Márcio Fabbris, CEO da Nio: "O foco é ocupar melhor esse espaço, resolver gargalos de infraestrutura e aumentar a penetração” (Nio/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 22 de maio de 2025 às 12h05.
O mercado de internet por fibra vive uma corrida silenciosa no Brasil. Enquanto grandes operadoras disputam espaço nas capitais e provedores regionais ganham fôlego no interior, um novo nome estreia com ambição de se tornar relevante desde o primeiro dia: a Nio.
A marca é o novo nome do que antes era a Oi Fibra, um serviço que alcança quase 4 milhões de clientes em 296 cidades.
Em uma segunda recuperação judicial, a Oi viabilizou a saída do setor de internet domiciliar criando uma nova empresa, batizada tecnicamente de ClientCo. Esta empresa foi vendida para a rede neutra V.tal (controlada pelo BTG Pactual, mesmo grupo controlador da EXAME) em um acordo estimado em 5,7 bilhões de reais.
A operação marcou a entrada da V.tal no atendimento direto ao consumidor, embora de forma juridicamente separada.
A Nio tem gestão própria, marca independente e operação distinta da controladora.
“É uma empresa nova, com base consolidada, mas que quer romper com as regras tradicionais do setor”, diz Márcio Fabbris, CEO da Nio.
“A gente quer criar uma operadora com DNA de tecnologia e não só de telecom. Isso significa colocar o cliente no centro das decisões, ser transparente, e melhorar a experiência real do Wi-Fi dentro da casa das pessoas”, afirma.
A primeira grande mudança da Nio foi na oferta de planos.
Em vez de dezenas de combinações, a empresa agora trabalha com apenas três opções: 500 Mega por 100 reais, 700 Mega por 130 reais e 1 Giga por 160 reais.
Mas o principal diferencial, segundo Fabbris, está na previsibilidade de preços.
“A gente está garantindo que esses valores não terão nenhum reajuste até janeiro de 2028. Não tem cláusula escondida, não depende da inflação. É um compromisso com a confiança do cliente”, diz.
A política vale tanto para novos assinantes quanto para clientes herdados da base da Oi Fibra, desde que migrem para os novos planos.
“Queremos que a pessoa saiba exatamente o que está contratando e o que vai pagar”, afirma. Segundo o executivo, o excesso de planos e promoções no modelo anterior gerava confusão e frustração entre os usuários.
A Nio quer usar tecnologia para resolver um problema crônico das operadoras: a qualidade da internet dentro da casa dos clientes.
Segundo Fabbris, a empresa está adotando sistemas que permitem monitorar remotamente o desempenho do Wi-Fi e identificar falhas antes que o usuário perceba.
“Se a TV está longe do roteador e o sinal cai, a gente quer saber disso antes que o cliente ligue para reclamar. Em alguns casos, conseguimos até mudar o canal do Wi-Fi remotamente para melhorar a estabilidade da conexão”, explica.
A proposta é transformar a relação do consumidor com o serviço: menos burocracia, mais resolução direta.
“Hoje, o cliente liga, não consegue falar com ninguém, a fatura não aparece no app. Isso está mudando. Já tivemos em maio o melhor índice de atendimento desde a criação da Oi Fibra”, afirma.
Ao contrário de outras operadoras que crescem com foco em novos municípios, a Nio não pretende ampliar sua cobertura no curto prazo.
A estratégia agora é ganhar densidade nas cidades onde já possui infraestrutura — com foco especial em regiões fora do estado de São Paulo.
“Temos capacidade para atender até 22 milhões de domicílios, mas nossa cobertura ainda é concentrada fora de SP, por conta da herança da Oi. O foco é ocupar melhor esse espaço, resolver gargalos de infraestrutura e aumentar a penetração”, diz Fabbris.
Internamente, a empresa também revê contratos com condomínios e amplia capacidade em bairros onde a demanda já está no limite. “Em vez de crescer geograficamente, a ideia é crescer em profundidade”, afirma o executivo.
Desde a conclusão da venda, a empresa vinha perdendo entre 30 e 40 mil clientes por mês.
Segundo Fabbris, esse era o reflexo de um serviço ainda em transição, com sistemas antigos e atendimento aquém do esperado. Agora, com a marca definida, portfólio lançado e melhorias em curso, o objetivo é virar essa curva.
“A gente ainda está estabilizando a operação, trocando sistemas, reorganizando atendimento. Mas já começamos a investir em tecnologia, treinamento e canais digitais. Essa reputação será construída com consistência”, diz.
“Não dá para prometer uma revolução de um dia para o outro, mas estamos fazendo mudanças reais para que o cliente perceba uma diferença concreta no dia a dia.”