A liderança da Disdal: Carolyne, Luciana e Rafaela Dal Berto (divulgação/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 8 de março de 2025 às 12h12.
Última atualização em 8 de março de 2025 às 18h00.
O setor de distribuição no Brasil ainda é dominado por homens. Mas na Disdal, a realidade é outra. Desde 2022, a empresa de Brasília está sob o comando de três mulheres. Luciana Dal Berto e as filhas, Carolyne e Rafaela, assumiram a operação após a morte repentina do fundador e CEO, Clair Dal Berto, aos 50 anos. Sem aviso, tiveram que decidir: vender ou tocar a operação. Optaram pelo caminho mais difícil. Dois anos depois, levaram o faturamento para R$ 840 milhões, com uma equipe de 1.500 funcionários e um plano claro de crescimento.
A empresa, que nasceu de um pequeno atacado no Paraná, tornou-se uma das maiores distribuidoras do Centro-Oeste, representando marcas como Red Bull, Kraft Heinz, Nissin e Johnson & Johnson. No mercado de distribuição, onde grandes mudanças levam anos, a empresa conseguiu crescer 45% em cinco anos. A meta agora é bater R$ 1 bilhão em 2025.
“A liderança feminina não é só sobre competência. Muitas vezes, precisamos provar duas vezes mais que somos capazes", diz a presidente Luciana Dal Berto.
A história da Disdal começa no sudoeste do Paraná, nos anos 1980. Clair Dal Berto tinha 17 anos quando foi emancipado pelo pai e recebeu uma Kombi para vender doces em Francisco Beltrão. Aos poucos, transformou a venda ambulante em um pequeno atacado. Expandiu para o varejo e chegou a ter supermercados ao lado dos dois irmãos. A entrada no setor de distribuição aconteceu em 2004, quando comprou uma operação no Centro-Oeste. A empresa cresceu e, em 2006, nasceu a Disdal.
Luciana entrou cedo no negócio. Casou aos 15 anos, foi mãe aos 16 e, pouco depois, já estava no administrativo da empresa. Os irmãos desfizeram a sociedade e o casal ficou com a distribuidora. Ela cuidava do financeiro e da operação enquanto o marido expandia a rede de clientes e contratos com grandes indústrias. As filhas cresceram nesse ambiente. "Elas sempre demonstravam interesse em participar do negócio. Desde cedo elas foram entendendo como a empresa funcionava, o que foi muito importante para o processo de sucessão", diz.
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Os pais estavam preparando as filhas para uma sucessão futura, mas a morte repentina do CEO em 2022 antecipou os planos. “O que deveria levar anos, aconteceu em uma semana. De filhas do dono, viramos donas”, diz Carolyne.
A transição foi imediata. Luciana assumiu como CEO. Carolyne ficou com a parte administrativa e financeira. Rafaela ficou com as áreas comercial e de marketing. A primeira questão era manter a confiança do mercado. Funcionários e fornecedores esperavam uma decisão: a empresa continuaria ou seria vendida?
“O medo da equipe era real. A dúvida era se a gente daria conta”, lembra Luciana. "Nos primeiros meses, a gente estava muito fragilizada e no piloto automático. Quem segurou a empresa foram os funcionários".
A empresa já vinha numa trajetória de crescimento quando bateu o faturamento recorde na época de 70 milhões de reais no mês.
"A mudança foi um choque para muita gente. Três mulheres no comando de uma empresa desse porte não é comum”, diz Rafaela.
A nova gestão definiu uma estratégia: crescer dentro dos estados onde já atuava, sem expandir para novas regiões. Para isso, duplicaram o centro de distribuição de Brasília para 10.000 m² e triplicaram o espaço em Goiás. Investiram em tecnologia e governança, criando um comitê consultivo para decisões estratégicas.
“A gente aprendeu que, quando a decisão é compartilhada, o erro é menor e o aprendizado é maior”, diz Luciana.
O Grupo Disdal opera diversas frentes de negócio além da distribuição de grandes marcas. A Mônaco Patrimonial, holding imobiliária do grupo, é dona dos prédios operacionais, incluindo os centros de distribuição, e lidera a construção de um condomínio logístico em Brasília, onde a própria Disdal é uma das inquilinas, junto com outras empresas. A companhia possui quatro centros de distribuição localizados em Brasília (DF), Aparecida de Goiânia (GO), Porto Velho (RO) e Rio Branco (AC), atendendo mais de 19.000 pontos de venda.
A Ferrari Transportadora gerencia os ativos imobilizados, oferecendo locação de empilhadeiras e prateleiras, além de atuar como operador logístico para terceiros. No transporte, a empresa não possui caminhões próprios, mas mantém uma frota de 50 veículos de venda pronta entrega, que distribuem produtos da Mondelez diretamente nos pontos de venda. Esses veículos funcionam como mini CDs móveis, permitindo que os motoristas realizem vendas, entregas, merchandising e recebimentos diretamente nos clientes.
Em 2023, a empresa faturou 805 milhões de reais, alta de 11%. E terminou o último ano com 840 milhões de reais.Com a casa em ordem, a empresa já pensa no futuro. A meta de R$ 1 bilhão está perto, mas os planos vão além. Criar um condomínio logístico em Brasília, onde pretendem expandir a operação, já está nos planos. O Armazém da Rafa, um negócio paralelo focado em vender produtos próximos ao vencimento, já representa um novo braço de crescimento.
“Nosso foco não é só faturamento. Queremos uma empresa inovadora e eficiente, sem perder a cultura que nos trouxe até aqui”, diz Luciana.
O mercado já entendeu. A Disdal, agora comandada por três mulheres, deixou de ser uma promessa. Virou um case de sucessão bem-sucedida no setor de distribuição.