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Entre a tragédia e os recordes: o balanço anual da Vale

Companhia anuncia resultados após o fechamento dos mercados nesta quarta-feira. Produção em 2018 bateu 384 milhões de toneladas, 5% acima de 2017

Capacete da Vale em Brumadinho (MG): mineradora já recuperou, na bolsa, 40 bilhões dos 70 bilhões de reais perdidos após o rompimento da barragem (Washington Alves/File photo/Reuters)

Capacete da Vale em Brumadinho (MG): mineradora já recuperou, na bolsa, 40 bilhões dos 70 bilhões de reais perdidos após o rompimento da barragem (Washington Alves/File photo/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 27 de março de 2019 às 06h57.

Última atualização em 27 de março de 2019 às 07h07.

A mineradora Vale divulga nesta quarta-feira, 27, seus resultados financeiros para o quarto trimestre de 2018 após o fechamento dos mercados. Na quinta-feira pela manhã seus executivos participam de conferências com analistas para explicar os números. Devem ser eventos sui generis, com o foco das questões concentradas não no ano que passou, mas nos desdobramentos do rompimento da barragem de Brumadinho para o futuro da mineradora.

Os impactos financeiros do rompimento continuam impossíveis de calcular. Na segunda-feira, o Ministério Público de Minas Gerais pediu o bloqueio de 3 bilhões de reais da Vale e a suspensão da operação no complexo próximo à cidade de Barão de Cocais, cuja barragem passou a ser considerada com risco iminente de ruptura. Moradores da cidade realizaram um treinamento de evacuação na segunda-feira. As aulas em duas escolas foram transferidas. Moradores com dificuldade de locomoção estão sendo cadastrados pela mineradora.

No total, a Vale tem 13,65 bilhões de reais bloqueados pela Justiça desde o rompimento de Brumadinho, no dia 25 de janeiro. Os recursos visam assegurar o pagamento de indenizações, mas também arcar com os custos de evacuações e outras contingências. A mineradora já anunciou a doação de 100.000 reais à família de cada uma das vítimas — até o momento são 214 mortos e 91 desaparecidos — além de um total de 800 milhões de reais para até 100.000 pessoas que moram em áreas atingidas. A dúvida é de quanto será a indenização propriamente dita às vítimas.

O Ministério Público do Trabalho estipula um pagamento mínimo de 5 milhões de reais para cada família com vítima fatal. Calcula, ainda o pagamento de salários e encargos até a data em que os funcionários completariam 78 anos. A mineradora havia feito proposta de pagar 300.000 reais por dano moral para cônjuge e cada filho, além de 150.000 reais para pai e mãe, além de 80% do salário mensal até os 75 anos. Os procuradores continuam criticando duramente a postura da Vale, afirmando que a empresa tenta facilitar acordos de “baixo” valor.

Para os investidores, porém, o pior parece ter ficado para trás. Depois de ter perdido 70 bilhões de reais nos dias posteriores à tragédia, a Vale já recuperou 40 bilhões de reais em valor de mercado, com uma valorização de 20% em dois meses. Para os investidores, conta mais o bom momento operacional e de mercado da empresa do que os desdobramentos humanos e sociais do rompimento. Conforme mostrou a última edição de EXAME, no início de 2019 os executivos da Vale previam que fechariam o ano como a maior mineradora do planeta, graças, entre outros fatores ao aumento de produção e redução de custos pela entrada em operação de minas mais modernas, no Pará.

Desde o rompimento de Brumadinho, a Vale anunciou medidas de emergência que devem tirar até 92 milhões de toneladas de minério de ferro de circulação. A medida, porém, acaba ajudando a jogar para cima o preço da commodity, o que beneficia a empresa. Depois de bater um mínimo na casa dos 30 dólares, no início de 2016, o minério de ferro está em trajetória ascendente, cotado atualmente em 74 dólares.

Na segunda-feira, a Vale anunciou seus resultados de extração para o quarto trimestre, todos em linha com as previsões fornecidas anteriormente, e nos melhores patamares da história da empresa. Foram produzidos 101 milhões de toneladas de minério de ferro no trimestre e 384 milhões no ano, 5% acima de 2018. Além disso, 84% do produto considerado de altíssima qualidade, o que garante à empresa um prêmio pago pelos compradores. Para eles, a tragédia de Brumadinho continuará em segundo plano.

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