Agência de notícias
Publicado em 2 de setembro de 2025 às 21h07.
A Venezuela acusou os EUA de usar Inteligência Artificial para criar um vídeo sobre o ataque a um navio no Caribe que, segundo Washington, transportava drogas e havia deixado o país caribenho em direção aos Estados Unidos. Mais cedo, o presidente Donald Trump, disse que os militares dos Estados Unidos "atiraram" em um barco que transportava drogas da Venezuela, acrescentando mais tarde que "11 terroristas" foram mortos na ação.
No Telegram, o ministro das Comunicações da Venezuela, Freddy Ñáñez, afirmou que "parece" que o secretário de Estado americano, Marco Rubio, que reiterou as declarações sobre o ataque, "continua mentindo para o seu presidente" e, "depois de levá-lo a um beco sem saída, agora lhe oferece um vídeo com IA como 'prova'".
"Chega de Marco Rubio incentivando a guerra e tentando manchar as mãos do presidente Donald Trump com sangue. A Venezuela não é uma ameaça", escreveu o ministro.
Segundo a imprensa venezuelana, o ministro consultou a IA da Google, Gemini, para analisar se o vídeo postado por Trump sobre o ataque era verdadeiro. Em resposta, a ferramenta afirma que é "altamente provável que tenha sido criado por IA".
Mais cedo, Rubio classificou o ataque à embarcação como "letal", e disse que os EUA continuarão utilizando "todo o seu poder" para "erradicar" os cartéis de drogas. As declarações ocorrem em meio à crescente tensão com o país sul-americano e a presença militar dos Estados Unidos nas águas do Caribe para combater o narcotráfico.
— Aconteceu há poucos instantes — disse Trump ao anunciar o ataque. — E tem mais de onde isso veio. Temos muita droga entrando em nosso país, chegando há muito tempo, e nós simplesmente... elas vieram da Venezuela, e em grande quantidade. Muita coisa está saindo da Venezuela.
Mais tarde, Trump explicou em sua rede social, Truth Social, que o ataque ocorreu enquanto os traficantes do grupo Tren de Aragua se encontravam em águas internacionais, "transportando narcóticos ilegais com destino aos Estados Unidos". "Que isso sirva de aviso a qualquer pessoa que sequer pense em trazer drogas para os Estados Unidos da América. Cuidado!", escreveu.
🇺🇸 ON VIDEO: U.S. Military Forces conducted a strike against Tren de Aragua Narcoterrorists. The strike occurred while the terrorists were at sea in International waters transporting illegal narcotics, heading to the U.S. The strike resulted in 11 terrorists killed in action. pic.twitter.com/iszHE0ttxQ
— The White House (@WhiteHouse) September 2, 2025
"Como o presidente acaba de anunciar há poucos instantes, hoje as Forças Armadas dos EUA realizaram um ataque letal no sul do Caribe contra um navio de drogas que havia partido da Venezuela e era operado por uma organização designada como narcoterrorista", postou Rubio nas redes sociais, pouco antes de embarcar para sua primeira viagem oficial ao México.
Depois, Rubio disse a repórteres que "o presidente Trump deixou muito claro que vai utilizar todo o poderio dos Estados Unidos para enfrentar e erradicar esses cartéis de drogas, não importa de onde operem".
De acordo com o New York Times, autoridades do Pentágono confirmaram após a entrevista coletiva que houve um "ataque de precisão" contra uma embarcação, e acrescentaram que mais informações serão disponibilizadas posteriormente. Segundo o jornal americano, o uso do termo "ataque de precisão" implicaria um ataque aéreo, mas o funcionário se recusou a dar mais detalhes.
A manobra dos EUA nas águas do Caribe prevê o envio de cerca de 4.000 soldados para perto do território marítimo venezuelano. Também foram enviados ao menos três navios de guerra contratorpedeiros — USS Jason Dunham, USS Gravely e USS Sampson —, além do cruzador USS Lake Erie, do submarino nuclear USS Newport News e do Grupo de Prontidão Anfíbia Iwo Jima, para perto do litoral do país.
