Repórter
Publicado em 22 de novembro de 2025 às 18h54.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, declarou neste sábado, 22 de novembro, que as consultas com os Estados Unidos e outros parceiros internacionais devem garantir que "os crimes cometidos pela Rússia não sejam perdoados".
O posicionamento do chefe de estado ocorre dias antes da delegação ucraniana embarcar para reuniões na Suíça, onde serão discutidos termos de um possível plano de paz.
Zelensky destacou que os encontros não se limitam à negociação de cláusulas específicas, mas têm como objetivo impedir que ações militares russas recebam qualquer tipo de recompensa diplomática ou jurídica. "Trata-se de assegurar que crimes contra pessoas e contra a humanidade não possam obter perdão ou compensações", afirmou o presidente em pronunciamento à nação.
A delegação enviada a Genebra será composta por nove representantes e liderada pelo chefe de gabinete Andrii Yermak e o chefe negociador Rustem Umerov. Segundo o governo ucraniano, a equipe foi instruída a proteger os interesses estratégicos do país e atuar para evitar uma nova ofensiva militar da Rússia. Zelensky disse que “a Rússia já repetiu no passado crimes contra nosso povo e outros povos”, e que não se pode permitir que esse padrão continue.
As reuniões coincidem com o Dia da Memória do Holodomor, lembrado anualmente na Ucrânia pelas vítimas da fome provocada pelo regime soviético entre 1932 e 1933. Segundo o Instituto Nacional da Memória da Ucrânia, ao menos 4,5 milhões de pessoas morreram no período. Em sua fala, Zelensky associou a política de extermínio stalinista à atual ofensiva militar da Rússia. “É uma ideologia herdada”, disse.
Durante o sábado, o presidente manteve contato com líderes europeus, incluindo o primeiro-ministro da Holanda, Dick Schoof, e representantes dos países nórdicos e bálticos. Alguns deles participavam da Cúpula do G20, em Joanesburgo, África do Sul.
Em paralelo às conversas diplomáticas, circula entre governos aliados um plano de paz dos Estados Unidos composto por 28 pontos. Um dos trechos, identificado como ponto 26, propõe que “todas as partes neste conflito receberão plena anistia por suas ações durante a guerra e concordam em não formular exigências ou reclamações no futuro”.
A proposta levanta preocupações entre autoridades ucranianas, que rejeitam qualquer caminho que ofereça imunidade a crimes de guerra. Zelensky reiterou que a paz “deve ser baseada em segurança garantida e justiça”.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta semana que deseja que a Ucrânia aceite um acordo amplo que ele propôs para encerrar o conflito com a Rússia até a próxima quinta-feira, 27, dando a Kiev menos de uma semana para decidir se concorda com uma proposta que incluiria concessões significativas à Rússia.
Em entrevista ao canal Fox News, Trump disse que, para os EUA, "quinta-feira é um momento apropriado" para que a Ucrânia tome uma decisão sobre o plano. "Estamos nisso por um único motivo. Queremos que a matança pare", acrescentou. Ele ainda sugeriu que o prazo poderia ser estendido "se as coisas estiverem indo bem".
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reconheceu nesta sexta-feira que seu país está enfrentando um dos maiores desafios de sua história, diante do plano elaborado pelo governo Trump para terminar a guerra, que já dura quase quatro anos. "Este é um dos momentos mais difíceis da nossa história", disse Zelensky em um pronunciamento em vídeo. Ele alertou que a Ucrânia pode estar diante de uma escolha difícil: "perder a dignidade ou correr o risco de perder um parceiro fundamental".
O plano proposto pelos Estados Unidos inclui várias concessões territoriais, limitações no tamanho das forças armadas ucranianas e outras disposições que Zelensky já havia rejeitado anteriormente, segundo informações do Wall Street Journal. O governo Trump busca aumentar a pressão sobre Zelensky, que enfrenta tensões políticas internas e novos desafios militares. A Rússia continua avançando no leste da Ucrânia, e os ataques ao sistema energético ucraniano têm deixado grande parte do país com eletricidade limitada a algumas horas por dia.
O governo de Donald Trump dispõe de várias ferramentas para aumentar a pressão sobre a Ucrânia, como cortar a assistência de inteligência ou o fornecimento de armas. Zelensky, por sua vez, se reuniu por telefone com os líderes da França, Reino Unido e Alemanha para discutir propostas de paz. Em sua fala, ele reafirmou que não daria "ao inimigo motivos para dizer que a Ucrânia não quer a paz", destacando a importância da solidariedade europeia. "A Ucrânia é agora o único escudo que separa a vida confortável na Europa dos planos de Putin", disse Zelensky.
O plano proposto pelos EUA, com 28 pontos, exige que a Ucrânia ceda territórios à Rússia e aceite o controle efetivo de Moscou sobre outras partes do território ucraniano, onde a linha de frente seria bloqueada. O tamanho do exército ucraniano seria limitado a 600 mil soldados, e sua adesão à OTAN seria encerrada. Além disso, o plano propõe que Kiev realize eleições em 100 dias. Muitos desses pontos atendem a demandas de longa data do presidente russo Vladimir Putin, como a retirada da Ucrânia de territórios ocupados por suas forças.
Além do plano de 28 pontos, os Estados Unidos propuseram garantias de segurança para a Ucrânia caso a Rússia retome a guerra, incluindo assistência logística e de inteligência. No entanto, o documento não compromete os EUA a fornecer assistência militar direta. Essas garantias seriam válidas por 10 anos, com possibilidade de prorrogação.
A maioria dos ucranianos continua amplamente contrária a concessões territoriais, segundo uma pesquisa realizada em outubro pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev. O levantamento mostra que 71% dos ucranianos se opõem à transferência de territórios controlados pela Ucrânia para a Rússia.
(Com informações da agência EFE)