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Após transição capilar, ela criou um salão referência e mira R$ 1,3 milhão em 2025

Com investimento de R$ 100 mil, Kelly Barbosa fundou o Studio PantherBlack, um espaço que combina estética, bem-estar e acolhimento no cuidado com cabelos crespos, cacheados e ondulados

Kelly Barbosa, fundadora da Studio PantherBlack: “Quero empreender, mas também estar ao lado da minha filha, hoje com nove anos, que é a prioridade”

Kelly Barbosa, fundadora da Studio PantherBlack: “Quero empreender, mas também estar ao lado da minha filha, hoje com nove anos, que é a prioridade”

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 7 de julho de 2025 às 16h00.

Assumir o cabelo natural mudou a vida de Kelly Barbosa. Mais do que transformar sua imagem, foi o início de um processo de autoconhecimento e resgate de identidade – caminho que levou à criação, no final de 2020, do Studio PantherBlack, hoje referência no cuidado com fios crespos, cacheados e ondulados. Com a proposta de aliar estética e bem-estar emocional, o salão atende, em média, 136 clientes por mês e projeta faturar R$ 1,3 milhão este ano, um aumento de 20% em relação a 2024.

A trajetória da paulistana reflete um movimento cada vez mais forte. Segundo estudo conduzido pelo Instituto Sumaúma e pela RPretas, a pedido da marca Seda, 80% das mulheres pretas e pardas enxergam o cabelo como parte essencial da personalidade. E, embora 96% acreditem que a transição capilar esteja em ascensão no Brasil, quase 70% ainda se sentem pressionadas a alisar as madeixas – reflexo de preconceitos e padrões impostos.

“Sou uma pessoa antes e depois da transição capilar. O processo trouxe encorajamento; percebi que podia ocupar um espaço que, por muito tempo, sequer era cogitado para mim”.

O start para a empresa

Antes de empreender, Kelly passou por empregos em logística, lojas de shopping e restaurantes. De origem simples, cresceu sem referências no empreendedorismo – a mãe era empregada doméstica e o pai trabalhava em obras. Desde cedo, porém, transformou as dificuldades da família em fonte de aprendizado. “A vida foi minha grande escola e me preparei para trilhar caminhos diferentes”.

A virada aconteceu quando decidiu parar de alisar o cabelo, antes da gravidez. Sem saber como cuidar dos fios naturais, encontrou nos grupos do Facebook a oportunidade de ser assistente de um cabeleireiro especializado. Mais tarde, formou-se cabeleireira e, dois anos depois, insatisfeita com o ambiente profissional, decidiu abrir o próprio salão.

Com R$ 100 mil guardados ao longo do tempo, alugou uma casa na Vila Mariana e iniciou o negócio. No começo, achava que não daria conta, principalmente por causa da pandemia que ainda estava em curso, mas teve o apoio de amigas que a encorajaram. Fora isso, o espaço era amplo e permitia seguir os protocolos exigidos no pós-isolamento.

Capacitação contínua e equipe preparada

Sem habilidades de gestão ou planejamento, Kelly convidou uma amiga com experiência em análise de dados, que atuava em uma grande companhia, para assumir a administração. Um ano depois, um grupo financeiro foi incorporado para auxiliar no controle de custos e margens. “Sempre tive em mente que não preciso saber tudo. O importante é ter visão do todo e um time qualificado”.

Além de buscar perfis complementares, sempre investiu em capacitação: fez cursos de barbearia, corte, vendas e marketing, e mentorias em inteligência emocional e liderança. Para ela, identificar os conhecimentos necessários em cada fase foi essencial para o crescimento. Em 2023, formou-se como terapeuta capilar – marco que elevou o tíquete médio.

O olhar atento e cuidadoso ao atendimento é outro pilar da empresa desde o início. A empreendedora sempre fez questão de manter o padrão de qualidade: do primeiro contato pelo WhatsApp ao acompanhamento pós-serviço. “Abrir um empreendimento hoje não é o mais difícil. O desafio é se manter no mercado. E isso só é possível com consistência, excelência e verdade”.

Instagram como vitrine

Entre as estratégias de marketing está o uso das redes sociais. Antes do estúdio, Kelly já tinha um Instagram consolidado, hoje com quase 50 mil seguidores. “Não sou especialista nessa área, mas aposto em conteúdos que mostrem quem realmente sou, sem personagens. Isso gera conexão”.

Depois, criou um perfil institucional, administrado por um profissional de tráfego e uma agência de social media formada por quatro mulheres. “Elas se revezam para captar imagens no salão, sugerir pautas e acompanhar os assuntos em alta”. A ideia é mostrar autoridade na área, mas sem perder a essência. Apesar de reconhecer o valor dos influenciadores, ainda prefere o bom e velho boca a boca. “Minhas clientes são as maiores promotoras”.

Mais do que estética: cuidado emocional como diferencial

Na visão da empresária, o que diferencia o negócio é a abordagem holística dos cuidados capilares, com tratamentos que incluem lavagem relaxante, máscaras terapêuticas e blends de óleos calmantes. "Acredito que o cuidado capilar deve ser também um momento de pausa e conexão. Por isso, o objetivo é oferecer mais do que um bom resultado no espelho, proporcionando bem-estar, equilíbrio e autoestima", reforça. Segundo ela, o estúdio é um lugar para as mulheres se conhecerem e, por que não, se transformarem.

As clientes também recebem consultorias personalizadas e materiais digitais, como ebooks com orientações de cuidados em casa. O intuito é que as pessoas se sintam capacitadas para cuidar dos cabelos de forma prática e eficiente, mesmo fora do estúdio. E esse cuidado também se reflete na equipe. “Sempre busquei criar um ambiente sem competitividade, no qual todas pudessem evoluir juntas”.

Maternidade, propósito e tempo como ativos estratégicos

Depois de sentir os reflexos do cansaço no corpo e na rotina, Kelly aprendeu a transformar a gestão do tempo em aliada do negócio e da vida pessoal. Para isso, estruturou uma agenda que respeita seu ritmo e sua presença em casa. “Quero empreender, mas também estar ao lado da minha filha, hoje com nove anos, que é a prioridade”, diz.

Ao longo da jornada, enfrentou dúvidas, como é comum entre empreendedores. “Quem nunca pensou em desistir tem alguém ‘segurando as pontas’. A realidade é difícil, mas quando essa vontade aparece, respiro e penso: posso não saber tudo, mas tenho a possibilidade de aprender ou buscar quem saiba. O empreendedorismo exige paciência, resiliência e tempo. É o propósito que nos faz acreditar e seguir”, finaliza.

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