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A nova meta da Abstartups: o Brasil ter 100 mil startups em 10 anos

Associação de startups quer alcançar meta de cem unicórnios brasileiros até 2035 e vai começar a investir no Norte do País; para chegar lá, será necessário um equilíbrio entre ambição e a dura realidade do mercado atual

Lindomar Góes (presidente), Camila Florentino (vice) e Waldir Souza (CFO), da Abstartups: chapa de três fundadores de startups começou há cerca de um ano (Abstartups/Divulgação)

Lindomar Góes (presidente), Camila Florentino (vice) e Waldir Souza (CFO), da Abstartups: chapa de três fundadores de startups começou há cerca de um ano (Abstartups/Divulgação)

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 2 de setembro de 2025 às 17h11.

Última atualização em 2 de setembro de 2025 às 18h45.

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Há quase um ano no comando, o amapaense Lindomar Góes quer “startupizar” a Abstartups (Associação Brasileira de Startups). Com a chapa vencedora das últimas eleições – “são três founders dedicados ao giveback, como disse o recém-eleito presidente –, o plano é, no mínimo, ambicioso: ter 100 mil startups e 100 novos unicórnios brasileiros nos próximos dez anos, e começar por onde ninguém está olhando, o Norte do País.

Um movimento semelhante no Nordeste começou cerca de vinte anos atrás. Hoje, a região já ultrapassa o Sul em número de startups, ficando atrás apenas do Sudeste. De 18 mil startups mapeadas pelo Sebrae em 2024, 36,15% são sudestinas, 23,53% nordestinas e 21,06% sulistas.

Para isso, foram necessários milhões em investimentos públicos e privados e o auxílio de incubadoras, hubs de inovação ou associações não governamentais. Dados da Abstartups mostram que, das 3 mil startups associadas, apenas 4,6% delas se concentram no Norte. É a primeira vez que a associação tem um presidente da região.

A Abstartups tem um plano para chegar lá, mas Góes admite que a meta é, também, uma conta matemática. “Sou cientista de dados, então gosto muito de taxas de conversão. A cada mil startups, temos um unicórnio. Se tivermos cem mil startups, teremos cem unicórnios”, resume.

Referência no Amapá, Góes é fundador da Proesc, sistema de gestão escolar, e tem como vice e diretor financeiro os fundadores da Celebrar (que facilita a contratação de fornecedores para eventos) e da Tributei (hub de ferramentas tributárias que já recebeu investimento do Bossa Invest), respectivamente. A chapa foi eleita no final de outubro do ano passado e ficará até o segundo semestre de 2026.

O desafio de quatro patas

Chegar a 100 mil startups até 2035 é viável (se hoje temos perto de 20 mil, precisaríamos de cerca de 8 mil novas startups por ano), o difícil é chegar aos 100 unicórnios.

O Brasil tem 25 empresas que já ultrapassaram US$ 1 bilhão em receita – para efeitos de comparação, os Estados Unidos lideram em número de unicórnios com 758 startups, quase a metade do total global –, e isso tem desacelerado nos últimos anos. 

De forma resumida, a desvalorização da moeda brasileira diminui o número de investimentos feitos em startups, uma vez que dificulta as avaliações em dólar e reduz investimentos estrangeiros. Além disso, as altas taxas de juros têm encarecido o crédito e diminuído a liquidez no mercado. 

No último trimestre de 2021, 26 startups da América Latina receberam US$ 1,1 bilhão em investimentos. Foi o maior valor já registrado pelo hub de inovação Distrito, segundo pesquisa publicada no ano passado. Já no primeiro trimestre desse ano, US$ 1 milhão foi investido entre 40 startups latino-americanas.

Como chegar lá?

O plano envolve apostar em startups verdes (como biotecnologia, economia circular e energia renovável) ou startups de “economia digital”, com um olhar aguçado para os avanços no setor de inteligência artificial

A Abstartups entende que precisará de auxílio governamental. A associação afirma que já avançou em conversas com o Ministério de Ciência e Tecnologia, além de governadores e prefeituras, mas, por enquanto, nada foi concretizado. “Enviamos mais de 200 ofícios”, diz Cláudia Schulz, CEO da Abstartups.

Uma das iniciativas é o Pacto da Amazônia, focado nos 9 estados da Amazônia Legal. A Abstartups promete articular um “movimento colaborativo” entre universidades e centros de pesquisa; governos estaduais e municipais; instituições de fomento a inovação como Sebrae, Senai e Sistema S; startups, investidores e até povos tradicionais.

As tratativas já iniciaram nos estados do Amapá, onde Góes também lidera a Amapatec (Associação Amapaense de Tecnologia), e Roraima. Acre, Amazonas e Rondônia são os próximos, segundo o executivo. Nenhum valor de investimento foi divulgado.

“O Pacto é a porta de entrada para avançarmos nessas regiões e aumentar a capilaridade”, afirma Góes. “A ideia é definir um objetivo comum e fazer todos os atores do ecossistema de inovação atuarem juntos”.

Uma nova forma de investir

Para alcançar a meta de 2035, a Abstartups quer uma revisão do Marco Legal das StartupsInstituído em 2021, representa um conjunto de medidas legais voltadas para fomentar o empreendedorismo no Brasil.

Segundo a associação, há propostas de revisão desde a promulgação. Falta coisa [no Marco Legal das Startups] se olharmos para os padrões globais. Se é um investimento de risco, por que só a pessoa fundadora segura isso?”, diz Camila Florentino, vice-presidente da Abstartups.

A associação tem uma equipe de 20 advogados dedicados integralmente a proposta, que deve ser apresentada no meio de novembro. Uma das alterações seria a Lei do CICC (Contrato de Investimento Conversível em Capital Social), já prevista no PLP 252/2023 e inspirada num modelo de contrato americano chamado SAFE.  

Criado pela Y Combinator, uma das maiores aceleradoras do mundo, o SAFE (Simple Agreement for Future Equity) é um tipo de contrato simplificado. O investidor coloca dinheiro na empresa, mas, em vez de receber ações imediatamente, ele recebe o direito de converter esse valor em ações no futuro, normalmente quando a startup recebe um novo investimento maior.

Isso garante que a startup tenha seu valor avaliado após receber investimentos, e não antes. Também evita a lentidão na negociação do contrato e a preocupação com possíveis futuras dívidas ou taxas de juros. Ao mesmo tempo, corre o risco do fundador perder o controle sobre o quanto foi diluído (ou seja, quanto das ações ele “deu” para os investidores) e acabar com um percentual bem menor do que imaginado.

“Precisamos criar um ambiente fértil para o surgimento de startups, e isso passa por modificações de leis. Assim, no mínimo, cria um cenário que incentive as pessoas a empreender”, diz Góes. “Nós defendemos uma Amazônia digital, que gera startups de sucesso. Não podemos punir o povo e deixá-los no atraso para sempre”.

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