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Caçadores de litígios: eles buscam R$ 130 milhões para 'comprar briga' com multinacionais

Criada por brasileiros, a Rachel AI quer tornar disputas judiciais com grandes corporações numa oportunidade de investimento e financiar os advogados

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 25 de setembro de 2025 às 07h00.

Última atualização em 25 de setembro de 2025 às 09h40.

Criada por brasileiros, mas nova no Brasil, a Rachel AI está usando inteligência artificial para transformar litígios — quando duas ou mais partes entram em desacordo e precisam resolver na justiça — de grande escala em oportunidades financeiras.

Fundada pelos brasileiros Celso Filho e Lucas Albuquerque, a fintech já atua nos Estados Unidos e Reino Unido, e agora prepara um fundo de investimento de US$ 25 milhões para lançar a operação no Brasil.

Como funciona?

Em vez de esperar que os escritórios de advocacia obtenham todo o financiamento para um processo judicial por conta própria, a Rachel AI entra como financiadora.

A startup analisa milhares de documentos legais, usa inteligência artificial para avaliar o valor do processo e decide quais litígios têm maior potencial para gerar retorno.

Com isso, a fintech ajuda a viabilizar ações que, de outra forma, poderiam não ter recursos suficientes para seguir adiante.

“Nosso trabalho é garantir que os advogados tenham os recursos necessários para levar essas ações até o fim. Para os investidores, isso é uma oportunidade de rentabilidade, enquanto para os consumidores, é uma chance de reivindicar seus direitos”, diz Filho.

A Rachel AI já está envolvida em casos de grande porte, como o Batterygate da Apple, em que consumidores processaram a gigante de tecnologia por vender iPhones com baterias defeituosas.

O caso está arquivado no Brasil, mas, nos Estados Unidos, um acordo judicial resultou em pagamentos de até US$ 500 milhões em indenizações a consumidores, além de uma multa de US$ 113 milhões envolvendo 34 estados americanos

Como esse caso afeta consumidores ao redor do mundo, há uma oportunidade aí para a RachelAI.

Apoiada por investidores, a startup financia a ação judicial local e permite que os advogados entrem ou continuem a luta jurídica, mesmo com o alto custo que esse tipo de processo envolve.

Outro exemplo é o desastre de Mariana, tragédia ambiental em Minas Gerais que envolve centenas de milhares de vítimas. A Rachel AI também entra no financiamento dessa ação, proporcionando recursos para advogados que buscam indenização para as vítimas, enquanto os investidores que financiam o processo têm a chance de ganhar rentabilidade ao longo do tempo.

Qual a vantagem?

Para os investidores, a Rachel AI oferece retornos financeiros de 17% ao ano com pagamentos trimestrais de 8%.

Para os consumidores, a principal vantagem é a possibilidade de reivindicar seus direitos contra grandes corporações, sem precisar arcar com os custos iniciais de um processo judicial.

No caso do Batterygate, por exemplo, os consumidores lesados pela Apple não precisaram pagar nada para entrar com a ação. Se o processo for bem-sucedido, eles recebem compensações.

“Nossa missão é fazer com que litígios de grande escala, que afetam pessoas em vários países, se tornem acessíveis a investidores e proporcionem uma maneira justa de resolver os direitos dos consumidores”, diz Albuquerque.

Tudo começou em Dubai

Filho e Albuquerque se conheceram bem longe do Brasil. Ambos estavam morando e trabalhando em diferentes áreas em Dubai.

Filho, advogado com vasta experiência no mercado financeiro, sempre se interessou por litígios de alto impacto e já acompanhava casos como o de Mariana.

Albuquerque, por sua vez, é engenheiro de software e um dos primeiros brasileiros a trabalhar com inteligência artificial em Dubai, ajudando empresas a implementar ferramentas tecnológicas.

Foi em Dubai que ambos perceberam uma lacuna significativa na indústria jurídica: apesar do volume de processos de grande porte, os escritórios de advocacia não possuíam ferramentas adequadas para gerenciar e financiar esses litígios. Foi então que surgiu a ideia de criar a Rachel AI.

“Vimos que havia uma oportunidade de usar tecnologia para resolver um grande problema: como ajudar os escritórios a gerenciar casos tão complexos e, ao mesmo tempo, oferecer aos investidores a chance de participar desses litígios com um bom retorno financeiro”, resume Albuquerque.

Agora o foco é por aqui

Após consolidar a operação no Reino Unido e nos EUA, a Rachel AI agora pousa em solo brasileiro.

A startup também está buscando parcerias com escritórios de advocacia no Brasil, especialmente os que estão dispostos a agir contra grandes empresas internacionais.

Com uma projeção de levantar R$ 1 bilhão nos próximos dois anos, a Rachel AI está determinada a expandir a operação e levar a tecnologia para mercados como a Arábia Saudita.

A fintech já está conversando com investidores globais e escritórios de advocacia internacionais, buscando parcerias que ajudem a expandir seu portfólio de litígios.

“Estamos apenas começando. O mercado de litígios no Brasil tem um enorme potencial, e queremos ser a empresa que conecta consumidores e investidores de maneira transparente”, diz Filho

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