Bruno e Juliano Mendes, da Queijos Pomerode e Vermont: nicho premium representa pouco mais de 6% do mercado de queijos no Brasil, e o crescimento não é suficiente para comportar a ambição dos empreendedores (Raphael Günther/Exame)
Diretor de redação da Exame
Publicado em 17 de outubro de 2025 às 12h22.
Última atualização em 18 de outubro de 2025 às 11h54.
Simplicidade faz parte da visão de negócios dos irmãos Bruno e Juliano Mendes há mais de duas décadas.
Em 2002, eles fundaram a cervejaria Eisenbahn com uma proposta até então pouco comum no Brasil: seguir uma tradicional lei de pureza alemã para cervejas, de 1516. Ela estabelece que as cervejas tenham apenas três ingredientes: água, malte e lúpulo.
Foi uma revolução no mercado nacional, que apostava em marcas com milho e outros itens adicionados para dar leveza e baratear o custo de produção. A Eisenbahn ajudou a abrir terreno para o hoje incensado nicho das cervejas puro-malte, responsáveis por cerca de 25% do mercado nacional.
Os irmãos Mendes venderam sua cervejaria em 2008 para o que hoje é o grupo Heineken. Em 2013, apostaram num novo negócio, também pautado pela simplicidade: queijos especiais. Compraram a Queijos Pomerode, em Santa Catarina, e passaram a fabricar queijos com quatro ingredientes: leite, fermento, coagulante e sal.
Hoje a queijaria, dona também da marca Vermont, processa 5 mil litros de leite por dia, para fabricar 500 quilos de queijo a cada 24 horas. Eles são vendidos em supermercados e lojas especializadas por preços que podem passar de 300 reais o quilo.
É uma produção artesanal, feita por 40 funcionários numa linha de produção cercada pela Mata Atlântica. Alguns queijos passam até 12 meses descansando em temperatura e umidade controladas.
Na frente da fábrica, uma charmosa lojinha em estilo Enxaimel, com as vigas de madeira aparentes, oferece também geleias e mel da empresa, assim como produtos artesanais de parceiros, como linguiças e vinhos.
"Sempre tivemos obsessão por qualidade", diz Juliano Mendes. "A perfeição não existe. Mas existe a busca constante por ela. Contaminamos nosso ambiente positivamente com esse pensamento".
Em 12 anos, os Mendes conquistaram seu quinhão num mercado restrito, o de queijos especiais, sem apostar em itens mais massificados como muçarela ou prato. Conquistaram mais de 100 prêmios nacionais e internacionais, incluindo o de melhor queijo do mundo.
O problema é que o nicho premium representa pouco mais de 6% do mercado de queijos no Brasil, e o crescimento não é suficiente para comportar a ambição dos empreendedores. Por isso, há algumas semanas, discretamente, eles lançaram um novo produto com potencial de mais que duplicar o tamanho do negócio: iogurte. É um mercado estimado em mais de 20 bilhões de reais no Brasil.
"Os queijos são para momentos especiais. Se acontecer de os brasileiros comerem brie todo dia, como na França, vai demorar muito", diz Juliano. "O iogurte já é um produto que está na mesa do brasileiro todos os dias".
Em abril a Vermont lançou um iogurte natural que tem dois ingredientes: leite e fermento. Nada de espessantes, conservantes, aromatizantes e corantes que são comuns nos produtos campeões de venda no Brasil. Competirá num nicho novo e em crescimento no país, o de iogurtes especiais.
A venda começou pela rede St Marche, especializada em produtos premium. "Quando soube do lançamento, a própria rede nos procurou e pediu exclusividade de vendas", diz Juliano. "É uma extensão de marca que só é possível pela nossa aposta em qualidade ao longo dos anos".
Agora a empresa prepara um novo lançamento, um iogurte com colágeno, para atender consumidores cada vez mais preocupados com saúde e bem-estar. O lançamento será feito em parceira com a Genu-in, da gigante dos alimentos JBS.
"Estamos vendo uma movimentação muito forte de consumo de produtos com adição de proteína, inclusive pelo efeito do Ozempic, que limita o apetite", diz Juliano. Acreditamos que podemos oferecer um produto que atenda essa demanda".
Além de ampliar a receita, os iogurtes podem trazer também ganho de margem. Nos queijos, apenas 10% do leite é aproveitado. Nos iogurtes, a taxa sobe para mais de 90%.
De potinho em potinho, os fundadores da Eisenbahn investem para impulsionar uma nova revolução no mercado de consumo nacional.