Palco do Web Summit Rio: o projeto Rio AI City, anunciado no evento, pode resgatar protagonismo econômico e de imagem para a cidade (Maria Lobianco/Bússola)
Redação Exame
Publicado em 12 de maio de 2025 às 10h54.
Última atualização em 12 de maio de 2025 às 11h00.
Orlando Cintra é founder e CEO do BR Angels
O ambicioso plano de transformar o Rio de Janeiro em um grande hub de inteligência artificial começa a avançar e o alinhamento estratégico de diversas forças pode dar um grande impulso ao empreendimento.
O projeto Rio AI City foi anunciado no Web Summit pelo prefeito Eduardo Paes em uma missão de resgatar protagonismo econômico e de imagem para a cidade. O próprio Web Summit, um dos principais eventos do mundo na área de tecnologia, confirmou a parceria com a cidade até pelo menos 2030, o que não é pouca coisa.É inegável o impulso que o evento deu para Lisboa se transformar em um centro tecnológico europeu. No Rio, a conferência parece repetir o mesmo caminho.
A receita beneficia o Rio e o país todo dando a milhares de empreendedores e investidores, locais e globais, a oportunidade de fazer conexões com todos os agentes do ecossistema, autoridades etc.
Portanto, o anúncio do projeto Rio AI City não podia ter sido em um local mais adequado. Os participantes do Web Summit Rio levam essas conexões e informações também para a própria Lisboa, além de Toronto e Qatar, sedes dos outros eventos da marca.
O projeto divulgado por Paes prevê a construção de um campus de inteligência artificial, com um pólo de data centers e capacidade energética de 1,8 gigawatts até 2027, ampliando para 3 gigawatts nos cinco anos seguintes.
O complexo vai operar exclusivamente com energia limpa e sistema de resfriamento eficiente que economiza água, garantindo operações de latência zero para supercomputadores.
Se for concretizado, a capital carioca será o maior pólo de data centers da América Latina e um dos 10 maiores do mundo em 7 anos. Como se sabe, a capacidade dos data centers é um ponto crucial para a operação de sistemas de IA.
É claro que tudo depende da atração de investidores privados e esforços das três esferas de governo, que transcendam a períodos eleitorais. O que me deixa otimista de forma particular é a convergência de alguns fatores.
O interesse dos investidores no desenvolvimento de sistemas de IA é uma realidade no mundo e o momento desse projeto é muito oportuno.
A atração dos data centers está alinhada com a expectativa do governo brasileiro de atrair R$ 2 trilhões em investimentos nestas estruturas na próxima década. O fato de o Brasil ter uma das matrizes energéticas com maior participação de fontes renováveis do mundo pode ajudar o país a ser um destino importante para esses recursos.
Na semana seguinte ao Web Summit Rio, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, divulgou para as grandes empresas do setor e fundos de investimento a Política Nacional de Data Centers, na 28ª Conferência Global do Instituto Milken, em Los Angeles, nos Estados Unidos.
Batizado de Redata, o programa, alinhado à Reforma Tributária, prevê isenções de IPI, PIS/Cofins e imposto de importação sobre equipamentos por cinco anos.
O prefeito Eduardo Paes também não perdeu tempo e, logo após o lançamento do Rio AI City, no dia do Show da Lady Gaga, que teve grande repercussão internacional, viajou para a Califórnia e Washington para vender a ideia a investidores.
O fato de a cidade ter voltado de forma positiva ao noticiário internacional, com o recorde mundial de público em uma performance feminina é uma ajuda extra.
No lado da iniciativa privada, um dos investimentos anunciados no próprio Web Summit Rio foi o da Claro, de R$ 1 bilhão em sua plataforma Claro Cloud, que incluiu entre outras iniciativas o desenvolvimento de data centers.
Além desses grandes anúncios, o ambiente de negócios fervilhou na capital carioca durante o encontro de tecnologia, com muitos investidores avaliando startups e todo o ecossistema de inovação, como pude testemunhar ao participar de dois painéis como palestrante, nos eventos de networking e no nosso estande.O BR Angels, por exemplo, gerou durante a conferência um pipeline três vezes maior do que em qualquer outro evento ou período do ano.
Essa perspectiva deixa o Rio e o Brasil em posição atrativa nos próximos anos.
Guardadas as proporções, me fez lembrar o clima do período em que o Brasil conseguiu atrair a Copa do Mundo e a Olimpíada em um intervalo de apenas 2 anos.
Quem sabe, dessa vez não conseguimos aproveitar melhor a oportunidade?