Mauricio de Souza Lima: especialista em saúde de adolescentes no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Arquivo Pessoal)
Estagiária de jornalismo
Publicado em 24 de outubro de 2025 às 09h00.
Na reta final da preparação para o vestibular, estudantes podem enfrentar muito mais do que provas e simulados.
Ao lado dos cronogramas intensos de estudo, cresce uma adversária silenciosa que pode comprometer o desempenho, que é a ansiedade.
O médico hebiatra Mauricio de Souza Lima, especialista em saúde de adolescentes no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, alerta que esse transtorno emocional, comum nessa fase, pode moldar não apenas o resultado do vestibular, mas também decisões cruciais sobre o futuro profissional.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP mostra que até 75% dos transtornos mentais se manifestam antes dos 24 anos, período que coincide com o momento das grandes decisões: qual carreira seguir, onde estudar, que caminho trilhar.
Para o Maurício, que também é psicólogo, a adolescência exige atenção redobrada à saúde mental, especialmente quando sintomas como irritabilidade, insônia, apatia ou dores físicas passam a interferir na rotina dos jovens.
A ansiedade, muitas vezes normalizada durante o período pré-vestibular, pode se transformar em um obstáculo significativo.
Sinais como falta de concentração, desmotivação e até resistência ao contato com a família indicam que algo mais profundo pode estar em curso.
Segundo Mauricio, o isolamento social persistente é um sinal de alerta, assim como a queda no rendimento e o desinteresse geral.
Combinada à rotina de alta pressão e à constante comparação nas redes sociais, a saúde mental dos estudantes pode entrar em colapso.
“O excesso de estímulos dopaminérgicos, como os oferecidos por aplicativos e plataformas digitais, afeta diretamente a capacidade de foco. Isso compromete o aprendizado e desencadeia uma sequência de frustrações que impactam o desempenho nas provas”, afirma o especialista.
Compreender e tratar a ansiedade como parte do processo de preparação para a universidade é, hoje, uma necessidade estratégica.
Não se trata apenas de tirar boas notas, mas de formar jovens aptos a fazer escolhas conscientes e com sustentabilidade emocional ao longo da carreira.
Mauricio defende que o preparo para o vestibular precisa ir além da teoria. “Priorizar o sono, estabelecer uma rotina bem estruturada e limitar o uso de telas antes de dormir são medidas fundamentais para preservar a energia física e mental dos jovens”, explica.
Para ele, o papel dos pais e responsáveis também evoluiu: acompanhar o ambiente digital dos filhos é tão importante quanto monitorar o boletim escolar.