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Após captar R$ 200 milhões, esta empresa de SC quer romper a barreira entre ciência e mercado

De Florianópolis, a Vesper Biotechnologies foi aberta há dois anos para transformar PhDs em empreendedores. Até agora, oito startups de biotecnologia já saíram dali e o negócio já chamou a atenção de grandes nomes da ciência brasileira, como Mayana Zatz

Da esquerda para direita, Pedro Moura, Rafael Bottós, Julio Moura Neto, Gabriel Bottós e Jonas Sister, da Vesper Ventures: oito empresas abertas em dois anos, escolhidas entre mais de 4.500 projetos, com 16 patentes globais e o apoio de mais de 60 PhDs (Divulgação/Divulgação)

Da esquerda para direita, Pedro Moura, Rafael Bottós, Julio Moura Neto, Gabriel Bottós e Jonas Sister, da Vesper Ventures: oito empresas abertas em dois anos, escolhidas entre mais de 4.500 projetos, com 16 patentes globais e o apoio de mais de 60 PhDs (Divulgação/Divulgação)

Leo Branco
Leo Branco

Editor de Negócios e Carreira

Publicado em 29 de setembro de 2025 às 11h30.

Última atualização em 29 de setembro de 2025 às 12h00.

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O Brasil ainda enfrenta um grande desafio quando se trata de transformar a ciência desenvolvida nas universidades em soluções aplicáveis no mercado.

Apesar de contar com centros de pesquisa de renome mundial, o país tem dificuldade em levar essas inovações a um estágio comercial, onde elas possam gerar impacto econômico e social. 

A catarinense Vesper Biotechnologies, fundada em Florianópolis pelo empreendedor Gabriel Bottós, além de um grupo de sócios ligados ao ecossistema de inovação de universidades, é um exemplo de empresa que busca superar essa barreira. 

A Vesper Biotechnologies adota o modelo de venture builder, onde não apenas investe, mas também participa ativamente da criação e crescimento das empresas. 

Isso significa que a holding fornece suporte tanto em termos financeiros quanto operacionais, permitindo que os cientistas se concentrem na pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias. 

“O objetivo é validar as soluções científicas antes de buscar licenciamento ou a entrada no mercado, um processo que exige paciência, devido à complexidade das inovações tecnológicas”, diz Bottós.

60 PhDs no time

Um dos grandes diferenciais da Vesper é a sua capacidade de atrair cientistas de alto nível, tanto do Brasil quanto de fora. A empresa possui atualmente cerca de 60 PhDs em seu time, muitos dos quais migraram de centros de pesquisa renomados em outros países, como os Estados Unidos e a Europa. 

"A Vesper criou no Brasil um hub de biotecnologia de alto nível, voltado para os mercados globais. Com tecnologias disruptivas e de grande potencial transformador para a agricultura e a saúde humana, o Brasil conta com cientistas altamente qualificados para nos ajudar a alcançar esses objetivos", diz Julio Moura, um dos sócios-fundadores.

A escolha de Florianópolis, cidade de origem da empresa, como centro de operações é estratégica. A capital catarinense está se tornando um polo de biotecnologia na América Latina, atraindo cientistas pela qualidade de vida e pela infraestrutura de pesquisa disponível.

Com um modelo de negócio inovador de venture builder, a Vesper já criou oito startups de biotecnologia e levantou cerca de R$ 200 milhões em investimentos. 

"Já construímos oito empresas, escolhidas entre mais de 4.500 projetos, com 16 patentes globais, o apoio de mais de 60 PhDs e cerca de 200 milhões de reais captados. Nos próximos cinco anos, daqui sairão soluções capazes de gerar um impacto positivo significativo para a sociedade e para o planeta", diz Bottós.

Algumas das startups estão apresentando resultados promissores. Entre elas está a Symbiomics, que desenvolve biológicos avançados para substituir fertilizantes químicos. A Symbiomics atraiu o interesse da Corteva, uma das principais empresas globais do setor agroquímico, que investiu na startup, resultando em um múltiplo de retorno (MOI) de 23 vezes em três anos. 

"Isso demonstra que o nosso modelo tem potencial para gerar resultados concretos. A Corteva classificou a Symbiomics como uma das três melhores empresas biológicas do mundo, o que é uma validação enorme para o nosso trabalho", diz ele.

No setor de saúde humana, a Vesper também está se destacando. A Aptah Bio, uma das startups do portfólio, desenvolve terapias de RNA com potencial para tratar cânceres e doenças neurodegenerativas. 

A força do patent cliff

A empresa possui uma molécula inovadora com patente concedida e está prestes a iniciar os testes clínicos. Outro exemplo de sucesso é a Vyro Bio, que foca no desenvolvimento de terapias celulares contra o câncer e outras doenças graves. A empresa está sendo vista como uma das mais promissoras no campo da medicina regenerativa.

Além dessas empresas, a Vesper tem outros 30 produtos em desenvolvimento, com foco em áreas como diagnóstico molecular e biotecnologia agrícola. O portfólio também inclui a Reddot, uma startup que trabalha com diagnósticos moleculares de precisão, e a Cellertz, que está desenvolvendo novas terapias celulares para doenças complexas.

A empresa se destaca não só pelo seu portfólio de empresas, mas também pela capacidade de atrair cientistas de alto nível, como a bióloga Mayana Zatz, que integra o seu conselho científico. 

"Sabemos que o Brasil tem um enorme potencial científico, mas a grande questão é como transformar essa ciência em negócios que realmente impactem a sociedade", afirma Bottós. 

"A Vesper é a prova de que é possível criar um modelo em que cientistas não só tenham apoio para desenvolver suas ideias, mas também uma estrutura completa para transformar essas ideias em empresas que possam competir globalmente." 

Além dos resultados internos, a Vesper se beneficia de um contexto macroeconômico favorável. O setor de biotecnologia está vivendo um momento único, impulsionado pela expectativa de um período em que muitas patentes de medicamentos estão prestes a expirar no mundo — um evento chamado no setor pelo termo patent cliff

Isso cria uma grande oportunidade para empresas que desenvolvem soluções inovadoras, como as criadas pela Vesper, que poderão ser adquiridas por grandes farmacêuticas para preencher a lacuna de receita causada pela perda de patentes.

Sede da Vesper, em Florianópolis: atração de talentos globais para a capital catarinense (Divulgação/Divulgação)

“Além disso, o Brasil oferece uma vantagem competitiva no setor, com custos operacionais significativamente mais baixos em comparação com outros países”, diz Bottós. 

“Isso permite que as startups de biotecnologia criadas pela Vesper aproveitem ao máximo o capital investido, criando soluções de impacto global com uma eficiência de custo superior.”

Nos próximos anos, a Vesper pretende ampliar seu portfólio, investir em novas startups e, eventualmente, buscar uma oferta pública inicial (IPO) para financiar sua expansão.

"Como um dos pioneiros na aplicação da biotecnologia para o desenvolvimento de novas terapias e aprovação de dezenas de medicamentos que transformaram a vida de milhares de pessoas com doenças raras, reconheço na Vesper os mesmos propósitos e o mesmo nível de excelência do que é comum nos Estados Unidos", diz o chairman Rogério Vivaldi, que vive em Boston e já coordenou quatro IPOs de empresas de biotecnologia.

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