Negócios

Começou no interior do RS: a cafeteria que virou negócio de R$ 250 milhões (e serve até salmão)

Fundada por dois amigos de Teutônia, a Quiero Café virou uma cafeteria-restaurante-bar com 70 unidades e nova aposta em shoppings

Luís Felipe Wallauer Ferreira e Matheus Fell, da Quiero Café: "Sempre que alguém ligava querendo abrir loja muito longe, a pergunta era: dá pra chegar de carro em poucas horas se ele precisar de ajuda?” (Wiliam Perin / Quiero Café/Divulgação)

Luís Felipe Wallauer Ferreira e Matheus Fell, da Quiero Café: "Sempre que alguém ligava querendo abrir loja muito longe, a pergunta era: dá pra chegar de carro em poucas horas se ele precisar de ajuda?” (Wiliam Perin / Quiero Café/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 13 de maio de 2025 às 11h20.

Última atualização em 13 de maio de 2025 às 11h32.

No começo, eles mal tomavam café. Um preferia o cappuccino de máquina, o outro só topava o passado com muito açúcar. Mas em 2015, quando os amigos de infância Matheus Fell e Luís Felipe Wallauer Ferreira decidiram abrir uma cafeteria em Teutônia — cidade gaúcha de pouco mais de 30.000 habitantes —, foi esse o ponto de partida para o que viria a se tornar uma das redes mais promissoras do sul do Brasil.

Hoje, a Quiero Café soma 70 unidades em operação, está presente em cinco estados e faturou 195 milhões de reais em 2024 — alta de 27,8% em relação ao ano anterior, mesmo com o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul.

O plano é ainda maior agora: chegar a 250 milhões de reais em 2025, com mais 15 inaugurações, foco em São Paulo e na consolidação de um novo modelo de loja para shoppings.

“Foi um ano desafiador, mas conseguimos crescer, validar novos formatos e manter o desempenho das lojas já existentes. Isso mostra a força do modelo”, diz Matheus.

Qual é a história da Quiero Café

A ideia surgiu de um incômodo. Luís Felipe trabalhava num escritório de advocacia em Teutônia, frequentado por clientes de Porto Alegre. Toda vez que pediam um lugar bacana para reuniões ou um café decente, a resposta era a mesma: não tem.

“Nem cafeteria tinha. O máximo era padaria ou posto de gasolina. A gente foi o primeiro da cidade a servir café expresso com máquina italiana”, diz Luís Felipe.

Sem entender nada de café, mas com muita vontade de empreender, os dois abriram a primeira loja três meses depois da ideia.

Fizeram o plano de negócios em duas colunas, na calculadora, e decidiram: se vendessem dois de cada item por dia, dava pra pagar as contas. O investimento foi focado em criar um ambiente acolhedor, bonito, com projeto arquitetônico — “nada de cadeira de plástico e piso branco”, dizem.

“Nosso sonho era só montar algo legal para a cidade. Um lugar bonito, onde a gente gostaria de estar”, afirma Matheus.

O negócio cresceu — e os clientes também

Logo nas primeiras semanas, começaram a aparecer clientes de cidades vizinhas.

Em seis meses, os sócios começaram a estudar o mercado de franquias. Um ano e meio depois, abriram a segunda unidade, em Lajeado (RS), considerada “a mãe” da Quiero Café — loja maior, mais bem estruturada, com processos mais claros. A partir dali, a expansão começou.

“A gente avançou com calma, numa lógica em espiral", afirma Luís Felipe. "Sempre olhando para a logística, para a capacidade de atender bem os franqueados. E sempre que alguém ligava querendo abrir loja muito longe, a pergunta era: dá pra chegar de carro em poucas horas se ele precisar de ajuda?”

Hoje, a marca tem 13 unidades próprias e o restante franqueadas. Mais de 90% dos franqueados enviam relatórios financeiros completos para a franqueadora, que faz consultorias mensais com base nesses dados.

Restaurante, cafeteria, bar — tudo junto e funcionando

Parte do sucesso está na versatilidade.

O Quiero Café funciona das 7h30min às 23h e serve de tudo: café da manhã, almoço, sobremesa, drinks, janta.

O mesmo espaço atende quem quer um espresso com leite e quem pede duas caipirinhas e uma salada com salmão. “Tem família que almoça, janta e toma café com a gente todos os dias”, diz Matheus.

A variedade não pesa na gestão graças a um trabalho forte de engenharia de cardápio e inteligência de estoque.

“Os mesmos insumos aparecem em vários pratos, o que ajuda a girar o estoque e manter o custo sob controle”, explica.

Itens como feijão, farofa, molho quatro queijos e até pão de campanha são fornecidos pela distribuidora própria da rede, criada em 2019.

A nova fase: São Paulo, shopping e uma loja com torrador em Gramado

Apesar da origem no interior, o plano agora é ganhar tração nas grandes cidades. A rede abriu uma loja em Gramado, com torrador próprio e novos padrões de experiência. Também testou operações menores: em shopping, aeroporto e prédios comerciais — formatos que agora serão liberados para franqueados.

Além disso, São Paulo virou foco absoluto: a marca já está na capital com quatro lojas, mas vai instalar parte do time da franqueadora na cidade.

“Queremos levar o DNA da marca, construir relacionamento e participar mais do ecossistema. Não basta fazer call: tem que estar presente fisicamente”, diz Matheus.

“Em São Paulo, o desafio é grande: o cliente tem muitas opções, o mercado é competitivo. Mas a gente acredita que tem espaço para oferecer um lugar acolhedor, bonito e com comida boa o dia todo.”

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