Hot Park: parque de águas termais em Rio Quente recebe 2 milhões de visitantes por ano (Aviva/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 11 de outubro de 2025 às 12h24.
Última atualização em 11 de outubro de 2025 às 13h24.
Quando comprou uma fazenda na região de Caldas Novas, em Goiás, um pecuarista percebeu rápido que tinha cometido um erro. O rio que cruzava a propriedade era quente demais — os bois recusavam-se a beber a água.
Descartado como área de criação, o terreno foi repassado a um médico, que enxergou ali um ativo subaproveitado: águas termais cristalinas, com potencial turístico.
Esse foi o ponto de partida de um dos negócios de turismo mais bem estruturados do país, com receita de 1,4 bilhão de reais em 2024 e projeção de 1,7 bilhão para 2025.
No comando dessa operação está a Aviva, dona dos complexos Rio Quente Resorts, Costa do Sauípe e do parque aquático Hot Park — um dos 10 mais visitados do mundo.
Agora, a companhia aposta em um modelo inédito no país: casas de alto padrão fracionadas dentro do resort, no meio do Cerrado.
O objetivo é acelerar a expansão no turismo premium e transformar os próprios clientes em sócios recorrentes do ecossistema.
“Criamos o InCasa para atender um cliente que já estava dentro do nosso clube de fidelidade e buscava algo mais exclusivo. Ele tem acesso à estrutura do resort, mas com o conforto de uma casa e serviços personalizados”, afirma Alessandro Cunha, CEO da Aviva.
Com 750 clientes ativos e 20 casas já entregues, o InCasa é o primeiro passo de um plano maior.
Até 2028, a Aviva pretende investir 1,2 bilhão de reais na renovação dos hotéis, lançamento de novos clubes e construção do Hot Park Costa do Sauípe, na Bahia.
O InCasa Private Residence Club, lançado oficialmente no início deste semestre, marca a entrada da Aviva no mercado de alto padrão.
São 40 casas de luxo, projetadas para oferecer conforto de residência com serviço de resort. Os clientes não compram a casa inteira, mas sim o direito de usá-la por duas semanas ao ano — com estrutura de alto nível e exclusividade garantida.
“Nosso modelo é diferente da multipropriedade. O cliente adquire o direito de uso, com garantia contratual de semanas fixas, sem depender da disponibilidade de pontos”, diz Cunha.
A estrutura inclui concierge exclusivo, acesso direto ao Parque das Fontes e ao Hot Park, piscinas privativas, spa, restaurante, sala de ginástica e transporte interno com carrinhos de golfe. Cada unidade pode receber até 12 pessoas, e o atendimento é personalizado antes mesmo da chegada, com preferências previamente cadastradas.
O modelo é inspirado em clubes internacionais de tempo compartilhado, mas adaptado à realidade do público brasileiro.
Segundo a empresa, o cliente típico do InCasa é de renda alta, majoritariamente do Sudeste, mas também há forte presença de Brasília, Goiânia e Cuiabá.
O produto já movimentou 220 milhões de reais em investimentos e conta com fila de espera.
O que começou como um programa para manter ocupação fora da alta temporada se tornou o principal motor da Aviva.
Hoje, o clube de fidelização responde por mais de 60% da receita da empresa.
São três frentes: clubes de acesso aos parques, clubes de hospitalidade baseados em pontos, e os modelos premium como o InCasa, voltado ao público de alta renda.
“Nosso programa começou com famílias que queriam repetir a experiência, e evoluiu para algo muito maior. Hoje temos clientes com contratos de até 25 anos, usando resorts e parques de forma contínua”, diz Cunha.
Só o Hot Park, em Goiás, recebeu 2 milhões de visitantes em 2024, e já é considerado um dos parques aquáticos mais visitados do mundo.
O modelo de pontos permite que os clientes escolham como e quando usar sua hospedagem, com flexibilidade para acumular, antecipar ou até negociar os pontos com outros membros.
“É uma jornada escalável: o cliente começa com o clube do parque, depois vai para a hospitalidade e, em muitos casos, acaba chegando nos produtos premium, como o InCasa”, explica.
O plano de expansão da Aviva passa por uma de suas maiores apostas até hoje: o Hot Park Costa do Sauípe, um novo parque aquático na Bahia, com investimento de 420 milhões de reais.
Será o primeiro parque aquático de grande porte no estado, com 100 mil metros quadrados, tecnologia contactless e uma narrativa ambiental desenvolvida em parceria com o Projeto Tamar.
A nova unidade deve receber 1,2 milhão de visitantes por ano, gerar 3.500 empregos diretos e indiretos e consolidar a marca Hot Park como um negócio separado, com identidade própria.
“A marca Hot Park sempre foi vista como uma extensão do Rio Quente. Agora ela tem vida própria, e vai ganhar escala nacional”, diz o CEO.
Além do parque, a Aviva está investindo em uma central de produção e distribuição de alimentos em Sauípe, inspirada no modelo já testado em Rio Quente. A ideia é centralizar a produção, reduzir desperdícios e aumentar a eficiência — inclusive nos períodos de alta ocupação.
A renovação da hotelaria também está em curso.
Em Sauípe, o hotel Sol foi elevado à categoria Grand Premium, e as alas Mar e Terra passam por retrofit com previsão de entrega entre 2025 e 2028. Em Rio Quente, os hotéis Turismo e Pousada também estão sendo atualizados em etapas, devido à alta ocupação anual.
Do total de 1,2 bilhão de reais previstos em investimentos até 2028, 700 milhões estão concentrados na Bahia, incluindo a construção do parque e as renovações de infraestrutura. A meta, segundo o CEO, é consolidar a Aviva como uma das maiores plataformas de entretenimento, hospitalidade e fidelização do Brasil — e competir em um novo patamar.