Negócios

Eles transformaram um TCC num negócio de R$ 500 milhões com pão de queijo

Fundada a partir de um TCC, empresa fatura R$ 100 milhões com pão de queijo e acaba de abrir nova planta industrial de R$ 35 milhões

Frederico Cymbalista, fundador da Cymco, e Léo Piclli, vice-presidente: “A gente operava sem espaço, sem doca, sem fôlego. Agora temos estrutura para crescer com velocidade” (Cymco /Divulgação)

Frederico Cymbalista, fundador da Cymco, e Léo Piclli, vice-presidente: “A gente operava sem espaço, sem doca, sem fôlego. Agora temos estrutura para crescer com velocidade” (Cymco /Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 29 de maio de 2025 às 13h57.

Todo mundo tem uma história com pão de queijo.

Pode ser no café da manhã da padaria, no posto da estrada, no intervalo da reunião. Mas poucos pensam de onde ele vem — ou como ele chega sempre quentinho.

No caso da Cymco Alimentos, esse caminho começa em um galpão no Paraná e termina em mais de 3.500 pontos de venda no Sul e Sudeste. São 20 toneladas produzidas e entregues todos os dias. Uma operação industrial de precisão, para um produto que parece simples, mas exige agilidade, logística própria e zero margem de erro.

A Cymco nasceu em Curitiba em 2013, vendendo pão de queijo para panificadoras da região. Hoje, é a maior marca de pão de queijo congelado do Sul do Brasil e acaba de inaugurar uma nova fábrica em Araucária, no Paraná, quintuplicando sua área e quase triplicando sua capacidade produtiva. Com isso, mira alcançar 10.000 pontos de venda até 2026 e 500 milhões de reais de faturamento até 2030.

Qual é a história da Cymco

A empresa chega nesse ponto com uma história que começou com um TCC. Literalmente.

“A ideia surgiu em 2012, quando percebemos que o pão de queijo era um produto de venda recorrente em diferentes segmentos”, diz Frederico Cymbalista, fundador da Cymco. O plano de negócios foi estruturado por sua esposa em um trabalho de conclusão de curso. Um consultor de Minas Gerais ajudou a desenhar as receitas e indicar os primeiros equipamentos. “Começamos com uma receita premium e outra mais acessível, e fomos crescendo com os pés no chão”, afirma.

Hoje, a meta é transformar esse crescimento em escala industrial.

“Quando comecei, meu sonho era produzir 10 toneladas por mês. Agora entregamos entre 15 e 20 toneladas por dia”, afirma Frederico.

A nova fábrica, que recebeu 35 milhões de reais em investimentos, permite aumentar a produção para até 950 toneladas por mês — contra as 380 toneladas da planta antiga, que funcionava no limite, 24 horas por dia.

“A gente operava sem espaço, sem doca, sem fôlego. Agora temos estrutura para crescer com velocidade”, diz Cymbalista.

Com a nova planta, a Cymco planeja ampliar o portfólio de produtos e expandir sua presença no varejo alimentar tradicional.

Atualmente, 98% das vendas ainda são voltadas para food service — padarias, lojas de conveniência e mercados que assam os produtos e vendem prontos. A ambição é estar nas gôndolas congeladas dos supermercados com força. Até o fim de 2025, a meta é chegar a 600 pontos de venda do varejo tradicional, com apoio de parcerias com atacadistas e redes regionais.

Qual é a estratégia por trás do negócio

A Cymco surgiu com uma lógica simples: escolher um produto com consumo recorrente e começar pequeno. A inspiração veio do ambiente familiar — várias panificadoras que compravam pão de queijo congelado de fornecedores mineiros. “A gente queria um produto que vários segmentos comprassem toda semana. E o pão de queijo era isso”, afirma Frederico.

O plano de negócios saiu do papel como TCC da esposa de Frederico. A produção começou em um pequeno espaço em Curitiba, com três pessoas: ele, a esposa e um funcionário. “Eu produzia e fazia entrega. A gente começou sem cliente, sem logística, sem estrutura”, relembra. A primeira fábrica tinha 800 m² e operava no limite da capacidade por anos.

