Ale Costa, fundador da Cacau Show: companhia investe na produção de cacau para desenvolver a linha Bendito Cacao (Leandro Fonseca/Exame)
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Publicado em 23 de novembro de 2025 às 09h42.
O mercado de chocolates intensos cresce, mas ainda enfrenta resistência entre consumidores acostumados ao doce tradicional. A Cacau Show quer mudar esse hábito com a linha Bendito Cacao, que completa 10 anos em 2025 e deve alcançar faturamento de 219 milhões de reais neste ano.
Criada em 2015, a marca nasceu de uma leitura de tendências globais e mudanças no comportamento do consumidor brasileiro. “A gente mapeou a necessidade de ter uma linha com mais cacau e menos açúcar, valorizando o grão e dando acesso a esse tipo de chocolate a um público mais amplo”, afirma Lilian Rodrigues, diretora de marketing da Cacau Show.
A empresa viu crescer a demanda por chocolates intensos e menos processados, um movimento impulsionado também por nutricionistas e médicos que recomendam o consumo de cacau com alto teor de flavonoides. “No começo, lançamos o tablete de 5 g, porque o mercado já apontava a preferência por porções menores e mais saudáveis. Esse comportamento só aumentou”, diz Lilian.
A linha Bendito Cacao soma hoje 84 produtos distribuídos em 13 categorias, com destaque para os tabletes, que respondem por 36% das vendas. Mesmo com uma década de história, o crescimento continua acelerado: 25,7% em 2025, segundo a executiva. “Mesmo sendo uma marca com 10 anos, ela cresce a dois dígitos por ano”, afirma.
A Bendito Cacao segue o modelo bean to bar, expressão em inglês que significa “do grão à barra” — processo em que a produção do chocolate acontece integralmente dentro da empresa. A Cacau Show cultiva o cacau Trinitário em sua fazenda Dedo de Deus, no interior de São Paulo, e realiza todas as etapas, da colheita à barra final, em uma linha de produção separada, sem contaminação cruzada.
“Temos uma fábrica 100% de vidro, onde o consumidor pode acompanhar todo o processo. Muitas pessoas nunca viram um fruto de cacau, então é uma experiência de educação e conexão com o ingrediente”, diz Lilian.
A executiva explica que o cacau é o fio condutor da marca e o foco é simplificar a composição dos produtos. “Estamos falando cada vez mais de chocolate de verdade. Nossos novos tabletes têm apenas dois ou três ingredientes, e isso vem escrito na frente da embalagem.”
A linha conta ainda com selos Kosher e da Sociedade Vegetariana Brasileira, que atestam padrões específicos de consumo.
Para celebrar a data, a marca lançou uma campanha especial que reforça o posicionamento da Bendito Cacao como referência em chocolates intensos. Entre os lançamentos estão os tabletes Extra Dark 86% e Dark 72%, disponíveis em versões de 100 g e 30 g.
Durante o período da campanha, os clientes cadastrados no programa de fidelidade Cacau Lovers, que já reúne 30 milhões de consumidores, terão acesso a vantagens exclusivas — como descontos na compra de dois tabletes de 100 g (32,99 reais o par) e nas caixas Mini Show (a segunda unidade sai por 19 reais).
A estratégia de relacionamento é vista como essencial para manter o engajamento. “A degustação é um fator importante para quebrar o receio com o chocolate intenso. Muitas pessoas ainda associam o termo ‘dark’ a algo amargo, e o nosso papel é mostrar que o sabor pode ser equilibrado”, afirma Lilian.
Entre as novidades da temporada, está o panetone com mel de cacau, produzido de forma artesanal e limitado a 10.000 unidades. “É mel de cacau mesmo, não sabor chocolate”, explica Lilian. “Poucas marcas conseguem trabalhar com o mel de cacau, que é feito a partir das amêndoas do fruto. É um produto delicado, com sabor natural e muito agradável.”
O item será vendido em lojas selecionadas de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, e parte da produção será destinada a ações de relacionamento com consumidores e influenciadores. A marca também lança uma lata ilustrada pela artista Nina, com design inspirado na flor e no fruto do cacau.
O conceito da Bendito Cacao ultrapassa a prateleira e se estende à hospitalidade. A Cacau Show criou dois hotéis temáticos Bendito Cacao, em Campos do Jordão e Águas de Lindóia, que oferecem experiências de imersão no universo do cacau. Neles, o hóspede pode visitar o museu do cacau, provar bebidas 100% cacau inspiradas nas receitas maias, participar de rituais de degustação e até realizar tratamentos de spa com nibs de cacau.
“Os hotéis reforçam o nosso propósito de oferecer experiências ligadas ao bem-estar e à qualidade de vida. A gente quer que o consumidor viva o cacau em todas as dimensões — do alimento à experiência sensorial”, afirma Lilian Rodrigues.
A alta global do preço do cacau tem pressionado o setor. Nos últimos meses, o valor da saca chegou a 12.800 reais, o que impactou principalmente produtores menores. Lilian confirma que o aumento afetou a indústria, mas diz que a Cacau Show preferiu não repassar o custo ao consumidor.
“A gente optou por perder margem. Era inviável repassar toda essa alta. E também não alteramos nenhuma formulação, mesmo num ano em que o cacau ficou muito mais caro”, afirma.
Segundo a executiva, a marca mantém uma visão de longo prazo. “É um movimento importante para sustentar a plataforma da Bendito Cacao. Queremos continuar crescendo nesse segmento, sem abrir mão da qualidade e da pureza dos ingredientes.”
A Bendito Cacao tem desempenho mais forte na região Sudeste — especialmente em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná —, mas a marca busca ampliar a presença nacional. “A gente trabalha para dar o acento certo em cada região. Estudamos os hábitos dos consumidores e desenvolvemos produtos de acordo com o que cada público busca”, diz Lilian.
Para 2026, a empresa projeta crescimento de 32% na linha e aposta em novos ingredientes brasileiros, como cupuaçu e castanhas, alinhados ao mercado de wellness, ou bem-estar. “Esse mercado cresce muito e queremos contribuir oferecendo produtos naturais, com o cacau como base.”
Com 7 bilhões de reais de faturamento estimado para o grupo Cacau Show em 2025, a Bendito Cacao se firma como uma das frentes mais promissoras da marca. “A gente se inspira em quem faz o bean to bar com excelência. No mundo todo há muita gente boa fazendo chocolate de verdade, e o nosso papel é democratizar esse acesso”, afirma Lilian Rodrigues.