Ivon Rosa, diretor de relações com o mercado da Dígitro (Dígitro/Divulgação)
Editor da Região Sul
Publicado em 1 de agosto de 2025 às 17h51.
Um dos conceitos mais conhecidos no mercado é o do que durante as crises também é possível identificar oportunidades para novos negócios. A Dígitro Tecnologia, uma das pioneiras na área de inovação em Santa Catarina, integra o seleto grupo de empresas que trabalha a soberania nacional como um de seus ativos, há 47 anos. No alto da sede empresa, em Florianópolis, tremula uma gigantesca bandeira do Brasil como símbolo da importância que a empresa dá para este valor.
Certificada pelo Ministério da Defesa como Empresa Estratégica de Defesa (EED), a companhia se destaca pelo foco no desenvolvimento de tecnologias confiáveis para ambientes críticos em segurança da informação, defesa e comunicação corporativa. O diretor de Relações com o Mercado, Ivon Rosa, recebeu a EXAME, na sede da empresa, onde apresentou a “menina dos olhos da Dígitro”.
Uma sala de situação monitora em tempo real, 24 horas por dia, sete dias por semana, o desempenho de todas as plataformas e soluções utilizadas pelos mais de 3 mil clientes da empresa. Por contrato, explica Ivon, o atendimento a qualquer situação crítica na ponta, por menor que seja, deve ser identificada e corrigida com uma taxa superior a 90% de resolutividade em tempo real. Ao todo, são mais de 400 mil usuários ativos que utilizam diariamente as soluções Dígitro no Brasil e no exterior.
“Este percentual consta, inclusive, em contrato, mas nós trabalhamos com uma resolutividade online ainda maior, na faixa dos 95%”, diz. E o mais importante: “Operamos com tecnologia 100% nacional, em ambiente seguro e sem risco de vazamento de informações, porque o tráfego de dados que circula pelas nossas plataformas não passa pelos tradicionais canais das big techs, que, na prática, são empresas estrangeiras”, afirma.
Com mais de 300 funcionários e capital 100% brasileiro, a empresa possui filiais em São Paulo e Brasília, parceiros comerciais em todos os estados e atua também na América Latina e África, oferecendo soluções SaaS e on-premise, aplicáveis ao atendimento e comunicação para corporações, instituições públicas, segurança e defesa militar. Entre seus tradicionais clientes, estão as Forças Armadas do Brasil. A iniciativa privada responde por 60% da receita e os outros 40% são de órgãos públicos.
Uma de suas plataformas mais conhecidas, o Guardião, está presente nos 27 estados da federação, atendendo 90% das polícias judiciárias do país (Polícia Civil). A ferramenta, que acaba de completar 25 anos, opera hoje não somente como extensão dos olhos e ouvidos dos investigadores no combate ao crime organizado, mas também como um parceiro, por meio da Inteligência Artificial construída especialmente pela Dígitro.
A plataforma passou por sucessivos avanços tecnológicos e se consolidou como uma solução robusta no combate ao crime organizado. Evoluindo de um sistema inicialmente focado na interceptação de comunicações para um ecossistema completo de inteligência, a tecnologia reflete o compromisso da Dígitro com inovação contínua, segurança da informação e apoio efetivo às forças de segurança. Um dado emblemático reforça essa trajetória: nenhuma prova gerada pela ferramenta foi refutada pela Justiça nestas duas décadas e meia. Recentemente, empresa lançou dois novos módulos do Guardião: o Banco de Faces e o Módulo Financeiro e Fiscal.
O Módulo Financeiro e Fiscal expande o escopo da plataforma e marca o primeiro passo para a consolidação como ferramenta completa de investigação financeira. Com esse novo “olhar”, a solução passa a integrar o tripé das principais frentes investigativas: interceptações de comunicações, afastamento de sigilos de dados cadastrais e telemáticos e análise de dados financeiros e fiscais. Com isso, é possível a realização da busca completa de informações das ações criminosas, seguindo os rastros digitais dela, conforme rege o “follow the money”.
A relevância do tema é reforçada por um cenário nacional cada vez mais exigente. Segundo o Coaf, só em 2024 foram produzidos cerca de 18 mil relatórios de inteligência financeira no Brasil, muitos deles relacionados a esquemas de corrupção e organizações criminosas com atuação transnacional. Ferramentas tecnológicas de análise e rastreamento de ativos tornaram-se essenciais para a efetividade das investigações e para a recuperação de valores desviados. “Por óbvio, não temos acesso às informações apuradas e nem ao cruzamento de dados inseridos no Guardião durante as operações policiais, mas oferecemos uma plataforma completa para que o Estado consiga cruzar os dados, identificar os operadores e focar na asfixia financeira destas organizações criminosas”, explica Ivon.
O módulo permite a leitura automatizada dos Relatórios de Inteligência Financeira (RIF) com apoio de inteligência artificial, transformando dados não estruturados em informações qualificadas. Os RIFs são, inicialmente, a primeira de diversas fontes que serão incorporadas ao módulo, marcando o início de uma jornada mais ampla de integração de dados financeiros e fiscais. Como porta de entrada para investigações de lavagem de dinheiro, os relatórios servem de base para que os órgãos de inteligência avancem na análise de documentos bancários, fiscais e contábeis. Os processos são apoiados por critérios de rastreabilidade e governança, garantindo segurança jurídica no uso da tecnologia em investigações sensíveis.
Já o Banco de Faces oferece uma infraestrutura modular para reconhecimento facial, com aplicação em diferentes contextos, como em registros de apenados e desaparecidos. Com ele, os clientes passam a integrar a identificação facial aos fluxos de inteligência e análise de dados já operados pelo Guardião, permitindo o cruzamento de informações e novas abordagens investigativas.
A empresa não comenta sobre receita e faturamento, mas Ivon assegura que ele vem mantendo um crescimento contínuo na casa dos dois dígitos e planeja fechar 2025 com um incremento de 25%.
Além do Guardião, outras plataformas são destaque no portifólio da empresa: o Interact, criado para atendimento dos serviços chamados tridígitos, como o 190 e 193 das Polícias Militar e dos Bombeiros. Esta ferramenta também está presente nos 27 estados e permite a organização e distribuição do atendimento às ocorrências em tempo real. O Persona, que é a plataforma para atendimento via chatbots, e, por fim, a Una, que permite conversas e transmissão de dados por vídeo e chat dentro nas corporações, num ambiente totalmente seguro e sem que nenhuma informação possa ser acessada, por exemplo, pelas gigantes da comunicação estrangeiras.
Os contratos e serviços prestados aos órgãos de controle, como Ministério Publico em 15 estados, segurança pública nos 27 estados e às Forças Armadas do Brasil são mantidos sob sigilo. Até porque, neste caso, seria, literalmente, entregar o ouro para os bandidos. Algo impensável para quem enxerga na soberania nacional, além do valor como nação, uma oportunidade de negócios com uma expertise única em missões críticas.