Rodolfo Eschenbach, presidente da Accenture para a América Latina: 40 vagas estão abertas no momento de publicação desta matéria (PC Pereira / Rec'N'Play)
Repórter
Publicado em 17 de outubro de 2025 às 08h55.
Quinze anos atrás, o Porto Digital no Recife ainda engatinhava. O hub de inovação, que hoje abriga 400 empresas e movimenta bilhões de reais, precisava de um empurrão para chegar onde está.
A empresa de tecnologia Accenture foi uma das primeiras a desembarcar no local, apostando na diversificação de suas operações fora do eixo Rio-São Paulo.
"A ideia sempre foi diversificar. O Sudeste estava saturado, e nós precisávamos de uma nova base para expandir", explica o diretor-executivo Luis Fernando Silva.
De forma resumida, a Accenture é uma consultoria global que ajuda empresas a se adaptarem às novas demandas tecnológicas, como inteligência artificial (IA), automação e computação em nuvem.
No ano fiscal encerrado em agosto de 2025, a Accenture registrou um faturamento de US$ 69,7 bilhões, um crescimento de 7% em relação ao período anterior.
Silva, que se considera "Pernambucano por adoção" após 12 anos na cidade, chegou a Recife em 2012 para ajudar a empresa a crescer em um mercado com grandes desafios, mas também com um potencial imenso.
"Recife tinha o que procurávamos: boas universidades, mão de obra qualificada e uma cidade em crescimento", afirma.
Quando a Accenture chegou a Recife, a operação local tinha cerca de 300 colaboradores.
Hoje, são mais de 3.000 espalhados por toda a região Norte e Nordeste — e 40 vagas estão abertas no momento de publicação dessa matéria.
O movimento vai em contrapartida com as notícias mais recentes da Accenture nos EUA. Segundo o jornal Financial Times, a consultoria demitiu 11 mil pessoas entre junho e agosto de 2025 como parte de um programa de reestruturação de US$ 865 milhões.
Por aqui, Recife se tornou o centro principal para a região, com outras cidades como Campina Grande, Fortaleza e Belém entrando na expansão, cada uma com um foco específico.
A chave para esse crescimento, segundo Rodolfo Eschenbach, presidente da Accenture para a América Latina, foi o foco em tecnologia e formação local.
"O diferencial está na forma como conseguimos montar equipes maduras e organizadas, capazes de entregar projetos complexos", disse o executivo em painel realizado durante o evento Rec'N'Play.
A expansão da Accenture no Nordeste não se limitou apenas ao aumento da equipe. Em Fortaleza, por exemplo, a empresa fez sua primeira aquisição fora do eixo Rio-São Paulo: a Morphus, especializada em cibersegurança.
A presença da Accenture em Belém, iniciada em maio de 2023, já conta com mais de 100 colaboradores, e foi escolhida pela parceria com uma universidade local.
"O Norte tem um potencial imenso. Em muitos aspectos, é um mercado ainda por explorar, mas com muito a oferecer", afirma Eschenbach.
O executivo aponta a região como um centro estratégico para a construção de data centers globais, devido à abundância de energia limpa — como a solar e a eólica — recursos essenciais para o processamento de inteligência artificial (IA).
O impacto da Accenture no Nordeste vai além da operação local.
"Hoje, projetos sofisticados, que antes eram enviados para a Índia, agora são feitos em Recife. A nossa operação local se tornou parte essencial do nosso modelo global", afirma Eschenbach.
Segundo o executivo, entre 300 a 400 pessoas da Accenture estão diretamente envolvidas na exportação de serviços para os Estados Unidos.
Em Recife, a empresa apoia o Casa Zero, um projeto social focado em ajudar jovens de comunidades carentes a se posicionarem no mercado de trabalho.
"É um projeto que vai além da doação de dinheiro. Nós doamos nosso tempo e expertise, com o objetivo de criar oportunidades reais para os jovens", diz Luis Fernando Silva.
A Accenture está exportando a metodologia do projeto para São Paulo, onde a empresa já fez parceria com a Gerando Falcões. A ideia é expandir o conceito para outros centros urbanos.
"O foco é sempre transformar as próximas gerações. Isso é o que nos move", afirma Eschenbach.