Endocrinologistas recomendam que o tratamento seja combinado com dieta balanceada e exercícios físicos regulares. (Steve Christo - Corbis/Getty Images)
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Publicado em 3 de outubro de 2025 às 17h11.
Última atualização em 3 de outubro de 2025 às 17h24.
As canetas injetáveis para tratamento de obesidade vem ganhando espaço no Brasil de forma acelerada.
Dados da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) mostram que a prescrição desses medicamentos mais que dobrou no país nos últimos dois anos — não estando necessariamente associado a um maior acesso a tratamento médico de qualidade.
A entidade sugere que a intensificação da medicalização surge como resposta rápida a um problema complexo, que envolve também questões de emagrecimento, mudanças de hábitos alimentares e prática de atividade física.
Com cada vez mais fama e prateleiras nas farmácias, esses medicamentos pertencem à classe dos análogos de GLP-1, um hormônio produzido no intestino.
Sua atuação funciona reduzindo o apetite, promovendo saciedade e controlando os níveis de glicose no sangue.
Hoje, o Brasil já tem uma versão nacional sendo comercializada após a liberação da Anvisa, se estabelecendo com uma das alternativas mais econômicas disponíveis. Abaixo, confira as características de cada caneta.
A farmacêutica EMS lançou em 4 de agosto a primeira caneta emagrecedora produzida no Brasil. O Olire, que teve aprovação da Anvisa em dezembro e anúncio oficial em julho, tem como princípio ativo a liraglutida.
O medicamento é aprovado para uso em pessoas a partir de 12 anos com obesidade ou sobrepeso associado a comorbidades como hipertensão e pré-diabetes. A administração é diária, com doses que variam de 0,6 mg a 3 mg.
Uma caixa com três canetas, que totaliza 54 mg, cobre aproximadamente 18 dias na dose máxima. Entretanto, sua eficácia é mais modesta em comparação com medicamentos mais recentes.
Características principais:
A Novo Nordisk comercializa o Saxenda, que também utiliza a liraglutida como princípio ativo. Por isso, as indicações e a forma de administração são idênticas às do Olire, assim como a eficácia comprovada em estudos clínicos.
A diferença está principalmente no custo. O Saxenda tem preço médio entre R$ 730 e R$ 1.100 nas farmácias brasileiras, o que o torna ligeiramente mais caro que a versão nacional. Sendo assim, a escolha entre os dois medicamentos costuma levar em conta a disponibilidade e o custo-benefício.
O Ozempic se tornou um dos medicamentos mais populares para perda de peso no Brasil, ainda que sua aprovação oficial seja para diabetes tipo 2.
Uma das principais razões para essa popularização é porque médicos passaram a prescrever o medicamento para obesidade em um uso chamado off-label, ou seja, fora da indicação aprovada pela bula.
O principal ativo dessa classe oferece uma vantagem prática em relação aos outros, uma vez que sua aplicação é semanal, não diária. Além disso, estudos mostram que o medicamento promove perda de peso de até 17,4% em 68 semanas.
Vale destacar que a expectativa para 2026 é grande. Com a queda das patentes do Ozempic, versões genéricas devem entrar no mercado com preços mais acessíveis, o que pode democratizar ainda mais o acesso a essa classe de medicamentos.
Características principais:
É importante ressaltar que o uso off-label exige um acompanhamento médico rigoroso, já que as doses aprovadas para diabetes diferem daquelas indicadas para tratamento da obesidade.
A Novo Nordisk desenvolveu o Wegovy especificamente para tratamento da obesidade. Embora utilize o mesmo princípio ativo do Ozempic, as doses são maiores, chegando a 2,4 mg semanais após um período de ajuste gradual.
A eficácia é semelhante à do Ozempic quando usado em doses equivalentes, mas o Wegovy tem aprovação oficial para emagrecimento a partir de 12 anos. A desvantagem está na disponibilidade no Brasil, que ainda é limitada, eleva os preços no mercado.
Características principais:
A alta demanda global pelo medicamento afeta o abastecimento em vários países, inclusive no Brasil. Por outro lado, quando disponível, o Wegovy oferece uma opção mais potente que a liraglutida.
A Eli Lilly lançou o que é considerado o medicamento mais eficaz dessa categoria. Em 2025, o Mounjaro foi aprovado pela Anvisa para diabetes tipo 2 e, posteriormente, para obesidade a partir de 18 anos.
Atualmente, o destaque dessa opção se dá porque, enquanto os outros medicamentos atuam apenas no GLP-1, ela é um duplo agonista, agindo simultaneamente nos hormônios GLP-1 e o GIP.
Essa combinação resulta em um maior controle glicêmico e perda de peso mais expressiva que as gerações anterioress.
Quanto ao resultado, os estudos apontam para uma perda de até 25,3% do peso corporal em 88 semanas, o que representa cerca de um quarto do peso inicial.
Características principais:
Apesar da eficácia superior, o Mounjaro também enfrenta desafios de disponibilidade. A alta demanda mundial limita os estoques no Brasil, o que pode dificultar o acesso contínuo ao tratamento.
Vale destacar que essa lista deve sofrer alterações em breve, já que a Eli Lilly está desenvolvendo a retratutida, um triplo agonista que atua nos hormônios GLP-1, GIP e GCG.
Os estudos preliminares já apontam para perda de peso de até 24% em um ano, mas o medicamento ainda não está disponível no mercado brasileiro.
A conclusão dos testes está prevista para 2026, e, se aprovada, a retratutida pode estrear um novo patamar de eficácia no tratamento da obesidade.
Apesar da eficácia atestada, todos os medicamentos dessa classe provocam efeitos colaterais gastrointestinais, especialmente no início do tratamento.
Náuseas, vômitos, diarreia e constipação estão entre as queixas mais comuns, embora tendam a diminuir com o tempo.
Ainda há contraindicações importantes que precisam ser consideradas, como, por exemplo, pessoas com histórico pessoal ou familiar de carcinoma medular de tireoide. O mesmo vale para quem já teve pancreatite aguda, gestantes e lactantes.
Além disso, o uso sem acompanhamento nutricional adequado pode levar à perda de massa muscular, não apenas de gordura.
Por isso, endocrinologistas recomendam que o tratamento seja combinado com dieta balanceada e exercícios físicos regulares.