Negócios

Como uma empresa catarinense garante a soberania nacional no tráfego de dados

A Dígitro está está presente nos 27 estados da federação, atendendo 90% da polícia judiciária (Polícia Civil) com a plafatorma Guardião, que acaba de incorporar um novo módulo para as investigações financeiras contra o crime organizado

Ivon Rosa, diretor de relações com o mercado da Dígitro (Dígitro/Divulgação)

Ivon Rosa, diretor de relações com o mercado da Dígitro (Dígitro/Divulgação)

Rafael Martini
Rafael Martini

Editor da Região Sul

Publicado em 1 de agosto de 2025 às 17h51.

Tudo sobreExame-sul
Saiba mais

Um dos conceitos mais conhecidos no mercado é o do que durante as crises também é possível identificar oportunidades para novos negócios. A Dígitro Tecnologia, uma das pioneiras na área de inovação em Santa Catarina, integra o seleto grupo de empresas que trabalha a soberania nacional como um de seus ativos, há 47 anos. No alto da sede empresa, em Florianópolis, tremula uma gigantesca bandeira do Brasil como símbolo da importância que a empresa dá para este valor.

Certificada pelo Ministério da Defesa como Empresa Estratégica de Defesa (EED), a companhia se destaca pelo foco no desenvolvimento de tecnologias confiáveis para ambientes críticos em segurança da informação, defesa e comunicação corporativa. O diretor de Relações com o Mercado, Ivon Rosa, recebeu a EXAME, na sede da empresa, onde apresentou a “menina dos olhos da Dígitro”.

Sala de situação opera 24h, sete dias por semana

Uma sala de situação monitora em tempo real, 24 horas por dia, sete dias por semana, o desempenho de todas as plataformas e soluções utilizadas pelos mais de 3 mil clientes da empresa. Por contrato, explica Ivon, o atendimento a qualquer situação crítica na ponta, por menor que seja, deve ser identificada e corrigida com uma taxa superior a 90% de resolutividade em tempo real. Ao todo, são mais de 400 mil usuários ativos que utilizam diariamente as soluções Dígitro no Brasil e no exterior.

“Este percentual consta, inclusive, em contrato, mas nós trabalhamos com uma resolutividade online ainda maior, na faixa dos 95%”, diz. E o mais importante: “Operamos com tecnologia 100% nacional, em ambiente seguro e sem risco de vazamento de informações, porque o tráfego de dados que circula pelas nossas plataformas não passa pelos tradicionais canais das big techs, que, na prática, são empresas estrangeiras”, afirma.

Forças Armadas estão entre os clientes mais antigos

Com mais de 300 funcionários e capital 100% brasileiro, a empresa possui filiais em São Paulo e Brasília, parceiros comerciais em todos os estados e atua também na América Latina e África, oferecendo soluções SaaS e on-premise, aplicáveis ao atendimento e comunicação para corporações, instituições públicas, segurança e defesa militar. Entre seus tradicionais clientes, estão as Forças Armadas do Brasil. A iniciativa privada responde por 60% da receita e os outros 40% são de órgãos públicos.

Uma de suas plataformas mais conhecidas, o Guardião, está presente nos 27 estados da federação, atendendo 90% das polícias judiciárias do país (Polícia Civil). A ferramenta, que acaba de completar 25 anos, opera hoje não somente como extensão dos olhos e ouvidos dos investigadores no combate ao crime organizado, mas também como um parceiro, por meio da Inteligência Artificial construída especialmente pela Dígitro.

A plataforma passou por sucessivos avanços tecnológicos e se consolidou como uma solução robusta no combate ao crime organizado. Evoluindo de um sistema inicialmente focado na interceptação de comunicações para um ecossistema completo de inteligência, a tecnologia reflete o compromisso da Dígitro com inovação contínua, segurança da informação e apoio efetivo às forças de segurança. Um dado emblemático reforça essa trajetória: nenhuma prova gerada pela ferramenta foi refutada pela Justiça nestas duas décadas e meia. Recentemente, empresa lançou dois novos módulos do Guardião: o Banco de Faces e o Módulo Financeiro e Fiscal.

