Negócios

Esta mulher já motivou muitos processos judiciais. Agora, ajuda os outros a não parar na Justiça

A DeltaAI promete reduzir em até 25% os custos de empresas com litígios. A legaltech aposta em tecnologia para prever e evitar ações judiciais

Patrícia Carvalho, CEO da DeltaAI: O produto já funciona, mas queremos evoluir com cada novo cliente" (Gabriel Reis /Divulgação)

Patrícia Carvalho, CEO da DeltaAI: O produto já funciona, mas queremos evoluir com cada novo cliente" (Gabriel Reis /Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 8 de março de 2025 às 08h43.

O Brasil tem quase 84 milhões de processos judiciais em tramitação. Só no ano passado, foram 35 milhões de novas ações. Empresas gastam, em média, 157 bilhões de reais por ano com litígios.

Mais da metade dessas disputas vem de consumidores insatisfeitos. A brasiliense Patrícia Carvalho, CEO da DeltaAI, viu nisso uma oportunidade.

“Eu mesma já estive do outro lado. Como executiva de marketing, queria atrair mais clientes, criar promoções, fazer campanhas. Mas nem sempre o jurídico acompanhava. O resultado? Processos”, diz Patrícia.

Depois de anos ajudando empresas como Uber e CargoX a crescerem no Brasil, decidiu que era hora de mudar de lado, e empreender. Criou a DeltaAI, uma plataforma que mapeia possíveis processos em empresas e avisa-as antes de tomarem o processo em si. Tudo com ajuda de inteligência artificial.

A plataforma começou a ser testada no final do ano passado e deve faturar 1,5 milhão de reais em seu primeiro ano de funcionamento.

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Qual é a história da empreendedora

Patrícia começou a carreira lançando operações no Brasil. Fez parte do time que trouxe a Uber para o país em 2015. Depois, passou por empresas como CargoX, Twitter e Bitso. Em todas, seu trabalho era um só: ensinar o consumidor a usar novas tecnologias.

Na CargoX, ajudava caminhoneiros a encontrar fretes pelo celular. “A gente ia para os postos de gasolina explicar como negociar um frete sozinho, sem intermediário”, afirma. Na Bitso, traduziu o universo das criptomoedas para o brasileiro médio.

Foi nesse caminho que surgiu a Forum Hub, primeira plataforma automatizada de serviços jurídicos do Brasil. A ideia era conectar consumidores e advogados para resolver disputas. Mas o projeto teve um efeito colateral.

“A gente aumentou a fila do juizado. Estávamos ajudando as pessoas a processarem empresas, mas os tribunais já estavam sobrecarregados. Decidi levar essa inteligência para as empresas e evitar que os processos acontecessem”, afirma.

Assim nasceu a DeltaAI.

Como a empresa cresceu

A DeltaAI começou com um MVP (produto mínimo viável) em outubro de 2024. O primeiro teste foi com uma grande varejista.

“A gente adiciona poucas empresas por mês. O produto já funciona, mas queremos evoluir com cada novo cliente”, afirma Patrícia.

A legaltech atua em um nicho de alto custo. Setores como bancos, telecomunicações e varejo estão entre os maiores litigantes do Brasil. Reduzir disputas significa economia milionária.

“Nosso modelo prevê risco de processos com 47% de acurácia. O objetivo é melhorar esse índice nos próximos 12 meses”, diz a CEO.

O que faz a empresa hoje

A DeltaAI usa inteligência artificial para identificar problemas antes que virem ações judiciais. Funciona assim:

  1. Análise de processos antigos – O sistema lê milhares de ações passadas e mapeia padrões. Quais são os problemas mais comuns? Quanto tempo duram os processos? Qual o custo médio?
  2. Monitoramento de atendimentos – A IA acompanha chats e ligações de SAC. Se um cliente insatisfeito entra em contato, a ferramenta identifica sinais de frustração.
  3. Dashboard preditivo – O time jurídico da empresa recebe alertas. Quem são os clientes com maior chance de processar? Qual área tem mais reclamações? Quais produtos geram mais insatisfação?

“Se um passageiro tem um voo cancelado e liga irritado para o atendimento, nossa IA consegue prever se ele pode entrar na justiça. O jurídico pode agir antes e resolver o problema”, explica Patrícia.

O modelo de negócios é baseado em assinatura. Empresas pagam uma mensalidade a partir de 2.500 reais, que varia conforme o volume de dados analisados e quantidade de usuários utilizando o sistema.

Quais são os próximos passos

A startup quer ampliar a carteira de clientes. O foco inicial são grandes empresas que lidam diretamente com o consumidor. Bancos, varejistas, e-commerces e operadoras de telecom são o principal alvo.

Outro desafio é comprovar o impacto da ferramenta.

“Nosso objetivo é fechar 2025 com um case sólido. Queremos mostrar que conseguimos reduzir processos e economizar milhões para as empresas”, afirma Patrícia.

Os desafios do empreendedorismo feminino

Patrícia conhece bem o ambiente das startups. Mas percebeu que, como fundadora, o jogo é diferente.

“Nos eventos de tecnologia, 90% dos empreendedores são homens. O networking acontece entre eles. Se você não faz parte desse círculo, fica difícil conseguir investimento”, diz.

Para mudar esse cenário, criou a SheMakes, uma comunidade de mulheres fundadoras de startups. A rede já tem quase 200 empreendedoras.

“Ali, podemos falar dos desafios sem medo. Quando uma mulher entra em um evento com investidores, precisa mostrar confiança. Mas onde ela pode falar das dificuldades? É isso que criamos”, explica.

A questão do acesso a capital também preocupa. “No Brasil, não conseguimos nomear 10 mulheres fundadoras que chegaram a uma Série B de investimento. É um problema estrutural”, afirma.

Além da barreira do investimento, Patrícia viveu outro desafio recente: a maternidade. “Meu filho tem um ano. Ser mãe e empreender é raro nesse mercado. Mas estou aqui para provar que dá para fazer os dois.”

A DeltaAI está no começo da trajetória, mas Patrícia já aprendeu uma lição: prever riscos não é só sobre tecnologia.

“Se eu não tivesse sido a ‘causadora de processos’ no passado, não teria criado essa solução. Hoje, o jogo virou”, brinca.


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