Atma, Trol e Glasslite: fabricantes de brinquedos não aguentaram abertura de mercado e concorrência com multinacionais (Reprodução)
Repórter de Negócios
Publicado em 11 de outubro de 2025 às 08h41.
Num setor hoje dominado por grandes multinacionais e influenciadores digitais, poucas pessoas se lembram que o Brasil já teve uma indústria de brinquedos pujante, criativa — e nacional.
Nos anos 1980, marcas como Atma, Trol e Glasslite disputavam a atenção das crianças com bonecos articulados, pistas de corrida, trens elétricos e versões tupiniquins de super-heróis e personagens de sucesso mundial.
Nenhuma das três sobreviveu à abertura do mercado, às mudanças tecnológicas e aos desafios da gestão.
A Atma, conhecida pelo seu ferromodelismo e pelo slogan “A Atma é ótima!”, a Trol, fabricante do icônico Velotrol e dos bonecos Playmobil no Brasil, e a Glasslite, que licenciou de Star Wars a Jaspion, marcaram uma geração de consumidores brasileiros.
Com o avanço dos brinquedos digitais, dos aplicativos e das licenças internacionais, o mercado se transformou. Mas os nomes dessas marcas ainda resistem, especialmente entre colecionadores. Veja a seguir o que aconteceu com cada uma dessas empresas.
Fundada nos anos 1950 com o nome Mirim, a Atma começou produzindo trens elétricos e foi, por décadas, a única fabricante nacional de ferromodelismo. Mudou de nome, cresceu e diversificou a linha com bonecos da Marvel, brinquedos plásticos, utensílios domésticos infantis e bonecas.
Na década de 1970, a Atma já competia com a Estrela em reconhecimento e criatividade.
Tinha um logo simpático, com um policial britânico sorridente, e seu slogan virou bordão de propaganda. Empregava centenas de funcionários e distribuía seus brinquedos por todo o país.
Mas a partir dos anos 1980, a empresa entrou em crise.
A abertura do mercado aos produtos importados, a entrada de concorrentes internacionais e problemas financeiros internos minaram sua estrutura. Em 1994, um incêndio destruiu a principal fábrica da empresa. Sem caixa e sem conseguir se recuperar, a Atma encerrou suas atividades naquele mesmo ano.
A história da Trol começa em 1939, quando o alemão Ralph Rosenberg fugiu do nazismo e montou uma fábrica de botões na garagem, em São Paulo. O negócio se transformou com os anos: nos anos 1960, já era uma potência em plásticos e brinquedos.
A ascensão se consolidou em 1967, quando o empresário Dilson Funaro assumiu o controle da companhia.
Foi sob sua gestão que a Trol virou sinônimo de inovação. Licenciou o Playmobil em 1976, lançou a boneca Pierina, o Lavarrôz (um escorredor de arroz de brinquedo) e firmou parcerias com personagens como Zorro e Turma da Mônica. O Velotrol virou categoria e ícone de vendas. O parque industrial da empresa, na Via Anchieta, era uma das maiores estruturas do setor.
Mas o sucesso da Trol estava diretamente ligado à figura de Funaro, que deixou a gestão no fim dos anos 1980 para assumir cargos no governo federal. Sem sua liderança, a Trol não resistiu: acumulou dívidas, perdeu mercado e pediu falência em 1993.
A Trol deixou como legado uma gama de brinquedos icônicos e uma história marcada por ousadia, mas também pela dificuldade de sobreviver a um cenário econômico instável e à própria saída de seu principal executivo.
A Glasslite nasceu em 1968, em São Paulo, como uma fabricante de utensílios domésticos. Só no fim dos anos 1970 migrou para brinquedos — e rapidamente ganhou notoriedade ao investir pesado em licenciamento de séries e personagens de sucesso na TV.
Foi a empresa que trouxe ao Brasil brinquedos de “A Super Máquina”, “Jaspion”, “Jiraiya”, “Esquadrão Classe A” e “Inspector Bugiganga”. Também trabalhou com nomes como Eliana, Gugu e Carla Perez. Chegou a abrir filiais em quatro capitais e firmou parcerias com gigantes internacionais como Kenner e Galoob.
Nos anos 1990, com a abertura do mercado e a invasão dos brinquedos chineses, a empresa entrou em crise. A primeira concordata veio ainda nos anos 1980, revertida com o sucesso da linha Rambo, que chegou a representar 40% do faturamento da empresa em 1999, segundo matéria da Folha de S.Paulo publicada em 2000. À época, a empresa comemorava o fim de uma dívida de 6 milhões de reais e planejava crescer.
Mas a recuperação durou pouco. Em 2005, a Glasslite decretou falência. Sem fôlego para competir com os importados e sem escala para bancar novos licenciamentos, a marca encerrou suas atividades.