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Com tarifaço, enchente e pandemia, calçadista gaúcha anuncia falência com dívidas de R$ 18,3 milhões

Empresa de Três Coroas, no Rio Grande do Sul, chegou a produzir 3.700 pares por dia e conta atualmente com 80 funcionários

Mulher sofisticada: empresa fundada em 2012 anuncia falência  (Mulher Sofisticada/Instagram/Reprodução)

Mulher sofisticada: empresa fundada em 2012 anuncia falência (Mulher Sofisticada/Instagram/Reprodução)

Isabela Rovaroto
Isabela Rovaroto

Repórter de Negócios

Publicado em 16 de setembro de 2025 às 06h52.

A produtora de calçados Mulher Sofisticada, de Três Coroas, no Vale do Paranhana, tradicional polo calçadista gaúcho, encerrou as atividades nesta segunda-feira, 15, e vai ingressar com pedido de autofalência ainda nesta semana.

A empresa acumulava dívidas de R$ 18,3 milhões após uma sequência de crises que afetaram sua operação nos últimos anos.

Fundada em 2012, a fábrica se especializou na produção de calçados femininos para grandes marcas nacionais, chegando a fabricar 3.700 pares por dia em seu auge.

A crise começou em 2018, quando um de seus principais clientes deixou de efetuar pagamentos. O quadro se agravou em 2020, com a pandemia de covid-19, que reduziu a produção à metade da capacidade. Dois anos depois, em 2022, outros dois clientes estratégicos quebraram, acentuando o endividamento.

Em 2024, as enchentes históricas no Rio Grande do Sul comprometeram a cadeia produtiva, enquanto neste ano a imposição de uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras de calçados para os Estados Unidos tornou inviável parte dos contratos de fornecimento.

“Lamentamos muito. Com certeza é um dia triste para todos nós, mas precisamos encerrar para garantir o pagamento dos direitos trabalhistas e outros débitos”, afirmou João Batista, diretor da Mulher Sofisticada.

Até a semana passada, a fábrica ainda produzia 1.500 pares diários e mantinha cerca de 80 colaboradores.

Crise do setor de calçados 

O caso da Mulher Sofisticada ocorre em um momento de incertezas para o setor calçadista brasileiro. O Brasil é hoje o terceiro maior produtor mundial de calçados, com uma produção anual de cerca de 900 milhões de pares.

Após anos de estagnação, as exportações voltaram a crescer no primeiro semestre de 2025. Em junho, houve um salto de 24,5% nas vendas externas em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Os Estados Unidos, principal destino das exportações brasileiras, registraram crescimento de quase 40% nas compras de calçados nacionais em junho, com 1 milhão de pares embarcados e receita de US$ 20,76 milhões.

No entanto, a aplicação da tarifa de 50% sobre o calçado brasileiro já comprometeu essa recuperação. Para efeito de comparação, concorrentes chineses pagam apenas 30% de sobretaxa.

“Temos empresas cuja produção é integralmente enviada ao mercado externo, a maior parte para os Estados Unidos. Essas empresas terão produtos muito mais caros do que os importados da China. Estamos falando, neste primeiro momento, de uma perda estimada em cerca de 8 mil empregos diretos”, afirmou Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados.

De janeiro a julho de 2025, o setor exportou 59,88 milhões de pares, gerando US$ 574 milhões. Apesar de ainda haver crescimento de 6,6% em volume e 0,7% em receita em relação ao mesmo período de 2024, os dados indicam desaceleração.

Para mitigar os efeitos do tarifaço, a Abicalçados negocia com o governo federal medidas de compensação, como a ampliação de programas de incentivo às exportações (Reintegra e BEm) e novas linhas de crédito para empresas do setor.

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