Redação Exame
Publicado em 17 de setembro de 2025 às 12h12.
Última atualização em 17 de setembro de 2025 às 12h47.
A União Europeia apresentou nesta quarta-feira uma proposta para restringir laços comerciais com Israel e impor sanções contra ministros do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, na medida mais contundente em resposta à guerra na Faixa de Gaza. A proposta, que também inclui sanções contra dez integrantes do Hamas, precisa ser aprovada por países-membros antes de ganhar validade, e deve encontrar resistência interna — sobretudo nas sanções contra indivíduos, que exigem unanimidade por parte dos europeus.
"Hoje, propusemos sancionar ministros extremistas e colonos violentos, e suspender as concessões comerciais com Israel", afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em uma publicação nas redes sociais. "E suspender o apoio bilateral a Israel, sem afetar nosso trabalho com a sociedade civil israelense ou com o Yad Vashem".
A proposta suspenderia parcialmente o acordo de associação da UE com Israel, o que faria o país ser tarifado nas mesmas condições que nações sem acordo comercial com o bloco. As tarifas adicionais corresponderiam a cerca de €227 milhões (R$ 1,4 bilhões na cotação atual) por ano, principalmente sobre produtos do setor agrícola.
A Europa é o principal parceiro comercial de Israel, com exportações que em 2024 somaram 15,9 bilhões de euros (R$ 99,8 bilhões).
"Os eventos horríveis que ocorrem diariamente em Gaza devem cessar. É necessário um cessar-fogo imediato, acesso irrestrito a toda a ajuda humanitária e a libertação de todos os reféns mantidos pelo Hamas. A UE continua sendo a maior doadora de ajuda humanitária. Também continuamos sendo defensores inabaláveis da solução de dois Estados, que está sendo minada pelas recentes ações do governo israelense em relação aos assentamentos na Cisjordânia", acrescentou Von der Leyen.
A Comissão também propôs sanções contra dois ministros israelenses: o ministro da Segurança Nacional Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich, ministro das Finanças — ambos conhecidos por suas posições ultranacionalistas.
Uma medida contra ambos já havia sido proposta em agosto de 2024, mas não avançou devido à falta de consenso. Para que as sanções pessoais sejam aprovadas, é necessário voto unânime.
Também foi proposta a suspensão de cerca de €20 milhões (R$ 125 milhões) em apoio financeiro à cooperação técnica com Israel.
No âmbito comercial, as decisões exigem apenas maioria qualificada, o que torna a aprovação tecnicamente mais viável, mas politicamente difícil, segundo diplomatas europeus ouvidos em Bruxelas.
Em meio ao avanço da ofensiva militar israelense contra a Cidade de Gaza, com o início da operação terrestre na terça-feira, autoridades e porta-vozes europeus manifestaram preocupação com os novos desdobramentos do conflito, pedindo restrição por parte do Estado judeu.
Países do bloco mostram cada vez mais insatisfação com os rumos da guerra, com membros importantes do bloco, como a França, pregando o reconhecimento de um Estado palestino durante a Assembleia Geral da ONU deste ano, e integrantes como a Espanha anunciando embargos unilaterais a Israel.
"A UE tem reiteradamente instado Israel a não intensificar sua operação na Cidade de Gaza", disse o porta-voz europeu Anouar El Anouni na terça-feira. "Uma intervenção militar levará a mais destruição, mais mortes e mais deslocamentos, e temos sido claros que isso também agravará a já catastrófica situação humanitária e colocará em risco a vida dos reféns".
Também na terça, o governo israelense pediu que a UE não apresentasse a proposta de embargo aos seus países-membros. O ministro das Relações Exteriores Gideon Saar enviou uma carta para Von der Leyen, na qual indicou que "pressões por meio de sanções não funcionarão".
"Essa proposta sem precedentes, que nunca foi aplicada a nenhum outro país, é uma tentativa clara de prejudicar Israel enquanto ainda estamos lutando uma guerra imposta a nós pelo ataque terrorista de 7 de outubro", escreveu Saar, acrescentando que Israel não foi notificado nem consultado sobre a medida, e alertando que ela poderá "fortalecer o Hamas" e "colocar em risco os esforços para encerrar a guerra".
Em Bruxelas, a cúpula da UE tentou apresentar a proposta como uma medida humanitária, e não como uma afronta a Israel. "Quero ser muito clara: o objetivo não é punir Israel", disse a chanceler da UE, Kaja Kallas. "A guerra precisa acabar. O sofrimento deve cessar, e todos os reféns devem ser libertados."
Diplomatas afirmam que as medidas dificilmente serão aprovadas, dadas as profundas divisões entre os 27 Estados-membros da União Europeia em relação à atuação de Israel em Gaza.
O ministro das Relações Exteriores da República Tcheca, Jan Lipavsky, afirmou ontem que conversou com Saar e prometeu se opor a propostas que envolvam a suspensão de acordos comerciais entre a UE e Israel.
Contudo, espaço de crítica sobre o Estado judeu tem crescido. O Parlamento Europeu aprovou na semana passada uma resolução não vinculativa apoiando a proposta de Von der Leyen para suspender o apoio bilateral e suspender parcialmente o acordo comercial UE-Israel.
Os parlamentares também pediram sanções contra o ministro das Finanças de extrema direita de Israel, Bezalel Smotrich, e contra o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir. (Com AFP, NYT e Bloomberg)
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, enviou uma carta à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, classificando a iniciativa como uma “tentativa clara de prejudicar Israel enquanto ainda estamos lutando uma guerra imposta a nós pelo ataque terrorista de 7 de outubro”.
Em declaração pública, Saar disse que as sanções seriam respondidas “em conformidade” e advertiu que “as ações contra Israel prejudicarão os interesses da própria Europa”. Ele também acusou Von der Leyen de apresentar recomendações “moral e politicamente distorcidas” e afirmou que Israel seguirá lutando com o apoio de aliados europeus.
*Com informações do O Globo e EFE