O setor nuclear brasileiro registrou uma movimentação relevante nesta quarta-feira, 15, com a venda da participação da Eletrobras na Eletronuclear para o J&F Investimentos, em uma operação de R$ 535 milhões. O negócio foi concluído por meio da Âmbar Energia, braço de energia do grupo controlado pela família Batista.
A Eletronuclear, empresa estatal de economia mista controlada pela União, é responsável pelo Complexo Nuclear de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, e opera as usinas Angra 1 (com capacidade instalada de 640 MW) e Angra 2 (1.350 MW), além de conduzir o projeto de Angra 3 (1.405 MW).
A operação representa um novo capítulo na história de uma das empresas mais estratégicas da matriz elétrica brasileira, que completou 28 anos em 2025.
A história da Eletronuclear
A Eletronuclear foi criada em 1997 a partir da fusão da área nuclear de Furnas Centrais Elétricas com a Nuclen (Nuclebrás Engenharia S.A.).
Durante décadas, a empresa foi subsidiária da Eletrobras. Com a privatização da estatal, em 2022, o controle passou para a Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar).
A companhia é responsável por cerca de 3% da geração de energia do país e 40% do consumo do estado do Rio. Juntas, as usinas de Angra 1 e 2 produzem em torno de 15 milhões de megawatts-hora anuais, energia suficiente para abastecer 6 milhões de pessoas.
Angra 1 e a aposta no nuclear
A história da energia nuclear no Brasil começou oficialmente em 1985, com o início da operação comercial de Angra 1, a primeira usina nuclear do país.
O projeto foi adquirido da americana Westinghouse Electric Corporation como um pacote fechado, sem transferência de tecnologia. A responsabilidade pela usina passou à Eletronuclear após a criação da empresa, em 1997.
Nos primeiros anos, a usina enfrentou falhas técnicas que comprometeram o funcionamento, mas os problemas foram solucionados na década de 1990.
Desde então, Angra 1, com capacidade de 640 megawatts, opera com índices de eficiência comparáveis aos de centrais internacionais e abastece o equivalente a uma cidade de 2 milhões de habitantes.
Em 2019, a empresa iniciou o processo para estender a licença de operação da usina até 2044. A estratégia inclui modernização dos equipamentos e avaliações de segurança seguindo recomendações da Agência Internacional de Energia Atômica.
Angra 2: transferência de tecnologia
A segunda usina nuclear, Angra 2, começou a operar comercialmente em 2001. Com potência de 1.350 megawatts, foi construída com tecnologia da Siemens/KWU (hoje Areva NP), em um acordo nuclear entre Brasil e Alemanha firmado em 1975.
O projeto foi paralisado por anos devido à crise econômica dos anos 1980, mas retomado em 1994 e concluído no fim da década.
A construção da usina também impulsionou a transferência de tecnologia para o Brasil, fortalecendo a indústria nuclear nacional e a formação de mão de obra especializada.
Angra 3: obra retomada
O terceiro projeto, Angra 3, é o próximo passo na expansão da matriz nuclear brasileira. Com potência de 1.405 megawatts, deve entrar em operação até 2031.
Segundo estimativas da empresa, quando a obra for concluída, a central nuclear, composta pelas três unidades, terá capacidade instalada total de cerca de 3.400 megawatts, energia suficiente para atender mais de 10 milhões de pessoas.
As obras de Angra 3 foram retomadas em 2022, após sete anos de paralisação. De acordo com dados da empresa, 65% da construção já foi realizada e ainda serão necessários cerca de R$ 20 bilhões para a conclusão.