O Módulo Financeiro e Fiscal expande o escopo da plataforma e marca o primeiro passo para a consolidação como ferramenta completa de investigação financeira. Com esse novo “olhar”, a solução passa a integrar o tripé das principais frentes investigativas: interceptações de comunicações, afastamento de sigilos de dados cadastrais e telemáticos e análise de dados financeiros e fiscais. Com isso, é possível a realização da busca completa de informações das ações criminosas, seguindo os rastros digitais dela, conforme rege o “follow the money”.

Mais de 18 mil relatórios de inteligência financeira

A relevância do tema é reforçada por um cenário nacional cada vez mais exigente. Segundo o Coaf, só em 2024 foram produzidos cerca de 18 mil relatórios de inteligência financeira no Brasil, muitos deles relacionados a esquemas de corrupção e organizações criminosas com atuação transnacional. Ferramentas tecnológicas de análise e rastreamento de ativos tornaram-se essenciais para a efetividade das investigações e para a recuperação de valores desviados. “Por óbvio, não temos acesso às informações apuradas e nem ao cruzamento de dados inseridos no Guardião durante as operações policiais, mas oferecemos uma plataforma completa para que o Estado consiga cruzar os dados, identificar os operadores e focar na asfixia financeira destas organizações criminosas”, explica Ivon.

O módulo permite a leitura automatizada dos Relatórios de Inteligência Financeira (RIF) com apoio de inteligência artificial, transformando dados não estruturados em informações qualificadas. Os RIFs são, inicialmente, a primeira de diversas fontes que serão incorporadas ao módulo, marcando o início de uma jornada mais ampla de integração de dados financeiros e fiscais.  Como porta de entrada para investigações de lavagem de dinheiro, os relatórios servem de base para que os órgãos de inteligência avancem na análise de documentos bancários, fiscais e contábeis. Os processos são apoiados por critérios de rastreabilidade e governança, garantindo segurança jurídica no uso da tecnologia em investigações sensíveis.

Já o Banco de Faces oferece uma infraestrutura modular para reconhecimento facial, com aplicação em diferentes contextos, como em registros de apenados e desaparecidos. Com ele, os clientes passam a integrar a identificação facial aos fluxos de inteligência e análise de dados já operados pelo Guardião, permitindo o cruzamento de informações e novas abordagens investigativas.

A empresa não comenta sobre receita e faturamento, mas Ivon assegura que ele vem mantendo um crescimento contínuo na casa dos dois dígitos e planeja fechar 2025 com um incremento de 25%.

Ocorrências do 190 passam pelo Interact

Além do Guardião, outras plataformas são destaque no portifólio da empresa: o Interact, criado para atendimento dos serviços chamados tridígitos, como o 190 e 193 das Polícias Militar e dos Bombeiros. Esta ferramenta também está presente nos 27 estados e permite a organização e distribuição do atendimento às ocorrências em tempo real. O Persona, que é a plataforma para atendimento via chatbots, e, por fim, a Una, que permite conversas e transmissão de dados por vídeo e chat dentro nas corporações, num ambiente totalmente seguro e sem que nenhuma informação possa ser acessada, por exemplo, pelas gigantes da comunicação estrangeiras.

Os contratos e serviços prestados aos órgãos de controle, como Ministério Publico em 15 estados, segurança pública nos 27 estados e às Forças Armadas do Brasil são mantidos sob sigilo. Até porque, neste caso, seria, literalmente, entregar o ouro para os bandidos. Algo impensável para quem enxerga na soberania nacional, além do valor como nação, uma oportunidade de negócios com uma expertise única em missões críticas.

Acompanhe tudo sobre:TecnologiaSanta CatarinaSegurança públicaMinistério da DefesaExame-sul

Mais de Negócios

Aos 29, ele fez a empresa crescer 44.000% só importando produto da China

Cheiro de sucesso: como marcas globais estão apostando em experiências sensoriais

De dormir no chão a andar 'sem roupas': os hábitos mais estranhos de grandes líderes

Do cashback ao valuation bilionário: por que o iFood pode pagar até R$ 10 bi pela CRMBonus?