Marcos Heusi, do Grupo Nelson Heusi: mais aquisições estão no radar da empresa de Itajaí
Repórter de Negócios
Publicado em 17 de abril de 2025 às 10h10.
Tudo começou com um documento assinado por Getúlio Vargas. Em 1933, o bisavô de Marcos Heusi foi nomeado despachante aduaneiro em Itajaí, em Santa Catarina.
Noventa anos depois, o bisneto comanda um conglomerado logístico que faturou 426 milhões de reais em 2024 e agora mira o comando do mercado no Mercosul.
A movimentação mais recente envolve a Titan Cargo, transportadora especializada em cargas sensíveis e rotas internacionais por terra. Com sede em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, a empresa se torna parceira estratégica do Grupo Nelson Heusi (GNH) para formar o maior conglomerado logístico da América do Sul.
"Nos faltava a atividade de transporte rodoviário no Mercosul. Agora, com a Titan, fechamos esse ciclo e devemos multiplicar por sete o faturamento da empresa só com a nossa carteira", afirma Marcos Heusi, CEO do GNH.
A ideia é ir além da parceria. A Titan deve ser incorporada ao grupo nos próximos 18 meses. Até lá, os ganhos de sinergia — e escala — já estão contratados. O GNH prevê um novo salto de 40% no faturamento em 2025 e a abertura de operações próprias nos Estados Unidos, Alemanha e Argentina.
O GNH começou sua trajetória no setor logístico liberando cargas nos portos de Santa Catarina, quando nem contêiner existia. A estrutura atual tem pouco a ver com aquela origem. São mais de 1.300 funcionários espalhados por todos os estados, com presença nos principais portos, aeroportos e fronteiras do país.
A transformação começou em 2002, quando Marcos Heusi entrou na empresa da família.
“Na época, eram só 12 funcionários em Itajaí. Começamos abrindo escritórios em outros portos e ampliamos o portfólio: transporte rodoviário, agenciamento de carga, armazenagem e até uma operação financeira para antecipar recebíveis”, afirma.
Hoje, o grupo responde por 6% de todo o mercado brasileiro de liberação aduaneira, sendo o maior player nacional no segmento.
A atuação cobre toda a cadeia: da liberação da carga até o transporte terrestre ou marítimo, passando pelo financiamento da nacionalização de mercadorias para os clientes.
Desde 2018, o GNH já fez cinco aquisições — todas no setor de liberação aduaneira. A lógica é clara: escalar a operação, diluir custos fixos e consolidar um mercado ainda muito fragmentado.
Agora, o grupo volta a olhar para fora.
Neste ano, abrirá escritórios próprios nos Estados Unidos e na Alemanha. Em 2026, retoma uma antiga aposta na Argentina.
“Compramos uma empresa lá há alguns anos, mas era um momento ruim do país. Agora vamos voltar com uma operação do zero”, afirma Heusi.
No Brasil, mais duas aquisições estão no radar — sempre com foco em comissárias de despacho, consideradas a “porta de entrada” para novos contratos.
“É onde temos maior fidelidade e previsibilidade de receita. Depois que o cliente entra pela liberação aduaneira, a gente vende os outros serviços”, diz.
A Titan Cargo entra para cobrir uma lacuna crítica: o transporte rodoviário internacional, especialmente dentro do Mercosul. Essa operação exige licenças específicas em cada país — algo que o GNH ainda não tinha.
“É uma operação muito regulada. Preferimos pular etapas e formar uma aliança com quem já tem estrutura e licença para rodar”, afirma Heusi. “Só com nossa carteira de clientes, a previsão é que a Titan multiplique por sete seu faturamento.”
A parceria, segundo o CEO, é apenas o início.
O plano é transformar a aliança em uma aquisição parcial até o final do ano que vem.
A movimentação permite ao grupo ampliar sua presença física na região e agregar novos serviços à base atual de 900 clientes ativos, que vai de multinacionais do setor automotivo e alimentício até pequenas exportadoras.
O GNH adota uma estratégia bem definida: consolidar o mercado aduaneiro, ganhar escala com aquisições e ampliar serviços de forma progressiva.
Desde 2020, incorporou empresas no Rio de Janeiro e no Sul para segmentar clientes — grandes corporações ficam com a marca GNH; pequenas e médias, com a subsidiária Time Log.
Além disso, a empresa está investindo em tecnologia e ampliação de hubs logísticos com foco em sustentabilidade, incluindo metas para ter 33% da receita oriunda de frota elétrica ou compensação de carbono até 2033.
Mesmo com escala e tecnologia, o maior desafio do GNH é um velho conhecido do setor de serviços: pessoas.
“Nosso maior gargalo hoje é gente boa. Crescemos de 12 para 1.400 funcionários em 20 anos, e vamos contratar mais 350 a 400 só este ano”, afirma o CEO.
O problema é agravado pelo fato de a empresa estar sediada no Sul, região com pleno emprego e mão de obra mais escassa.
A solução tem sido formar equipes internas, com programas de estágio e planos de carreira.
“A gente precisa de pessoas que queiram crescer com a empresa. Muitos dos nossos diretores começaram como estagiários”, completa Heusi.
O diferencial do GNH, segundo o CEO, está na capacidade de fechar o ciclo logístico. A empresa escolhe o navio, faz o transporte, cuida da liberação aduaneira, entrega na fábrica e, se o cliente quiser, faz o caminho inverso para exportação.
“Agora também fazemos a entrega rodoviária internacional. É como se a gente tivesse fechado o último elo da corrente”, diz.
Com essa nova estrutura, o grupo quer se posicionar como referência em logística integrada no hemisfério sul, conectando indústrias do Brasil ao mundo com velocidade, rastreabilidade e controle em todas as etapas.