Heitor Santos Garcia, 17, criou um robô para auxiliar bombeiros em incêndios urbanos (Paulo Santos/Colégio Dante Alighieri)
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Publicado em 21 de outubro de 2025 às 12h00.
Última atualização em 21 de outubro de 2025 às 12h12.
O Colégio Dante Alighieri, em São Paulo, é conhecido por sua tradição acadêmica. Mas, nos laboratórios da escola, um projeto vem chamando a atenção pela ousadia: um robô de seis patas capaz de entrar em prédios em chamas para localizar vítimas e mapear focos de incêndio antes da chegada dos bombeiros ao local mais perigoso.
O autor da ideia é Heitor Santos Garcia, de 17 anos, aluno do 3º ano do ensino médio, que há cinco anos se dedica ao projeto. Ele conta que a ideia surgiu de uma inquietação pessoal. “Eu passei por dois incêndios no meu prédio. E muitos amigos do meu pai são bombeiros”, explica. “Quando fui pesquisar sobre o assunto, descobri que, no ano passado, aconteceram mais de 7 mil incêndios no estado de São Paulo”, revela.
Foi a partir dessa constatação que nasceu o projeto. A proposta é que o robô seja capaz de atuar nos primeiros 45 minutos de um incêndio – a fase mais crítica – para localizar vítimas e orientar o resgate.
Wayner Klën, doutorando em física no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e professor do Dante, é quem orienta o projeto de Heitor. Segundo o professor, a expectativa é que a versão operacional do robô esteja pronta até o final de 2025.
Professor Wayner Klën orienta o desenvolvimento do robô desde o início (Paulo Santos/Colégio Dante Alighieri)
Para desenvolver o robô, Heitor buscou inspiração em dois animais: a cobra e a formiga. Comparou-os em aspectos como versatilidade, movimentação e tolerância a danos – e a formiga saiu vencedora.
Segundo ele, reproduzir uma estrutura semelhante ao corpo desse inseto traz diversas vantagens. Trata-se de um animal pequeno, leve e estável mesmo em terrenos irregulares. Além disso, sua anatomia permite continuar operando mesmo após a perda de membros, já que protege melhor os componentes internos.
“Sobre essa estrutura, você adiciona a parte lógica de controle e monitoramento do robô”, explica o professor.
Além da estrutura, outro grande desafio era fazer o robô operar em temperaturas extremas. Para testar o isolamento térmico, Heitor realizou experimentos em fornos de laboratório até chegar à configuração ideal.
Robô é capaz de suportar altas temperaturas e mapear locais com câmeras térmicas (Paulo Santos/Colégio Dante Alighieri)
O protótipo é formado por uma caixa de fibra de carbono resistente, revestida com lã de rocha e fita especial. Sensores de temperatura monitoram em tempo real as variações térmicas, indicando por quanto tempo o robô pode funcionar antes de superaquecer.
Ainda assim, há espaço para aprimoramentos. O próximo passo é incorporar um sistema de refrigeração. “O desafio é desenvolver um circuito que mantenha a temperatura segura para os componentes eletrônicos, mesmo sob calor intenso”, explica Klën. A solução em estudo combina alumínio, água gelada e gelo seco para resfriar as placas internas.
Além de suportar o calor, o robô será equipado com câmeras térmicas e inteligência artificial para identificar pessoas e rotas de fuga. “A ideia é que ele envie imagens em tempo real para os bombeiros e monte um mapa virtual do local”, diz Heitor.
Enquanto um operador acompanha tudo a distância, a IA reconhece silhuetas humanas e sinaliza pontos de interesse. Assim, os bombeiros podem decidir o caminho mais seguro antes de entrar.
Hoje, os bombeiros contam com câmeras térmicas manuais, que são caras e exigem que o profissional entre no ambiente. O robô poderia atuar como um primeiro explorador, reduzindo riscos e ganhando tempo.
Apesar da complexidade técnica, o projeto de Heitor tem custo relativamente baixo: entre R$ 1,2 mil e R$ 1,6 mil. Peças como motores e placas de controle representam a maior parte do valor, mas podem ser substituídas com facilidade. “Se uma perna quebrar, ele continua funcionando. Essa é a vantagem do design inspirado na formiga”, explica.
Projeto do Colégio Dante Alighieri conecta ciência escolar a desafios do mundo real (Paulo Santos/Colégio Dante Alighieri)
Para o professor, a importância do projeto vai além da inovação tecnológica. “É muito importante que o conteúdo da escola tenha conexão com o mundo real”, diz Klën. “Projetos como o do Heitor trazem problemas concretos e mostram a energia dos jovens para buscar soluções. É magnífico ver isso acontecer dentro de uma escola.”
O robô tem cerca de 75% das etapas concluídas. A próxima fase é integrar os sistemas – isolamento, refrigeração, locomoção e visão computacional – em um protótipo totalmente funcional. Depois disso, a equipe pretende apresentar o robô em simulações do Corpo de Bombeiros, antes de testá-lo em situações reais.
Ainda não há data definida para os testes, mas o professor espera que a versão operacional fique pronta até o fim do ano. “Quando isso acontecer, teremos um robô escolar com potencial real de salvar vidas. E isso, por si só, já é uma grande vitória.”