da Ucrânia.
Na semana passada, Zelensky recuou das condições que Scott Bessent, secretário do Tesouro americano, lhe apresentou em Kiev. A proposta exigia que a Ucrânia entregasse aos EUA metade de suas receitas com recursos naturais, incluindo minerais, gás e petróleo, bem como os lucros de portos e outras infraestruturas. Trump também exigiu US$ 500 bilhões como contrapartida pela ajuda em armas e dinheiro dada à Ucrânia durante a administração Biden.
Enquanto isso, a China tem investido há anos para desenvolver uma dominância global na extração e processamento de minerais críticos.