Verônica Dourado, fundadora do Ôh Farofeiro: “Não tinha aquela ansiedade de que precisava dar certo rápido e tive tempo de me especializar, o que geralmente não acontece com muitas mulheres que empreendem”.
Jornalista especializada em carreira, RH e negócios
Publicado em 27 de janeiro de 2025 às 17h44.
Última atualização em 27 de janeiro de 2025 às 18h06.
Empreender nunca esteve nos planos da baiana Verônica Dourado. Formada em enfermagem e com especialização voltada para auditoria em saúde, atuou mais de 12 anos na área e passou por diversos setores, como recepção, digitalização de laudos, instrumentação cirúrgica e cuidado ao paciente. Até que decidiu comprar um carrinho de churrasco para o cunhado que estava desempregado e viu sua vida mudar completamente.
“Ele recusou o presente, pois estava em busca de outras oportunidades, mas optei por guardar caso mudasse de ideia. Um pouco depois, uma amiga comentou que gostaria de usá-lo no seu aniversário e decidi testar a ideia. Para a minha surpresa, fechei mais quatro eventos”, conta.
Assim, em 2019, nasceu a Ôh Farofeiro, uma food bike especializada em churrasco que já realizou eventos até para a Ivete Sangalo. Como reconhecimento do trabalho que vem desempenhando, ela conquistou o terceiro lugar na etapa nacional do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2024 na categoria MEI e, anteriormente, o primeiro lugar no Prêmio Academia Assaí 2023 na categoria inovação.
Apesar de não abrir o faturamento, o negócio projeta um crescimento de 30% em 2025, além da entrada no setor de casamentos e a venda de espetinhos congelados para o setor corporativo. À EXAME, Verônica conta o caminho que percorreu até aqui.
Tudo começou de forma despretensiosa e apenas para ganhar um extra. “Não achava que o negócio poderia pagar minhas despesas. Trabalhava como enfermeira de segunda à sexta, e dois sábados no mês até o meio dia. Os eventos ficavam apenas para os finais de semana de folga”, conta.
Mas a ideia foi bem aceita em Salvador e a demanda começou a aumentar. Nem mesmo a pandemia atrapalhou o interesse das pessoas. “Ficamos um tempo parados, mas assim que o isolamento acabou as contratações voltaram e tive de escolher entre o trabalho CLT e o empreendedorismo. Já estava perdendo eventos por não ter tanta disponibilidade e resolvi tentar”, lembra.
Verônica ressalta que pautou a decisão em dois pontos: não conseguir crescer da maneira que esperava na profissão e o apoio de sua coordenadora na época, que deixou as portas abertas. “Quando iniciei na enfermagem, meu sonho era atuar com auditoria, mas a oportunidade não apareceu.”
Em paralelo a isso, ela passou em uma seleção para ser enfermeira na Alemanha, que foi como uma virada de chave. “Isso fez com que eu acreditasse em mim mesma. Aquele sentimento de que somos capazes de qualquer coisa se tivermos dedicação e disciplina.”
Antes mesmo de saber que a Ôh Farofeiro seria seu trabalho em tempo integral, Verônica teve o cuidado de pensar de forma inclusiva e sempre ouvindo as demandas e necessidades dos clientes, que são diferentes. “Sabia que precisava ir além das carnes e elaborei um cardápio que atendesse os vegetarianos, por exemplo. Foquei também em oferecer uma experiência diferenciada, com um visual bonito, seguindo as normas de qualidade, segurança, higiene, e com o mínimo desperdício.” Atualmente, a empresa conta com a possibilidade de um bufê completo.
Quando decidiu se dedicar 100% ao empreendedorismo, buscou cursos gratuitos para se capacitar e entender a fundo como gerir uma empresa de ponta a ponta. Assim, soube do programa Meu Negócio É Meu País, desenvolvido pela Aliança Empreendedora e a marca Kuat, da The Coca-Cola Company, voltada para fortalecer empreendedoras no setor de alimentação.
A ação oferece mentorias e capacitações em gestão, marketing e finanças, além de fomentar uma rede de apoio e troca de experiências entre as participantes. “Estavam selecionando projetos em Salvador e fui uma das 30 selecionadas. A partir daí comecei a me ver realmente como empreendedora e, à medida que aplicava o que aprendia, via os resultados se potencializarem”, diz.
Segundo ela, a iniciativa foi fundamental para estruturar a empresa, que cresceu 500% após o curso, e para impulsionar sua autoconfiança. “Sempre acreditei no meu produto, mas não tanto em mim como empresária, já que sou do setor de saúde e nunca pensei em ter uma empresa”. Verônica destaca, ainda, o aprendizado em gestão financeira.
“Tinha pouco conhecimento nessa área e passei a anotar todos os meus gastos, fazer planejamento de caixa e implementar pró-labore”, afirma. “Para sua empresa crescer, você precisa crescer junto”, afirma. Nesse sentido, construir uma rede de contatos para trocar ideias, implementar novos projetos e se inspirar, foi fundamental. “Ando de mãos dadas com outros profissionais”.
Para Verônica, o sucesso está pautado em acreditar na ideia. “Sempre soube do potencial do negócio e só desistiria depois de tentar. Antes de tudo Ôh Farofeiro foi uma paixão pessoal e não me importei com a opinião de algumas pessoas, que não conheciam meu trabalho, e falavam que não daria certo”, conta. Mas ela enfatiza que o caminho foi um pouco mais simples, pois não empreendeu por necessidade e por um tempo manteve o trabalho como enfermeira.
“Não tinha aquela ansiedade de que precisava dar certo rápido e tive tempo de me especializar, o que geralmente não acontece com muitas mulheres que empreendem.”
Nesse sentido, deixa alguns conselhos. O primeiro é não comparar a sua história com a de outras pessoas. “Cada uma tem sua jornada e um tempo para alcançar os objetivos e resultados”, afirma.
Já o segundo é buscar treinamentos sobre o setor de atuação e o mercado para ter confiança ao falar da empresa e buscar parceiros. “No início, lembro que ao negociar eventos com homens, precisava ‘provar’ que entendia de churrasco, pois muitos achavam que sabiam mais do que eu, já que é uma área masculina”, diz. No entanto, segundo a empresária, por meio do conhecimento, você consegue falar com segurança e ter argumentos suficientes para fechar um negócio.
Tão importante quanto esses dois pontos, é acreditar no seu potencial. “Eu sou a prova de que com estudo, resiliência, coragem e determinação é possível ter sucesso e crescer. Hoje vivo do empreendedorismo e tenho reconhecimento em minha cidade, algo que parecia impossível no início. Sou muito mais feliz e com outra qualidade de vida. Consigo acompanhar meus filhos nas atividades, o que antes não podia fazer”, finaliza.