Passeio Sapiens, em Florianópolis: casa cheia para ouvir as histórias de lideranças empresariais de Santa Catarina
Repórter de Negócios
Publicado em 9 de maio de 2025 às 10h31.
Última atualização em 9 de maio de 2025 às 16h24.
Santa Catarina tem virado pauta recorrente da EXAME — só nos últimos 12 meses, foram mais de 600 reportagens sobre o estado. E isso não é coincidência. A cena empreendedora catarinense não apenas cresce: ela se reinventa, diversifica e exporta inovação.
Seja no oeste, seja no litoral, seja no Vale do Itajaí, o ambiente de negócios pulsa.
Nesta quinta-feira, 8, a EXAME reuniu nomes de peso da política, da tecnologia e do mercado para celebrar esse movimento no Road Show NEEx, uma caravana de eventos para dar visibilidade às lideranças empreendedoras das principais cidades do Brasil.
O Road Show NEEx é uma continuação do projeto Negócios em Expansão, o maior ranking de empreendedorismo do Brasil, realizado pela EXAME em parceria com o BTG Pactual.
A capital catarinense recebeu a segunda edição do Road Show, que começou em novembro do ano passado com um evento em Vitória, no Espírito Santo.
A edição Florianópolis do Road Show NEEx foi realizada no Passeio Sapiens, espaço de inovação e tecnologia no Norte da Ilha.
Mais de 220 convidados estiveram presentes no evento, que teve 4 horas de conteúdos e foi encerrado com um happy hour para networking.
O Road Show NEEx Floripa teve o patrocínio do BTG Pactual Empresas, além do apoio da Acate, a associação catarinense de empresas de tecnologia, CDL, a Câmara de Dirigentes Lojistas de Florianópolis, LIDE SC e RS e da PSA Palestras.
Entre os convidados, participaram:
Fundada em 1961, em Jaraguá do Sul, a WEG é um dos maiores símbolos da força industrial brasileira. Mas o que mais impressiona não é o tamanho — são os fundamentos.
Em 2001, a empresa faturava R$ 1 bilhão. Em 2024, chegou a R$ 38 bilhões, com 64 fábricas espalhadas por 42 países. “Essa história foi construída com disciplina, consistência e um olhar global”, afirmou Alberto Kuba, CEO da companhia.
A estratégia de internacionalização da WEG foi paciente e certeira. Começou por mercados com menor barreira de idioma, como México e Portugal.
No México, a operação se tornou a maior fora do Brasil. Já na China, o caminho foi mais espinhoso: “Foram anos de prejuízo enfrentando mais de 3 mil concorrentes, mas hoje temos seis fábricas por lá”, diz Kuba.
A empresa aposta num *supply chain* regionalizado e em processos verticalizados: 80% a 90% dos insumos são produzidos localmente. Isso dá flexibilidade para enfrentar choques como pandemias ou crises logísticas. Mais que um diferencial, virou regra interna.
O mesmo rigor se aplica ao investimento em pessoas. “Temos uma escola técnica que forma 800 alunos por ano, além de mais de 500 estagiários — muitos dos nossos diretores começaram por esses programas, inclusive nas operações internacionais”, afirma.
No portfólio, a WEG já se consolidou como referência em quatro vetores estratégicos: eficiência energética, digitalização da indústria, energias renováveis (solar, eólica, hidrogênio verde) e mobilidade elétrica. “Reciclamos motores desde 2001. A sustentabilidade não é modismo para nós — é cultura de base”, afirma Kuba.
O prefeito de Florianópolis Topázio Neto abriu seu painel lembrando que o sucesso da capital catarinense, designada oficialmente como a capital brasileira das startups, não veio por acaso. “Foram 30 anos de construção entre empreendedores, universidades e poder público”, disse.
A cidade está atualizando seu plano diretor para refletir uma nova realidade: menos turismo, mais inovação. “A Florianópolis de 2014 não vivia o home office nem a digitalização”, disse o prefeito.
Hoje, a cidade tem conexão aérea direta com destinos internacionais como Portugal e Panamá.
“O aeroporto virou um ativo estratégico para negócios. E estamos criando uma cidade que vale cada vez mais — com inclusão, educação e tarifa zero para quem mais precisa”, afirmou.
“O pré-sal de Santa Catarina é seu povo”, resumiu Paulo Bornhausen. Segundo ele, a ausência de nobreza ou centralização forçou o estado a se organizar em torno de vocações regionais — e isso gerou uma cultura empreendedora orgânica, viva e resiliente.
Bornhausen defende que o papel do estado deve ser o de facilitador. “Não podemos atrapalhar. Precisamos prover o que os desenvolvedores precisam.” Ele vê em SC um polo emergente para deeptech. “Talvez não criemos a IA do zero, mas temos de estar perto da cabeça da cadeia.”
Gabriel Motomura (BTG), Ionan Fernandes (Softplan) e José Mateus (Habitasul) trouxeram um ponto comum: o Brasil precisa ser mais eficiente. “Na década de 1970, nossa produtividade era metade da americana. Hoje, é 20%”, disse Motomura.
Na Softplan, a inteligência artificial já resolve metade dos 18 mil chamados mensais. “Não podemos mexer em custos com demissões. Capacitar para novos cargos é o caminho”, diz Ionan.
Já Mateus destacou o impacto da pandemia em Jurerê Internacional: “Hoje temos pessoas de 34 países. A cidade virou um hub global.”
Isabela Blasi contou como a Indicium chegou a faturar até R$ 100 milhões com base em bootstrapping.
“Nosso modelo sempre foi formar talentos. Investimos em re-skilling e mantemos o humano no centro.”
Já Diego Brites lembrou que a Teltec quase faliu após a privatização das teles. “Recomeçamos com duas pessoas. Hoje estamos em São Paulo, com Cisco, Microsoft e grandes clientes.”
Arnaldo Glavam Jr. construiu a AG Capital para descomplicar a burocracia. “Digitalizamos o sistema tributário. Hoje somos 300 pessoas e atendemos clientes em todo o país.” Todos reforçaram o valor da visibilidade em veículos como a EXAME. “Faz diferença para atrair cliente, parceiro e talento.”
O painel com Cláudia Rosa, Dayane Titon, Camila Securato e a fundadora da Nanovetores trouxe histórias práticas sobre como liderar, crescer e impactar.
Dayane, da Baly, compartilhou o desafio de construir uma marca forte num mercado competitivo. E também um recado direto sobre equilíbrio:
“Você precisa ter fãs em casa. Precisa chegar depois de um dia de trabalho e ter pessoas que te admiram lá — e estar presente.”
Cláudia falou sobre a importância de investir em fundadoras. “Empresas lideradas por mulheres têm resultado — e constroem com consistência.”
O painel foi um lembrete de que o protagonismo feminino no empreendedorismo não é exceção: é crescente.
No encerramento, Gustavo Borges contou como sua mentalidade de alta performance migrou da natação para os negócios. “Você treina todos os dias, repete processos, ajusta o que não funciona. No fim, o que faz diferença é a consistência.”
Aos empreendedores, deixou um recado simples: “Não é sobre ganhar sempre. É sobre como você encara os dias difíceis. E se você faz o básico bem-feito, todo dia.”
O Road Show NEEx Florianópolis terminou como começou: celebrando o empreendedorismo com sinceridade, ambição e muita gente disposta a fazer diferente.
Se Santa Catarina já virou pauta da EXAME, é porque o Brasil tem muito a aprender com essa ousadia.