Negócios

Das multinacionais a uma agência de ecoturismo voltada para 50+

Após décadas no mundo corporativo, a curitibana Lia Barros trocou metas por propósito e fundou a Slow & Steady Travel, que une inclusão, sustentabilidade e conforto

Lia Barros, fundadora da Slow & Steady Travel: “Com o Sebrae, aprendi algo essencial: aceitar ajuda externa também é uma forma de força”

Lia Barros, fundadora da Slow & Steady Travel: “Com o Sebrae, aprendi algo essencial: aceitar ajuda externa também é uma forma de força”

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 25 de outubro de 2025 às 11h00.

Durante anos, a curitibana Lia Barros seguiu o caminho que muitos consideram ideal: construiu uma carreira sólida em multinacionais, com estabilidade financeira e crescimento constante. No entanto, apesar do sucesso, faltava algo. “Chegou um momento em que percebi que estava ajudando a realizar os sonhos dos outros, mas não os meus”, diz. A virada veio com o desejo de viver em seu próprio ritmo e com mais propósito – decisão que mais tarde daria origem à Slow & Steady Travel, agência especializada em experiências de imersão cultural e ecoturismo voltadas ao público 50+.

Criada em 2018, a empresa nasceu com um objetivo claro: incentivar a desaceleração e o contato com a natureza, sempre com princípios sólidos de inclusão e sustentabilidade para criar vivências regenerativas. Com sede em Curitiba e base de apoio em Manaus e na Argentina, a operação cresceu acompanhando uma tendência global: o turismo de experiência, que deve movimentar mais de US$ 500 bilhões até 2030, segundo a Euromonitor. No Brasil, o público 50+ já representa 38% dos viajantes independentes – e foi justamente nesse grupo que ela encontrou seu diferencial.

Como resultado dessa trajetória, está entre as finalistas do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, na categoria Negócios Internacionais. O resultado será anunciado durante o Sebrae Delas, em Florianópolis, entre os dias 30 e 31 de outubro.

Habilidade de identificar oportunidades

Formada em Direito, Lia iniciou a trajetória empreendedora em Buenos Aires, em 2008, após quase duas décadas no mundo corporativo. Com dupla nacionalidade, mudou-se para a capital argentina após o segundo casamento e viu a chance de unir conhecimento e propósito. Antes de trabalhar em multinacionais, foi professora de inglês e notou a ausência de uma franquia brasileira de línguas na capital argentina. Decidiu, então, levar o modelo para lá. O sucesso da escola abriu portas para novos projetos: um serviço de traduções, o blog Buenos Aires para brasileiros – pioneiro no tema – e um papel ativo como representante da comunidade brasileira.

Mas foi na adversidade que descobriu seu verdadeiro caminho. Uma taxação sobre livros didáticos inviabilizou a escola, e uma separação pessoal a fez recomeçar. O blog, em expansão, despertou o interesse de veículos argentinos, que passaram a convidá-la para divulgar destinos ao público brasileiro – muito antes de isso se tornar comum nas redes sociais. “Os leitores começaram a pedir pacotes de viagem, e identifiquei uma oportunidade”, conta.

O passo seguinte foi trabalhar na Secretaria de Turismo de Buenos Aires, onde conquistou estabilidade, contatos e a certeza de que gostaria de apostar no setor. Foi durante as viagens pelo país que conheceu a Patagônia e decidiu que seria ali o ponto de partida para o novo projeto.

A força da maturidade

Em 2017, deixou o cargo público e mudou-se para Puerto Madryn, onde fundou no ano seguinte a primeira versão da Slow & Steady: uma agência de ecoturismo e turismo de aventura integrada a um pequeno hotel boutique. Em 2022, acompanhando sua própria maturidade, a empresa passou a focar no público 50+, formado por viajantes ativos, conscientes e conectados à natureza, mas que não abrem mão do conforto. “Fui amadurecendo junto com o projeto e notei uma lacuna de produtos e serviços para pessoas como eu, especialmente mulheres”, diz.

O plano de negócio nasceu da prática e da intuição. Durante alguns anos, Lia estudou o mercado e mapeou destinos, público e investimentos, além de buscar aconselhamento com outros empresários. Sua trajetória profissional, marcada pela atuação em multinacionais e como professora de inglês, também trouxe uma bagagem sólida em áreas como marketing, vendas, atenção ao cliente e back office, com o atendimento a clientes do mundo inteiro.

Já de volta ao Brasil, inaugurou a unidade em Curitiba – no dia do seu aniversário de 55 anos – e consolidou o ecossistema Slow que hoje combina viagens, produtos sustentáveis e o projeto Slow Women, voltado ao bem-estar e à conexão de mulheres 50+.

Os desafios do caminho

A jornada, no entanto, não foi linear. Sem investidores ou financiamentos, a curitibana precisou moldar a operação ao próprio orçamento. “Empreender depois dos 50 é uma avalanche de desafios. A sociedade insiste em nos tornar invisíveis e precisamos provar o tempo todo que temos energia, competência e visão. É uma grande responsabilidade porque também somos exemplo para quem vem depois de nós.”

Poucos meses após inaugurar o hotel, a pandemia interrompeu as atividades e trouxe um impacto financeiro profundo. Foram quase dois anos de incertezas e reinvenção até a decisão de encerrar o hotel, em 2024, e concentrar as operações nas agências do Brasil e da Argentina. “Tive que repensar tudo, sem nunca perder o propósito”, afirma.

Quando o empreendimento começava a se reequilibrar, veio o golpe mais duro: o diagnóstico de câncer de mama. O tratamento a afastou do trabalho até agosto deste ano, mas também fortaleceu sua visão de mundo. “O momento mais difícil foi ligar para minhas filhas e contar sobre o câncer. Tudo ficou pequeno diante disso”, conta.

Mesmo em recuperação, manteve o foco e buscou capacitação. “Com o Sebrae, aprendi algo essencial: aceitar ajuda externa também é uma forma de força.”

Sem pressa e com cautela

A filosofia que dá nome à marca reflete sua própria história. “A pressa sempre foi vista como sinônimo de sucesso. Mas, no empreendedorismo, aprendi que é no ritmo certo que as coisas florescem”, diz. Hoje, a Slow & Steady Travel conta com uma comunidade fiel de viajantes e já embarcou mais de 700 clientes em viagens personalizadas, além de manter parcerias com guias e produtores locais e uma rede de colaboradores que compartilha o mesmo propósito: viver e trabalhar com consciência.

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