Fardos de celulose para exportação estocados em uma fábrica da Fibria em Aracruz, Espirito Santo (Rich Press/Bloomberg)
Redatora
Publicado em 7 de agosto de 2025 às 16h53.
Última atualização em 7 de agosto de 2025 às 16h54.
Toda empresa que atua globalmente precisa encarar as oscilações do câmbio. Faz parte do jogo. Mas algumas utilizam sofisticadas estratégias para se proteger e, em certos cenários, lucrar. Foi o que aconteceu com a Aracruz Celulose, que era uma das maiores exportadoras de celulose do mundo, e apostou em uma espécie de “seguro” contra oscilações (prática conhecida como hedge). Mas o plano deu errado.
Em 2008, a empresa perdeu R$ 2,1 bilhões. A derrocada aconteceu no Brasil, em meio à crise global gerada pela quebra do banco Lehman Brothers, quando o dólar disparou e o real se desvalorizou rapidamente.
Um ano depois, a empresa foi adquirida pela Votorantim, dando origem à Fibria, que depois se tornaria a Suzano. O caso virou símbolo de como o uso errado de derivativos pode comprometer a sobrevivência de uma companhia — e ainda hoje é exemplo de estudo em cursos de finanças e governança.
A estratégia que a Aracruz Celulose adotou foi o uso de derivativos cambiais. Na prática, nada mais é do que um instrumento financeiro usado para proteger empresas da variação do dólar.
Sérgio Santos, professor da Saint Paul Escola de Negócios, explica que, nesses casos, empresas compram contratos financeiros em determinada moeda com valor pré-estabelecido com base no câmbio daquele momento. O objetivo é se proteger de futuras variações. Esses contratos podem ser negociados dentro ou fora de bolsas de valores.
Mas, no caso da Aracruz, “o instrumento foi utilizado de maneira equivocada”, pondera o professor. Para ele, é possível que a empresa estivesse “se utilizando dos derivativos para especulação aumentando sua exposição cambial ao invés de mitigá-la”.
A Aracruz tinha US$ 10 bilhões em derivativos, o que, de acordo com Santos, representava quase cinco vezes mais que sua receita anual em exportações.
Cerca de 90% desses derivativos eram "Target Forwards", um instrumento que o professor considera “exótico” e mistura dois tipos de contratos. Isso ampliava a exposição e dificultava o controle do risco.
Mesmo listada no Nível 1 de Governança Corporativa da bolsa brasileira e com auditoria externa, a Aracruz não teve controles internos suficientes para evitar a tragédia. “Isso evidencia a pouca eficácia dos mecanismos de governança e de auditoria”, argumenta Santos.
A ação especulativa da Aracruz gerou o que o professor chama de “Conflito de Agência”: uma disputa entre os administradores e os acionistas da empresa.
“A atitude dos administradores foi danosa para os acionistas que investem com visão de longo prazo, gerando um conflito de interesses entre aqueles que querem resultados imediatos”, diz ele.
O caso Aracruz continua sendo debatido em salas de aula, livros e treinamentos. Para Santos, ele evidencia como a falta de conhecimento técnico, aliada à ganância e à má governança, pode provocar prejuízos gigantescos.
Esse e outros casos são apresentados no curso de educação executiva Formação de Profissionais em Mercados Derivativos, uma parceria entre EXAME Saint Paul e B3 Educação, o braço de educação da bolsa de valores do Brasil.
Sérgio Santos, um dos professores do curso, diz que o programa e seus estudos de caso “expõem as vantagens e os riscos da má utilização dos mercados derivativos”.
Considerado um dos programas mais completos do país, o curso “prepara os alunos em conceitos e nas melhores práticas, colocando-os em condições de disputar posições executivas”, afirma Santos.