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Um supercabo chinês pode substituir o USB para sempre

Consórcio composto por Huawei, TCL e Hisense quer desafiar a dominância de cabos como o HDMI, controlado por uma organização americana que cobra royalties e reúne Sony, Samsung, Philips e Intel

Cabo HDMI vs. cabo GPMI: lançamento não é apenas uma inovação tecnológica, mas também uma estratégia geopolítica da China (Freepik / Edição)

Cabo HDMI vs. cabo GPMI: lançamento não é apenas uma inovação tecnológica, mas também uma estratégia geopolítica da China (Freepik / Edição)

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 1 de julho de 2025 às 11h42.

Por décadas, os Estados Unidos têm liderado o mercado de conectividade, com padrões como HDMI e USB dominando as conexões em dispositivos eletrônicos e tecnológicos.

Agora, um consórcio de gigantes chinesas, incluindo Huawei, TCL e Hisense, se uniu para criar uma tecnologia capaz de desafiar esse domínio: o General Purpose Media Interface (GPMI).

Lançado em abril de 2025, o GPMI não só oferece capacidades técnicas superiores, mas também promete transformar o mercado de conectividade com um modelo de licenciamento totalmente diferente – gratuito para os fabricantes.

O HDMI é utilizado em TVs, monitores e dispositivos de áudio-visual, enquanto o USB é amplamente usado para transferir dados e carregar dispositivos. Ambas as tecnologias são controladas por consórcios ocidentais que cobram royalties e licenciam suas patentes a empresas de todo o mundo. O primeiro é controlado por uma organização que reúne empresas como Sony, Panasonic, Philips, Sharp, Samsung e Intel. Já o USB é gerido pelo USB Implementers Forum (USB-IF), com membros fundadores como Intel, Microsoft, IBM, Compaq e NEC.

Com até 192 Gbps de largura de banda e 480W de potência, o GPMI oferece desempenho muito superior ao HDMI e USB, que são limitados a 48 Gbps e 240W, respectivamente. O GPMI integra vídeo, áudio, dados e entrega de energia em um único cabo, simplificando a infraestrutura de conectividade, ou seja, não seria necessário ter um cabo HDMI para conectar o computador na TV e outro cabo USB para transferir algum livro para o Kindle. Tudo seria feito pelo mesmo cabo GPMI.

O que isso significa para as empresas ocidentais?

A indústria de conectividade é, em grande parte, regida por um sistema de licenciamento que garante royalties aos criadores dos padrões. Para empresas que fabricam aparelhos como TVs, computadores e outros dispositivos eletrônicos, isso significa pagar taxas anuais, além de uma porcentagem sobre cada unidade vendida de dispositivos que utilizam HDMI ou USB. Por exemplo, o HDMI Licensing Administrator, que controla o HDMI, cobra taxas anuais de até US$ 10.000, além de royalties sobre cada dispositivo.

Com o GPMI, fabricantes podem adotar o novo padrão sem pagar essas taxas adicionais, o que pode resultar em uma significativa redução de custos. Além disso, a tecnologia oferece múltiplas funções em um único cabo, integrando vídeo, áudio, dados e entrega de energia, tornando-se uma solução mais simples e eficiente.

Essa mudança tem um impacto profundo nas empresas ocidentais, como Apple, Intel, Sony e Panasonic, que não só controlam as patentes desses padrões, mas também dependem dos royalties gerados por HDMI e USB para uma fatia considerável de sua receita.

Além disso, o GPMI será oferecido em duas versões para atender a diferentes necessidades de mercado. A versão Type-C é compatível com dispositivos que já utilizam USB-C, facilitando a transição para o novo padrão em equipamentos existentes. Já a versão Type-B, com maior largura de banda e capacidade de entrega de energia, é ideal para dispositivos mais avançados, como smart TVs e estações de trabalho de alto desempenho, oferecendo desempenho superior.

Essa mudança pode gerar uma onda de inovação no mercado, uma vez que os fabricantes terão maior liberdade para desenvolver novos produtos sem as restrições impostas pelos altos custos de licenciamento. Para muitas empresas, isso representa a possibilidade de lançar dispositivos mais baratos e com mais recursos, beneficiando tanto os consumidores quanto as empresas que dependem de tecnologias acessíveis.

Por que a China faz isso agora?

O anúncio do GPMI não é apenas uma inovação tecnológica, mas também uma estratégia geopolítica da China. Assim como ocorreu com a tecnologia 5G, onde empresas chinesas dominam um terço das patentes essenciais, o GPMI visa fortalecer a posição do país no cenário global de conectividade.

Ao criar um padrão livre de royalties, a China está se afastando da dependência de tecnologias dominadas pelo Ocidente, buscando aumentar sua influência nos padrões globais.

Apesar de suas vantagens, a adoção do GPMI no mercado global não será simples. HDMI e USB estão profundamente enraizados em praticamente todos os dispositivos eletrônicos, de TVs a smartphones. Alterar esse ecossistema exige tempo e esforço consideráveis, especialmente para empresas que já têm suas operações alinhadas com esses padrões.

Questões geopolíticas também podem dificultar a adoção do GPMI em alguns países, devido ao fato dele ser desenvolvido por um consórcio chinês. Contudo, a compatibilidade do GPMI com o popular USB-C pode ser uma vantagem estratégica. Isso pode facilitar a transição, especialmente em mercados onde o USB-C é o padrão dominante.

O GPMI ainda não está disponível para compra no momento de publicação desta matéria. Ele permanece em fase de desenvolvimento pré-comercial, sem um cronograma específico de comercialização anunciado.

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