Igor Mazaki, CEO da Plug and Play no Brasil: economista enxerga energia, fintechs e agronegócio como áreas em potencial
Repórter
Publicado em 23 de outubro de 2025 às 11h27.
Em duas semanas, o economista Igor Mazaki vai ao Vale do Silício com uma proposta: convencer a matriz global da Plug and Play, uma das maiores plataformas de inovação do mundo, a investir até US$ 50 milhões em startups da América Latina — sendo 70% do valor reservado para o Brasil, aproximadamente R$ 188,3 milhões na cotação atual.
O fundo que, se tudo der certo, começa a rodar no segundo semestre de 2026, é parte de um plano mais amplo para consolidar a presença da empresa no país, hoje comandada por Mazaki.
Com sede em Sunnyvale, na Califórnia, a Plug and Play atua como uma ponte entre startups e grandes corporações, ajudando companhias a desenvolver programas de inovação aberta e, em alguns casos, também investindo em participações minoritárias.
A Plug and Play foi fundada por Saeed Amidi, que iniciou a trajetória no Vale do Silício quase que por acidente. Nos anos 1980, a família do empresário iraniano-americano comprou um prédio modesto no centro de Palo Alto — um endereço que viria a ser conhecido como o “Lucky Building” (prédio da sorte). Resumidamente, muitas das salas eram alugadas em troca de ações, e os inquilinos eram pequenas startups da época, como Google e PayPal.
No Brasil, a atuação da empresa começou de forma acanhada em 2016. No meio do caminho, investiu em unicórnios latinos como Rappi e CloudWalk.
Foi só em 2025, com a chegada de Mazaki ao comando da operação local, que a Plug and Play passou por um turnaround completo: segundo o CEO, a receita cresceu mais de 40%, a equipe aumentou 50% e o lucro passou de negativo a dois dígitos.
Mazaki renegociou contratos com antigos parceiros, definiu KPIs claros para os novos, reduziu custos operacionais e passou a atuar pessoalmente na articulação com clientes e fundos. “Aumentei a torneira e fechei o ralo”, resume.
Antes de liderar a empresa no Brasil, Mazaki foi CFO da Alliance Ventures—fundo criado pela aliança Renault-Nissan-Mitsubishi—e diretor global de inovação da Jaguar Land Rover, onde estruturou um fundo corporativo, uma incubadora de startups e um ecossistema de hubs internacionais.
"Nos últimos anos, toda minha atuação foi voltada a entregar resultado e conexão real com as áreas de negócio. Inovação sem retorno é narrativa vazia", afirma o executivo.
A visão pragmática de Mazaki é parte central da tese que ele vai defender pessoalmente ao CEO global da Plug and Play.
"Investir no Brasil é estratégico: é um mercado continental, com boas startups e empresas dispostas a inovar, mas que precisam de mais apoio estruturado para escalar", diz.
A tese, que Mazaki já apresentou em parte por escrito, é baseada na tropicalização do modelo global da empresa.
Enquanto o Vale do Silício opera com ciclos de fundraising rápidos e cheques maiores, o Brasil exige outro ritmo: mais fôlego para implementação e métricas adaptadas ao ecossistema local.
O executivo também propõe um fundo com pegada de corporate venture capital, ou CVC, que invista em startups, mas ofereça suporte estratégico de grandes empresas já conectadas à Plug and Play.
"Se a gente vira só prestador de serviço, é muito fácil perder relevância. O que a gente quer é mostrar resultado para os parceiros, para as startups e para os investidores", diz.
Três verticais estão no foco da operação brasileira: agro, energia e fintechs.
Para Mazaki, o fundo é apenas o primeiro passo de um sonho maior. O maior objetivo do executivo é transformar o Brasil em um hub global especialmente para o agronegócio.
A ideia é criar, sob a estrutura da Plug and Play, um ecossistema robusto de inovação em agro — nos moldes do que a empresa já fez em mobilidade em Stuttgart, na Alemanha.
O plano envolve reunir grandes players do setor — empresas, startups, centros de pesquisa e fundos de investimento — para acelerar a criação de produtos e ferramentas ligados à produtividade, sustentabilidade e digitalização do campo. Isso inclui desde eficiência energética até uso de inteligência artificial aplicada à cadeia agroindustrial.
“Não faz sentido a tecnologia de agro ser desenvolvida fora se o Brasil é o maior produtor. A gente precisa virar referência também em agritech”, afirma Mazaki.