O foco inicial foi o food service, com vendas para panificadoras, mercados e lojas de conveniência que assavam o produto na ponta. “O pessoal ainda associa muito pão de queijo a gôndola congelada, mas nossa história sempre foi na transformação. A gente entrega congelado, e o cliente assa e vende quente”, diz Frederico.

A operação foi crescendo com base em representação comercial, sem equipe CLT de vendas. O sistema se mostrou eficiente: com representantes próximos dos clientes, a empresa começou a construir um modelo de recorrência e serviço. “Hoje a gente atende 3.500 clientes por mês. E a maioria exige entrega semanal. É um produto que não pode faltar”, afirma.

Expansão com nova fábrica

A antiga planta de Curitiba operava 24 horas por dia para produzir 380 toneladas por mês. A nova fábrica em Araucária, na região metropolitana de Curitiba, tem 2.800 metros quadrados e traz outra escala: até 950 toneladas por mês com apenas dois turnos. “Se precisarmos voltar aos três turnos, a gente ultrapassa fácil esse número”, afirma Frederico.

A nova unidade recebeu equipamentos de multinacionais líderes em congelamento e empacotamento. “O coração de uma fábrica de alimentos congelados é a velocidade do congelamento. E agora temos um girofreezer industrial que garante esse processo com precisão”, afirma.

O projeto da nova planta foi desenhado com base nos princípios da Indústria 4.0. As linhas de produção foram desenhadas para permitir automação progressiva, e o layout modular viabiliza a introdução de novas linhas de produtos. “Queremos lançar novas categorias a partir do segundo semestre. Já estamos desenvolvendo esses produtos”, diz Léo Picelli, vice-presidente da Cymco.

A mudança também abriu espaço físico para dobrar o portfólio, o que antes era inviável. “A fábrica antiga travava nosso crescimento. A gente já estava estagnado. Agora temos espaço para pensar maior”, afirma Frederico.

A expansão da Cymco não passa apenas pela produção, mas também pela distribuição. Desde o início, a empresa apostou em logística própria. Hoje, opera com 23 caminhões que saem diariamente com cerca de 30 entregas cada. “Distribuição terceirizada encarece muito e distancia do cliente. Nosso diferencial é estar perto”, afirma o fundador.

A proximidade com o cliente virou pilar estratégico. Representantes acompanham semanalmente os estoques, o preparo e até o modo de exposição do produto. “Nosso representante é quase um vendedor técnico. Ele ajuda o cliente a melhorar a venda na ponta”, diz Léo.

A empresa também investe em infraestrutura para os PDVs, fornecendo freezer e formas. “Não adianta ter produto bom se ele é mal assado. A gente ajuda a padronizar o preparo”, explica Frederico. Essa abordagem, segundo ele, é o que diferencia a Cymco dos concorrentes. “No fim do dia, pão de queijo é uma commodity. O que nos destaca é o serviço.”

A marca já iniciou um projeto piloto com revendedores locais, focando em venda direta ao consumidor. Eles atuam com pequenos estoques e atendem regiões onde a frota própria não chega. “Temos revendedores em condomínios, feiras, até clínicas de estética. É um canal que traz visibilidade e receita”, diz Frederico.

E os desafios no meio do caminho?

O principal desafio em 2025 será estabilizar a operação da nova planta. A empresa ainda está ajustando processos, calibrando equipamentos e adaptando a equipe.

“Nosso foco agora é garantir consistência. Vamos crescer com base em eficiência, não volume descontrolado”, diz Léo Picelli.

A fábrica foi projetada com foco em produtos sem glúten, o que impõe uma limitação inicial à diversificação. “Queremos manter a segurança alimentar e evitar contaminação cruzada. Por isso, os novos produtos precisam seguir essa linha no curto prazo”, afirma Frederico.

O objetivo imediato é atingir os 100 milhões de reais em faturamento neste ano, consolidando a base para saltos maiores. “Essa fábrica é o nosso ponto de virada. A gente travou por anos por falta de estrutura. Agora temos como escalar”, afirma.

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