O ditador venezuelano, Nicolás Maduro — acusado pelos EUA de supostamente liderar uma organização criminosa chamada Cartel dos Soles — considera que se trata de uma ação para exercer "máxima pressão" contra ele por parte do governo do presidente Trump. Washington, cujas relações diplomáticas com Caracas estão rompidas desde 2019, aumentou para US$ 50 milhões (mais de R$ 270 milhões, na cotação atual) a recompensa por informações que levem à prisão de Maduro.
A movimentação militar americana provocou uma reação venezuelana, que colocou suas forças em prontidão e reforçou a convocação de reservistas — segundo Maduro, apenas a Milícia Nacional Bolivariana teria mobilizado um efetivo de 4,5 milhões de pessoas, número apontado como superdimensionado por especialistas.
Na segunda-feira, o líder venezuelano afirmou que está preparado para passar à "luta armada" caso seu país seja invadido, após a mobilização militar dos EUA nas águas do Caribe. O anúncio vem na esteira de uma série de declarações belicosas e nacionalistas do chavista — que tenta reforçar sua base de apoio, em um momento em que a Venezuela enfrenta mais uma crise econômica e institucional.
— Nós estamos em um período especial de preparação máxima. E em qualquer circunstância, vamos garantir o funcionamento do país — disse Maduro durante um encontro com a imprensa internacional em Caracas. — Se a Venezuela for agredida, passaria imediatamente ao período de luta armada em defesa do território nacional e da História e do povo da Venezuela.
Além da questão venezuelana, Trump também abordou outros temas durante a entrevista coletiva, prometendo uma repressão federal à criminalidade em Chicago, classificada pelo presidente nesta manhã como a "mais perigosa do mundo".
— Vamos entrar — declarou Trump quando questionado se já havia tomado uma decisão sobre o envio da Guarda Nacional para a cidade, sem dizer quando as tropas seriam enviadas.
Trump tem ameaçado enviar milhares de militares a redutos democratas como Chicago e Baltimore, cidades que frequentemente critica como zonas dominadas por violência e por imigrantes indocumentados. Segundo fontes familiarizadas com o planejamento do governo e ouvidas pela CNN americana, a operação federal em preparação para Chicago pode começar ainda esta semana e deve envolver agentes do Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas (ICE), a Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP) e apoio da Guarda Nacional.
A medida reacende o embate entre a Casa Branca e cidades lideradas por prefeitos democratas, que criticam o uso de forças federais em operações de segurança interna.
Pouco após a fala de Trump, o governador de Illinois, J.B. Pritzker, alertou que o governo planejava usar tropas para "invadir comunidades latinas" em Chicago, detendo pessoas a caminho do trabalho ou enquanto levavam seus filhos à escola.
— Nada disso tem a ver com combater o crime ou tornar Chicago mais segura — disse Pritzker em entrevista coletiva. — É tudo um grande espetáculo.
Também nesta terça-feira, um juiz federal dos Estados Unidos decidiu que o governo Trump violou a lei federal ao enviar tropas da Guarda Nacional a Los Angeles durante os protestos de junho contra as políticas antimigratórias de sua administração. A decisão, emitida pelo juiz Charles Breyer, do Tribunal Distrital dos EUA, proíbe o uso de tropas militares na Califórnia — ou de qualquer outra força armada no estado — para “executar as leis”.
Em outra frente, o presidente disse ainda que a sede do Comando Espacial dos EUA será transferida do Colorado para o Alabama, cumprindo um plano de seu primeiro mandato que foi cancelado durante o governo de Joe Biden, que, segundo ele, "obstruiu injustamente" a mudança. Também desmentiu os rumores sobre sua saúde que circulavam nas redes sociais há dias, chamando-os de "notícias falsas".