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Estante Virtual aposta em loja física, eventos e Black Friday de livro usado

Com novo head, André Palme, operação do Magalu para o mercado literário quer crescer em novos canais para estimular hábito de leitura

Estante Virtual: pioneiro na venda online de livros usados completa 20 anos em 2025 (Jovan_epn/Getty Images)

Estante Virtual: pioneiro na venda online de livros usados completa 20 anos em 2025 (Jovan_epn/Getty Images)

Karla Dunder
Karla Dunder

Freelancer

Publicado em 27 de novembro de 2025 às 11h28.

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O mercado de livros chega à Black Friday pressionado por custos logísticos, concorrência entre marketplaces e uma disputa cada vez maior pela atenção do leitor.

A Estante Virtual (EV), que completa 20 anos em 2025, entra na temporada com um movimento incomum no setor: o lançamento do seu primeiro aplicativo para smartphones, pensado para reforçar a compra de livros usados e novos e ampliar o alcance de seus 3.500 livreiros parceiros.

O aplicativo — disponível para Android e iOS — já acumula mais de 6 mil downloads em poucas semanas, sem campanha de marketing.

“A primeira divulgação aconteceu exatamente hoje (quarta-feira, dia 19)”, afirma André Palme, novo head da companhia.

Palme tem vasta carreira em negócios ligados ao livro, tendo já trabalhando no app de livros digitais Skeelo, no portal PublishNews e atuado em comitê da Câmara Brasileira do Livro.

O lançamento também marca a primeira Black Friday da empresa com o app ativo.

A história ganha relevância porque o app é peça central da nova estratégia da EV após a chegada de Palme, que assume com a missão de modernizar processos, recuperar ritmo de crescimento e reaproximar a marca do leitor.

“Chegamos em 2025 como uma marca muito consolidada, com um diferencial enorme em relação a qualquer outro vendedor online de livros: trabalhamos muito com livros usados, mas também com os novos”, diz.

No futuro, a empresa aposta em uma expansão multicanal que passa pelo site reformulado, nova loja física dentro da Galeria Magalu no Conjunto Nacional, em São Paulo, e um roteiro de eventos literários para 2026.

André Palme, da Estante Virtual: “Eu nasci livro antes de nascer gente”, brinca, ao contar que sua mãe publicou um livro infantil quando estava grávida dele (Divulgação/Divulgação)

Marketplace de 20 anos

A Estante Virtual nasceu em 2005 com uma proposta que, na época, parecia improvável: digitalizar o acervo de sebos e pequenas livrarias.

“Parecia um viajante do tempo”, diz Palme ao lembrar da criação do site por André Garcia, fundador da EV.

Hoje, a plataforma reúne 22 milhões de livros, entre novos, usados e raros, distribuídos por 3.500 livreiros ativos.

A variedade inclui desde best-sellers recentes, como Segredo Final de Dan Brown, até edições esgotadas e autografadas.

“Outro dia fui almoçar com um livreiro que tinha um livro do Mário Vargas Llosa assinado pelo autor”, afirma.

Com esse acervo, a empresa se consolidou como referência para estudantes, colecionadores e leitores de nicho.

“Alguém me contou que ouviu de um médico: ‘Eu só me formei por causa da Estante Virtual’”, diz.

A migração de plataforma em 2024 — de um sistema com quase 20 anos — foi a virada mais sensível do período recente.

“Imagina para a tecnologia o que é uma plataforma de 19 anos”, afirma. O processo impactou operação, catálogo e experiência de compra, e 2025 foi dedicado à estabilização.

Por que contar essa história

O lançamento do app marca a nova fase da estratégia. Mesmo sem divulgação, a procura surpreendeu. “É um reflexo do peso dessa marca”, diz Palme.

A companhia cresce dois dígitos em 2025 e registrou o maior janeiro da história, impulsionado pela volta às aulas — uma sazonalidade crítica para quem vende livros usados.

“A gente brinca que essa é a nossa segunda Black Friday”, afirma.

Além disso, a Estante Virtual prepara sua estreia como organizadora de evento próprio: o FLEV, Festival Literário da Estante Virtual, nos dias 6 e 7 de dezembro no MAM, no Rio.

“Será o nosso primeiro evento proprietário. Estamos bem felizes com isso.”

O que vem pela frente em 2026

A agenda de 2026 mira três frentes: loja física, comunidade e presença em eventos.

A loja dentro da Galeria Magalu será ponto de encontro, com lançamentos, clubes do livro e ativações com editoras.

“Temos vários eventos já agendados. Queremos transformar o espaço em um centro de encontros.”

A EV também quer ampliar os clubes do livro presenciais em sebos. “Como juntamos o online com essa comunidade para levar essa galera para dentro de um sebo?”, diz.

Os primeiros encontros no Recife e em Curitiba já foram realizados com influenciadores.

Na rota de eventos, a empresa confirma presença na Bienal de São Paulo, na Bienal da Bahia e mantém a Casa da Estante Virtual na Flip.

Projetos sociais continuam no radar: expansão do Adote uma Biblioteca, doações via lojas do Magalu no Rio e parceria com o Favelivros — que já opera 57 bibliotecas comunitárias.

“O grupo Magalu fez uma doação de mil livros recente. A partir de dezembro, as lojas viram pontos de coleta.”

A EV também reforça sua atuação como curadora de conteúdo, com a newsletter diária Índice, que já tem quase 3 mil assinantes. “Faltava esse espaço dedicado a notícias do livro.”

'Nasci livro antes de ser gente'

Com mais de 20 anos de carreira, sendo 13 no mercado editorial, Palme construiu trajetória em projetos que conectam conteúdo, tecnologia e inovação.

Trabalhou em editoras, criou o primeiro hub de influenciadores literários no Brasil, produziu a versão em português dos audiobooks de Harry Potter, comandou a operação brasileira da Storytel e foi diretor de marketing e conteúdo do Skeelo.

“Eu nasci livro antes de nascer gente”, brinca, ao contar que sua mãe publicou um livro infantil quando estava grávida dele.

A partir de experiências que vão de garçom a consultor global de áudio, ele se tornou uma das vozes mais influentes na digitalização do ecossistema do livro.

A expansão da Estante Virtual

Loja Física no Conjunto Nacional

A estreia da loja marca o retorno de um ponto histórico do livro em São Paulo, no mesmo imóvel onde funcionou a Livraria Cultura.

O espaço terá livros novos e usados. “Temos uma responsabilidade enorme de honrar esse lugar.”

App como central da experiência

Para 2026, o plano é integrar novas funcionalidades além da compra: clubes de leitura, interação entre leitores e ferramentas de descoberta.

O risco da mudança de comportamento do consumidor

A EV enfrenta um desafio conhecido no mercado editorial: a queda do hábito de leitura contínua.

O movimento dos booktokers é uma chance de reverter o cenário, mas ainda depende de engajamento fora das redes. “A leitura deixou de ser uma atividade solitária”, diz Palme.

Multicanalidade como estratégia de crescimento

Com site, app e loja física, a empresa segue o DNA do Magalu. “É uma expansão de possibilidades, uma expansão de vitrines.”

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