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Enciclopédia Barsa: o que aconteceu com o ‘Google de papel’ que marcou gerações

Antes da Wikipedia, a Barsa foi a maior fonte de pesquisa escolar do país; hoje, é lembrada pela nostalgia e mantém uma base digital

Enciclopédia Barsa: desde o ano 2000, plataforma faz parte do grupo espanhol Editora Planeta (Enciclopédia Barsa/Divulgação)

Enciclopédia Barsa: desde o ano 2000, plataforma faz parte do grupo espanhol Editora Planeta (Enciclopédia Barsa/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 21 de setembro de 2025 às 10h02.

Antes da internet, quem precisava fazer um trabalho de escola ou tirar dúvida de história, ciência ou geografia recorria a um conjunto pesado de livros que ficava na estante da sala.

Era a Enciclopédia Barsa, lançada em 1964, que se transformou no maior símbolo editorial de conhecimento do país.

Produzida por brasileiros, mas sob supervisão da Encyclopaedia Britannica, ela reuniu quase 200 colaboradores, entre eles nomes conhecidos no país, como Antônio Houaiss, Jorge Amado, Raquel de Queiroz e Oscar Niemeyer.

Em 1990, no auge, foram vendidas 120.000 coleções em um único ano, com 16 volumes.

Para o pesquisador Phellipe Esteves, da UERJ, as enciclopédias impressas no Brasil foram vistas como um “palácio do saber” e objeto de desejo da intelectualidade. A Barsa, lançada em 1964, se tornou o exemplo mais marcante dessa imagem.

Apesar de ter perdido muito espaço com a internet e com plataformas como Wikipedia, a Barsa existe até hoje, principalmente como uma plataforma de conteúdo online, mas também vendendo dicionários e livros didáticos.

Como nasceu a Enciclopédia Barsa

A ideia surgiu em 1959, com Dorita Barret, herdeira da família responsável pela Britannica, e seu marido, Alfredo de Almeida Sá.

O nome “Barsa” veio da junção dos dois sobrenomes: Barret e Sá.

A empresária decidiu que não faria apenas uma tradução da enciclopédia inglesa: queria algo adaptado à identidade brasileira.

O lançamento oficial ocorreu em março de 1964, poucos dias antes do golpe militar.

Cerca de 30% do conteúdo foi escrito do zero por autores nacionais. O restante vinha da Britannica. Antônio Callado, jornalista, foi o primeiro redator-chefe e assinou o prólogo da edição inicial.

Segundo José Horta Nunes, professor da Unicamp, além da edição tradicional, em 1965 houve uma versão especial ligada à Aliança para o Progresso, programa norte-americano de cooperação educacional em plena Guerra Fria.

Quando a Barsa virou símbolo de status

O impacto foi imediato.

A primeira tiragem de 45.000 exemplares esgotou em oito meses. Nas décadas seguintes, a coleção virou item de status e promessa de futuro acadêmico para os filhos.

O maior verbete da coleção era sobre o Brasil, com 126 páginas.

Outros destacavam Pelé, Pixinguinha, Ary Barroso e a bossa nova.

Em 1990, foram vendidas 120.000 coleções em um único ano. Ter uma Barsa completa na estante era quase tão importante quanto ter televisão nova na sala.

O declínio da enciclopédia impressa

A partir dos anos 1990, o mercado de enciclopédias impressas entrou em queda. Primeiro vieram os CD-ROMs, depois a internet e, por fim, a Wikipedia, lançada em 2001.

Em 2010, a Barsa vendeu apenas 8.000 coleções.

A tradicional figura do vendedor porta a porta, que batia de casa em casa oferecendo os livros, desapareceu.

“Com a consolidação da Wikipedia como um dos sites mais influentes da internet, as enciclopédias tradicionais sofreram grandes transformações. Algumas deixaram de ser impressas. Outras, como a Barsa, se voltaram para projetos voltados ao ensino”, escreveu o professor José Horta Nunes.

Da Barsa impressa ao BarsaSaber

Em 2000, a editora espanhola Planeta assumiu os direitos da Barsa e iniciou a digitalização do conteúdo.

O projeto mais ambicioso foi o BarsaSaber, plataforma de apoio escolar em formato de hipertexto, com imagens, buscas e links temáticos.

Em 2012, a enciclopédia ganhou versão online dedicada ao ensino, numa tentativa de competir com a Wikipedia e oferecer material certificado para escolas.

Atualmente, toda a comercialização é feita pelo Barsa Shop, site oficial da marca.

Ali, ainda é possível comprar a coleção impressa, além de dicionários e materiais de referência.

O maior foco, porém, está na assinatura digital. A Planeta oferece acesso à plataforma online por 320 reais, em modelo de renovação anual.

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