Sede da fábrica da Ecosmetics em Teixeira de Freitas, na Bahia (Ecosmetics /Divulgação)
Repórter
Publicado em 24 de julho de 2025 às 17h35.
Última atualização em 24 de julho de 2025 às 17h38.
Após 8 anos de investimento e crescimento nos Estados Unidos, a Ecosmetics, empresa brasileira de cosméticos com presença em 74 países, pode ser obrigada a encerrar suas operações em Miami, na Flórida. O motivo? A tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil, proposta pelo ex-presidente e atual pré-candidato Donald Trump, promete abalar as exportações dos produtos.
“Com essa taxação, é totalmente inviável a Ecosmetics sobreviver nos Estados Unidos. A conta não fecha”, afirma Edson Borgo, CEO da empresa.
Atualmente, o mercado norte-americano representa de 8% a 12% do faturamento com exportações da companhia. A operação conta com um centro de distribuição de 1.200 m² na Flórida, com 12 funcionários. Agora, esse modelo está em xeque.
Para tentar evitar a ruptura no mercado, a Ecosmetics busca soluções emergenciais. Dois contêineres estão parados no porto de Santos com produtos recém-lançados, como o Chroma Lumer - que viralizou no Brasil e esgotou o estoque nos Estados Unidos. A empresa tenta embarcar a carga por frete aéreo para chegar antes da aplicação da tarifa, prevista para 1º de agosto.
“Se não houver posição no voo, vamos ter que devolver os contêineres para a Bahia”, diz Borgo, que prevê um impacto logístico e financeiro elevado.
Entre as alternativas de médio prazo está a migração do centro de distribuição da Flórida para o Panamá.
“O país não possui restrições comerciais como os Estados Unidos. O distribuidor do Panamá venderia para o distribuidor americano, funcionando como ponte”, diz o CEO. No entanto, essa operação ainda está em estudo, porque os custos da logística indireta podem não compensar a tarifa americana.
Além dos custos, a maior preocupação da empresa é perder os distribuidores nos EUA - responsáveis por levar os produtos da marca aos salões de beleza. “Se eu deixo de entregar, o distribuidor substitui por uma marca europeia, que não sofrerá a mesma taxação. E aí, perdemos o canal de acesso ao consumidor final”, diz o CEO.
Borgo acredita que o setor de cosméticos brasileiro pode ser um dos mais atingidos pela medida. “O Brasil compra muito mais dos Estados Unidos do que vende. Essa taxação não tem lógica comercial, é claramente uma retaliação política”, afirma.
Apesar disso, o presidente também reforça que existe uma intenção do governo americano que de que empresários possam investir na criação de uma fábrica nos Estados Unidos, mas o processo não é tão fácil, muito menos barato.
“Levaríamos de dois a três anos para implantar uma planta lá. Fora o investimento milionário. É inviável para a nossa empresa,” afirma.
Com o cenário incerto, a Ecosmetics já começou a redesenhar sua estratégia. “Vamos tirar investimentos de feiras internacionais e ampliar nossa presença no mercado nacional. Também estamos reforçando a atuação no Oriente Médio, apesar da tensão geopolítica”, afirma.
A expectativa da empresa é manter a projeção de crescimento para 2025, mesmo com os desafios entre 25% e 30% em vendas e de 8% a 12% em faturamento.
“Mas, sim, o tarifaço impacta financeiramente e emocionalmente. Trabalhamos oito anos construindo esse mercado. Agora que a operação começa a decolar, somos obrigados a parar tudo”, diz Borgo.
O CEO espera que os governos brasileiro e americano encontrem uma solução diplomática para essa situação.
“Acredito que Trump não manterá essa taxação tão elevada, é mais uma pressão política. Mas o tempo é curto. Temos cargas paradas, distribuidores pressionando e um risco real de ruptura”.
A Ecosmetics nasceu oficialmente em 2002, em São Paulo, e ganhou espaço no mercado com um produto inovador: a escova de chocolate. Hoje, a Ecosméticos exporta para mais de 70 países, tem 120 funcionários diretos e mais de 3 mil empregos indiretos gerados pelos distribuidores no Brasil.
O grande destaque para este ano é a inauguração de uma nova fábrica em Teixeira de Freitas, focada na produção de pó descolorante. A unidade deverá começar a operar em agosto, após um investimento de cerca de R$ 12 milhões.
"Seremos a primeira fábrica da Bahia a produzir pó descolorante, um produto de alta demanda e que exige tecnologia de ponta," afirma Borgo que reforça que a nova fábrica ficará no mesmo terreno que está a fábrica da Ecosmetics, em Teixeira de Freitas, na Bahia.
A previsão é que a fábrica comece a operar em agosto deste ano e atenda exportações para a América do Sul, além da demanda nacional.