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Xi Jinping tenta colocar fim à deflação na China, mas pode comprar briga com elites locais

A deflação industrial prolongada corrói as margens de lucro e desestimula os investimentos, o que preocupa as autoridades

Com nova matriz, Xi pode criar embates com elites locais do Partido Comunista (Alexander NEMENOV /AFP)

Com nova matriz, Xi pode criar embates com elites locais do Partido Comunista (Alexander NEMENOV /AFP)

Publicado em 1 de julho de 2025 às 15h59.

Última atualização em 1 de julho de 2025 às 17h07.

O presidente chinês Xi Jinping iniciou uma nova ofensiva econômica contra um problema que vem se aprofundando no país: a disputa por preços cada vez mais baixos em setores estratégicos.

A decisão ocorre em meio à preocupação crescente com a deflação e os riscos de desaceleração industrial que ameaçam a estabilidade da segunda maior economia do mundo.

O alerta foi dado pelo Comitê Central de Assuntos Econômicos e Financeiros, liderado por Xi. A orientação dada às empresas é de que a competição com base em preços predatórios será reprimida. Setores como o automotivo — especialmente os carros elétricos —, a indústria solar e a siderurgia estão no centro da nova diretriz, segundo a Economist.

A iniciativa também prevê limitar a produção em excesso, encorajar fusões e fechar unidades consideradas obsoletas ou poluentes.

Setores em queda

O movimento do presidente chinês ocorre em um momento delicado. Segundo dados oficiais, 25 dos 30 principais setores industriais registraram queda nos preços em maio. Em oito deles — como mineração de carvão, siderurgia e produção de baterias — as quedas foram ainda mais acentuadas.

A deflação industrial prolongada corrói margens de lucro e desestimula investimentos, aprofundando a chamada “involução econômica” — expressão usada por Xi para definir a competição por volume e preços baixos, em detrimento da qualidade e da inovação.

Um dos exemplos mais emblemáticos é o setor de veículos elétricos. Modelos com preços abaixo de US$ 8 mil passaram a ser oferecidos por montadoras locais, que utilizam brechas legais para oferecer descontos ainda maiores. O resultado tem sido uma pressão insustentável sobre as empresas menores, de acordo com a Economist.

A estratégia não é nova. Entre 2012 e 2016, o governo chinês promoveu reformas estruturais que incluíram o fechamento de fábricas ineficientes, fusões forçadas e limites de produção. A política teve impacto positivo: os preços industriais voltaram a subir a partir de 2016 após anos em queda.

Embate com províncias?

Desta vez, o cenário é mais complexo. Além da pressão deflacionária, a demanda interna segue fraca. O consumo das famílias não se recuperou plenamente após a pandemia, e o setor imobiliário — motor histórico da economia — ainda enfrenta instabilidade.

Outro ponto sensível é o papel dos governos locais, que têm interesse direto na manutenção da capacidade produtiva e, em muitos casos, subsidiam empresas para manter empregos e arrecadação. A nova política de Xi poderá gerar embates políticos e exigir forte articulação entre o poder central e as províncias.

A orientação oficial é para que setores estratégicos — como o solar, que representa uma fatia importante das exportações chinesas — passem a focar em inovação, valor agregado e estabilidade de preços. Empresas e associações comerciais foram convocadas a elaborar mecanismos de autorregulação.

O comércio eletrônico também será alvo. O governo quer impedir que plataformas forcem vendedores a reduzir preços excessivamente ou pratiquem políticas como reembolsos automáticos por variação de valor, que distorcem o mercado.

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