Hermes dos Santos Filho, CEO e fundador da Modefer: “O dólar mais baixo atrapalha nossa expansão internacional e ainda aumenta a competitividade aqui dentro. É uma combinação difícil” (Modefer/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 16 de setembro de 2025 às 12h35.
Última atualização em 16 de setembro de 2025 às 14h05.
O dólar atingiu o patamar mais baixo do último ano na segunda-feira, 15. Para setores como o farmacêutico, que importa grande parte da matéria-prima, é motivo de comemoração. Mas, para outras indústrias, acendeu um alerta: o da concorrência internacional se aproximando, mais forte e mais barata.
Foi o que aconteceu com a Modefer, fabricante de embreagens e hélices para veículos comerciais, sediada em Barueri, no interior de São Paulo. Com quase quatro décadas de operação, a empresa é referência no fornecimento de peças para caminhões, ônibus e veículos a diesel.
Mas agora precisa lidar com um efeito colateral do câmbio: os concorrentes estrangeiros estão voltando a competir com força no mercado interno. Principalmente os chineses.
“Quando o dólar cai, eles conseguem trazer produtos de fora a preços mais acessíveis e competitivos, o que pressiona o mercado nacional”, afirma Hermes dos Santos Filho, CEO e fundador da Modefer.
O problema é duplo: enquanto a importação dos concorrentes ganha tração, as exportações da empresa perdem atratividade, dificultando os planos de expansão para o restante da América Latina.
A Modefer tem produção 99% nacional. Os únicos insumos importados são chips e bimetal — material usado nas embreagens viscosas, que reage ao calor e movimenta os componentes internos da peça.
Por isso, o efeito da queda do dólar sobre os custos é limitado. Já sobre as vendas, o impacto é imediato.
“Trabalhamos com estoque e compras a cada dois meses, então a queda do dólar demora mais para surtir efeito nas importações", diz. "Mas nas vendas, que acontecem todos os dias, a queda do dólar já está nos afetando”.
Com os concorrentes chineses podendo oferecer preços mais baixos, a competição se intensifica rapidamente. A diferença cambial acaba funcionando como um subsídio indireto aos importados. E a Modefer, mesmo com a vantagem de fabricar localmente, precisa ajustar o jogo.
“Para nós, o dólar mais alto é favorável, pois fortalece nossas exportações para o Mercosul e valoriza ainda mais a produção nacional”, afirma.
Fundada em 1987, a Modefer cresceu com foco no mercado de reposição.
Tem hoje mais de 800 parceiros comerciais no Brasil e América do Sul, além de 120 funcionários diretos em sua fábrica de 8.000 metros quadrados.
A empresa fornece peças compatíveis com a maior parte da frota circulante de veículos comerciais no Brasil e países vizinhos como Argentina, Paraguai e Uruguai.
A estratégia de diferenciação passa pela capacitação da cadeia. A empresa criou o programa Modefer Academy, que oferece treinamentos técnicos para distribuidores, mecânicos e aplicadores.
É essa a aposta para tentar driblar a concorrência chinesa.
“Somos reconhecidos pela qualidade das peças que produzimos, mas também pelo suporte técnico. Esse trabalho na ponta nos dá margem para competir até que o dólar se estabilize”, diz.
A empresa estava em plena fase de expansão para outros países da América Latina. Mas com o câmbio desfavorável, o projeto perdeu fôlego.
A queda do dólar torna os produtos brasileiros menos atrativos para compradores estrangeiros, enquanto os concorrentes asiáticos ganham força dentro do Brasil.
“O dólar mais baixo atrapalha nossa expansão internacional e ainda aumenta a competitividade aqui dentro. É uma combinação difícil”, afirma Hermes.
O risco agora é ver o mercado interno, que sempre foi o principal foco da Modefer, sendo invadido por peças importadas mais baratas — mesmo que, segundo a empresa, de qualidade inferior.