Rafael Perioli, fundador e CMO da WeFit: “Cada corpo reage de um jeito. O que funciona para um, pode ser desastroso para outro. Nosso papel é decifrar esse quebra-cabeça com ciência, e não com achismo.” (Wefit/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 12 de maio de 2025 às 10h42.
Nos últimos anos, o tratamento da obesidade deixou de depender só de academia e dieta.
A chegada de medicamentos como Ozempic e Mounjaro, usados para controle de diabetes e amplamente adotados para emagrecimento, transformou o setor em um dos mais aquecidos da saúde global — só a Novo Nordisk e a Eli Lilly, responsáveis pelos dois remédios, somaram mais de 70 bilhões de dólares em faturamento.
Mas o que acontece depois da perda rápida de peso? Como manter os resultados e, principalmente, a saúde no longo prazo?
É nesse espaço que a healthtech brasileira WeFit quer se posicionar.
Fundada há apenas quatro meses, a startup já ultrapassou os 20.000 usuários e projeta um faturamento de 32 milhões de reais até o fim de 2025.
A ideia é oferecer um serviço que combina nutrição, genética, comportamento, tecnologia e microbioma intestinal. O “GPS do emagrecimento”, como a empresa batizou seu aplicativo, é uma resposta a dietas genéricas — e também um complemento a quem opta por medicamentos.
A ideia do negócio surgiu da experiência pessoal do engenheiro Rafael Perioli, fundador e CMO da WeFit, que chegou aos 95 quilos e viu na própria dificuldade de emagrecer um sinal de mercado.
“Sempre fui ativo, mas de repente me vi fora do peso e com problemas de saúde. Não queria mais um plano milagroso. Queria entender meu corpo”, diz ele.
A trajetória de Perioli tem pouco a ver com clichês de “empreendedor nato”.
Engenheiro de produção mecânica, ele seguiu a cartilha tradicional da carreira corporativa: boas notas, boa faculdade e emprego em multinacional. Trabalhou na maior empresa química do mundo, morou nos Estados Unidos e na Alemanha, e aos poucos percebeu que o sucesso profissional não resolvia o incômodo pessoal. “Me vi com sobrepeso, pressão subindo, e comecei a questionar: era esse o futuro que eu queria?”.
A virada começou com um desconforto físico, mas logo virou um plano de vida — e de negócio.
Ao voltar para o Brasil, ele fez uma pós-graduação em gestão empresarial, migrou para o setor de saúde e passou os últimos 15 anos empreendendo nas áreas de nutrição, bem-estar e emagrecimento. “Sempre atuei na área comercial, mesmo sendo engenheiro. E entendi rápido que relacionamento gera confiança, e confiança gera negócios”, afirma.
A ideia da WeFit surgiu em uma conversa com o amigo Renato Vasconcelos, e foi alimentada por números que impressionam: 68% dos brasileiros estão acima do peso, e 31% já convivem com obesidade.
“Estamos falando de dois terços da população. É um problema de saúde pública — e de oportunidade de negócio”, diz Perioli.
A WeFit nasceu para atender justamente esse público com uma proposta mais completa. “As pessoas estão cansadas de promessas. O que elas querem é resultado com saúde. E para isso, não dá para ignorar a genética, o comportamento ou o intestino”, afirma.
Segundo ele, o grande diferencial do método está na individualização.
“Cada corpo reage de um jeito. O que funciona para um, pode ser desastroso para outro. Nosso papel é decifrar esse quebra-cabeça com ciência, e não com achismo.”
Em apenas três meses desde o lançamento do aplicativo, a empresa alcançou 20 mil usuários ativos e 12 milhões de reais em faturamento. O objetivo agora é escalar o protocolo completo — batizado de “Diamante” — que inclui acompanhamento nutricional, teste genético, análise de microbioma e mentorias comportamentais.
O mercado em que a WeFit está entrando não é pequeno — nem fácil. Em 2023, o setor de emagrecimento movimentou mais de 100 bilhões de reais no Brasil. A concorrência inclui desde clínicas tradicionais, com nutrólogos e nutricionistas, até programas online vendidos por influencers. E claro, os medicamentos injetáveis como Ozempic e Mounjaro, que se tornaram estrelas globais.
Perioli, no entanto, evita antagonismos. “A gente não compete com o Ozempic. A gente complementa", diz. "Muitos dos nossos clientes são usuários de medicamento e vêm até nós porque percebem que só o remédio não resolve. Eles perdem peso, mas querem entender como manter sem sacrificar massa magra ou saúde mental.”
Ele reforça que o problema não está na medicação em si, mas na ausência de um plano completo.
“Até 50% da massa magra pode ser perdida com o uso prolongado de medicamentos. Isso não é saudável. O que propomos é um suporte para que a pessoa consiga reprogramar hábitos e entender o próprio corpo.”
Hoje, a empresa oferece diferentes protocolos. O app, com funcionalidades como foto do prato com análise nutricional automática, custa a partir de 59,90 reais por mês. O plano mais completo chega a 359 reais e inclui todos os exames e mentorias.
Além disso, a estratégia de marketing tem apostado em influenciadoras como Danielle Winits, Andressa Miranda e Carla Baak, que ajudam a ampliar o alcance da marca.
Se os números animam, o crescimento rápido também impõe desafios.
O maior deles, segundo Perioli, é manter o atendimento individualizado em escala.
“Temos uma equipe de onboarding que liga para cada cliente, entende o perfil, acompanha. Isso dá trabalho. Mas é o que nos diferencia”, afirma.
Outras dificuldades são típicas de startups em expansão: reforçar a área de tecnologia, recrutar profissionais qualificados e manter o time alinhado à missão da empresa. “A gente acorda todo dia com um objetivo: impactar a vida das pessoas com saúde de verdade. Não queremos ser só mais um app no celular”, diz.
Para o futuro, a meta é clara: alcançar 30 mil usuários e faturar 32 milhões de reais até dezembro de 2025. Mas o plano, segundo o fundador, vai além dos números. “A gente quer mudar a lógica do emagrecimento no Brasil. E isso só acontece quando a pessoa se sente parte do processo. A tecnologia ajuda, mas o que transforma é o cuidado.”
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