Negócios

'As empresas francesas já investiram 66 bilhões de euros no Brasil e seguem de olho', afirma cônsul

Com 1.300 empresas instaladas e 550 mil empregos gerados, a França é hoje o 2º maior investidor estrangeiro no Brasil. À EXAME, a diplomata Alexandra Mias conta as oportunidades entre esses dois países que celebram 200 anos de parceria

Alexandra Mias, cônsul-geral da França em São Paulo: “Esperamos que a COP30 seja a COP da virada, e a França estará ao lado do Brasil neste momento” (Leandro Fonseca/Exame)

Alexandra Mias, cônsul-geral da França em São Paulo: “Esperamos que a COP30 seja a COP da virada, e a França estará ao lado do Brasil neste momento” (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 18 de agosto de 2025 às 14h11.

Última atualização em 18 de agosto de 2025 às 16h14.

Tudo sobreDiplomacia
Saiba mais

Os abraços recorrentes entre o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente da França, Emmanuel Macron, trazem um novo fôlego às relações bilaterais entre os dois países, que neste ano completam 200 anos.

“Todo mundo está de olho no Brasil agora. É um ano importante, afinal, celebramos 200 anos de relações diplomáticas e cinco séculos de amizade”, diz Alexandra Mias, cônsul-geral da França em São Paulo.

Segundo a diplomata, a relação próxima entre os presidentes dos dois países atrai atenção e gera uma dinâmica de visitas e diálogos de alto nível.

“Tivemos a visita do presidente Macron no ano passado e, pouco depois, a visita do presidente Lula à França. Esses encontros abriram espaço para novos investimentos empresariais e de pesquisa”, diz a cônsul que compartilha à EXAME os impactos e oportunidades de um relacionamento que envolve bilhões de euros entre essas duas nações.

O presidente Lula durante coletiva de imprensa em Paris, na França (Ricardo Stuckert/Divulgação)

A força econômica da França no Brasil

Em junho deste ano, o presidente Lula anunciou que um grupo de cerca de 15 grandes empresários franceses com negócios no Brasil irão investir R$ 100 bilhões no Brasil até 2030.

Esse novo ciclo de aportes se soma a uma presença já consolidada: com 66 bilhões de euros investidos (cerca de R$ 370 bilhões) e 1.300 empresas instaladas, a França é hoje o segundo maior investidor estrangeiro no Brasil (junto com a Espanha), atrás apenas dos Estados Unidos, conta a cônsul. A presença francesa se estende de gigantes como Carrefour, Grupo L’Oréal, Renault, Michelin, Engie e Saint-Gobain até startups e negócios de menor porte.

“O investimento francês é de longo prazo, marcado por transferências de tecnologia e capacitação de talentos brasileiros”, destaca a diplomata que reforça que muitas dessas subsidiárias, como Renault e Air Liquide, já são comandadas por executivos brasileiros.

“Somos o maior empregador estrangeiro no Brasil, com 550 mil empregos gerados por empresas francesas,” diz Mias.

Além disso, setores estratégicos como infraestrutura e energia receberam aportes recentes:

  • CMA-CGM adquiriu 51% do Porto de Santos;
  • Vinci ampliou sua participação em concessões de rodovias e aeroportos;
  • Engie anunciou R$ 3 bilhões em novos projetos de energia limpa.

“Minha missão é construir laços políticos, culturais e econômicos entre empresas do Brasil e da França”, diz a executiva que com frequência se reúne com CEOs de grandes empresas em seu escritório na Paulista, que tem como decoração as bandeiras da União Europeia e França.

Empresas brasileiras ainda investem pouco na França

Apesar da forte presença francesa no Brasil, os investimentos brasileiros na França ainda somam menos de 2 bilhões de euros, número que, na visão de Alexandra, não reflete o dinamismo das empresas nacionais. Casos como Embraer, WEG, JBS, Havaianas e a participação do Itaú na produtora de vidro Verallia são exceções em um cenário de baixa representatividade.

“A França é hoje o país mais atrativo para investimentos estrangeiros na Europa, segundo ranking da Ernst & Young”, diz Alexandra, que informa que o país reduziu impostos corporativos para 25%, promoveu reformas trabalhistas e lançou o plano França 2030, com 54 bilhões de euros em tecnologia e inovação. “Queremos ver mais companhias brasileiras aproveitando esse ambiente.”

“Somos o maior empregador estrangeiro no Brasil, com 550 mil empregos gerados por empresas francesas,” diz Alexandra Mias, cônsul da França em São Paulo (Leandro Fonseca /Exame)

Diplomacia econômica com olhar feminino

Como primeira mulher a ocupar o posto de cônsul-geral da França em São Paulo, Alexandra vê sua missão como estratégica para aproximar os dois países também no campo econômico.

“Ser mulher nesse cargo traz uma perspectiva diferente, em sintonia com a diplomacia feminista que a França conduz desde 2019. É uma honra abrir caminho para outras mulheres em posições de decisão”, afirma Mias.

Pesquisa, cultura e inovação como pilares da parceria

As relações bilaterais foram fortalecidas com a criação de centros de pesquisa conjuntos entre França e Brasil. Em São Paulo, já funcionam dois polos ligados à USP, incluindo um Institut Pasteur voltado à saúde e biotecnologia. Um terceiro, em parceria com a Paris Sciences et Lettres, está previsto para atuar em economia circular.

Na área cultural, outro marco será a chegada de um Centro Pompidou em Foz do Iguaçu — o primeiro das Américas. “É uma conquista excepcional, resultado de anos de negociação com o governo do Paraná”, diz a cônsul.

Também está em curso a temporada França-Brasil, que celebra os 200 anos de relações diplomáticas entre os países, com eventos culturais, científicos e de sustentabilidade em diversas cidades brasileiras até dezembro.

Criamos este ano dois diálogos importantes: um econômico e financeiro de alto nível e outro sobre transição energética e minerais críticos, temas estratégicos para ambos os países”, diz a cônsul.

Transição energética e COP30: agenda comum

A sustentabilidade aparece como um eixo central da cooperação entre os dois países. França e Brasil criaram recentemente um diálogo de alto nível sobre transição energética e minerais críticos, considerado estratégico.

Com a COP30 marcada para 2025 em Belém, a expectativa é de que o evento marque uma virada na agenda climática, afirma Mias.

Esperamos que a COP30 seja a COP da virada, a COP da ação climática. A França estará ao lado do Brasil nesse momento, com empresas que já investem há anos em soluções verdes e inovadoras”.

Acompanhe tudo sobre:DiplomaciaFrançaEmmanuel MacronGoverno LulaEmpresas francesasWEGHavaianasMichelinEngieEngie Energia

Mais de Negócios

Consumo de refrigerantes cai na América Latina em 2024, aponta pesquisa

De lavador de pratos a CEO da Nvidia: veja como Jensen Huang fundou a maior empresa do mundo

BNDES aprova crédito de R$ 1 bilhão para Grupo Boticário ampliar produção

Dois desconhecidos, o mesmo incômodo — e uma fusão feita no garfo